domingo, 1 de maio de 2016

DELÍUNS, DE LIRIUNS, DELIRI UNS, UNS DEL

Sonhos e esperanças...

vou sempre repelir... estou louco




As únicas pessoas que me agradam são as que estão loucas: loucas por viver, loucas por falar, loucas por salvarem-se.

Kerouac , Jack




Se fosse um deus qualquer existente no Olimpo ou num Jardim Sagrado, declarava guerra aos sonhos e à esperança. Esses dois campos dependentes do denominado delírio declarado e assumido, apenas encontram uma razão única para existirem e fazerem parte do ser humano. Esses nefastos factos que os humanos vivenciam no seu quotidiano foram criados por poderosos seres malignos com a única finalidade de os subjugarem por um lado, tornando-os escravos, sem que disso tenham consciência, e de os ludibriarem, escondendo a maldade, o terror, o pânico sob um manto de um futuro sempre melhor.

O homem ao sonhar fica embriagado e a sua racionalidade desaparece. Fica enfeitiçado e ri, canta e baila, e observa maravilhas, e satisfaz desejos, se alimenta dos melhores manjares. E tudo o que tem como belo se lhe é oferecido em sonhos onde nada falta. Só o sentido do real.

A esperança é um malvado elixir que vendo a realidade, o que existe, os tormentos, os cataclismos, as desgraças, as doenças, a morte, o sofrimento, a traição, a derrota, as envolve num manto fatídico, que deixa ver por detrás precisamente o contrário do conteúdo oculto, os tormentos deixam de existir, os cataclismo deram lugar à bonança, as desgraças metamorfearam-se em festejos, as doenças passam na mostra de curas inimagináveis, o terror gera serenidade e a morte deixa de ser vista no perímetro montada no seu cavalo apocalíptico, a traição revela-se num abraço forte e a derrota transforma-se num desfile harmonioso, ao son de trompetas, e aclamações do povo.

São o sonho e a esperança que asseguram a vida humana. Pelo que a maldade pode, deste modo, condicionar e dominar os humanos. E o mal, seja Satanás ou Belzebu, ou o anti- Cristo, pavoneiam-se enquanto o homem adora se entregar, assim fácil, feliz, adorando sonhar, e mantendo sempre viva a esperança.

Tive um sonho, acordei como que anestesiado, esfreguei os olhos e sentei-me no leito - tudo o que sonhara parecia um encantamento e a vida num ápice mostrou-se deliciosa, suave, sem fealdade, sem transgressões ou violências, eu aparecia forte, feliz, construíndo algo alto que parecia querer chegar às nuvens. Alto, aqui há coisa, pensei de imediato. Gato escaldado... 

Ora eu que estou a passar por um dos piores momentos da minha vida, atacado por gente sem escrúpulos, condenado a uma solidão incompreensível, me sentindo marginalizado, afastado, condenado a castigo, acossado por câes impiedosos que mordem em tudo e de todo o modo, sem nunca se saciarem, não posso crer no que sonhei, nem na esperança, felizmente curta, de que tudo iria mudar num breve toque de mágica.

Ali havia mão do diabo, não tenho a menor dúvida. O maligno tomara de posse pessoas na terra que seguiam as suas orientações e me tentavam fulminar. Já tinha lido que por vontade dos "pedrestres" se faziam acordos com o diabo em troca de cinco réis furados. Os movimentos malinos tentavam me tomar de assalto em duas frentes. Por um lado anestesiaram-me com a assimilação de coisas boas, maravilhosas e que eu desejava enquanto nas sombras, na terra, seres do mal, que desconheço, me mordem as canelas, me lançam pedras, me jogam maus olhados.

Admito que se fosse um humano normal a esta hora já estava destruído, para delicia de terrenos diabólicos que me tinham levado de vencida, e vitória do mal no Anjo Negro que incarna o terror e é o inimigo do bem e de Deus.

Acontece que aprendi a lutar com forças mais poderosas que eu - nunca lutei nem quero com forças menores, não sou enxota moscas - e apesar de já ter perdido uma guerra que me marcará até à minha morte, mas não pude resistir a tanta força unida contra mim, ainda espero, se acaso tiver um momento de oportunidade favorável, ajustar essas contas, - assim, tenho como nas veias um sangue venenoso que muitos chacais não podem provar, uma carne dura que resiste a dentadas de jacaré, e ganhei na loucura a capacidade de estar louco por salvar-me, estar louco por ferrar quem me molesta, trucidar que me barra o caminho, estou louco por viver.

O diabo que se cuide, não papo os sonhos que me quer impigir nem levo a esperança me orientando o caminho, trabalho com o delírio que é uma arma tão imponente como eficaz dada pelas forças do bem, e com Deus, vou resistir e levar de vencida toda essa sujeira orquestrada por tanto mal.

Cuide-se o diabo, que ainda lhe espeto um delírium pelos cornos abaixo e o faço girar no ar, girando a sua cauda de besta sacrílega. Cuide-se.

"O pensador é antes de
tudo dinamite, um
aterrorizante explosivo
que põe em perigo o
mundo inteiro"



Nietzsche

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