domingo, 15 de maio de 2016

FACILMENTE PODERIA AGRADAR A TODOS





"O pensador é antes de
tudo dinamite, um
aterrorizante explosivo
que põe em perigo o
mundo inteiro"



Nietzsche


Lembrei-me de Giordano Bruno. É curioso. Esse homem importantíssimo numa perspectiva da autonomia da ciência, levou longe demais os poderes instituídos ao ousar colocar em causa de um modo franco e claro o que pensava do mundo. Pecou, foi longe demais, foi temerário ou louco? Depois de uns poucos de anos encerrado nas masmorras da Inquisição acabou por ser condenado à fogueira.

A Igreja retratou-se. Reconheceu que andou mal, que não detinha como então pensavam, um conhecimento inquestionável sobre os homens, a terra e os corpos celestes que compunham o infinito. E que por isso, por não ter tido a capacidade de questionar, de olhar mais longe, de imparcialmente analisar os problemas que se sucediam cada vez mais, através de homens que abanavam os alicerces da sabedoria que vinha de Platão, através de textos mais tarde escritos por S. Tomás de Aquino, por isso, dizia, muitos tiveram de desdizer-se, descredibilizar-se na praça pública, ou publicar por receio suas obras primas na hora da morte, ou acabarem privados da sua liberdade, torturados e condenados a mortes horríveis.

Lembrei-me de Bruno. Ele levou quase toda uma vida no fio da navalha, fugindo de países, de cidades, sobre a protecção de um hoje, de outro amanhã. Um dia foi imprudente. E a Igreja não perdoou. Um mártir da ciência, E lembrei-me de Bruno por ele ter tido uma vida de desafio. De ousar. Vou transcrever umas frases suas que ele esccreveu numa carta que endereçou;

"Para o ilustríssimo SENHOR MICHEL DE CASTELNAU

Se eu, ilustríssimo Cavaleiro, manejasse o arado, apascentasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendasse um fato, ninguém faria caso de mim, raros me observariam, poucos me censurariam, e facilmente poderia agradar a todos. Mas, por eu ser delineador do campo da natureza, atento ao alimento da alma, ansioso da cultura do espírito e estudioso da actividade do intelecto, eis que me ameaça quem se sente visado, me assalta quem se vê observado, me morde quem é atingido, me devora quem se sente descoberto. E não é só um, não são poucos, são muitos, são quase todos.
(...)"



Giordano Bruno, 1548/1600, Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos, 1584





Influenciado pelo grande filósofo Aristóteles admito que fui enganado, sou enganado e provavelmente ainda serei muitas vezes enganado na minha vida. Mas, no que respeita este engano feito maldosamente, com rancor e espírito de vingança - adorava saber o que fiz - também acredito que vou a tanto lado, contacto tanta gente, vou à comunicação social, posso fazer greve da fome à porta da USP de Portalegre, ultrapassar as fronteiras do país se necessário, vou encontrar alguém que vai justamente se interessar pelo caso. Haverá uma auditoria independente, e se for ressarcido por danos sofridos não usarei em meu proveito esse dinheiro. Irá para quem mais precise. Como Bruno, e lendo Aristóteles e aconselhado por Nietszche também não temo a fogueira. Quem sabe?





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