domingo, 28 de maio de 2023

DIZIA EÇA EM 1871



Eça em 1871, escrevia que o executivo “não governa, não tem ideias, não tem sistema; nada reforma, nada estabelece; está ali, é o que basta”.

Naquele tempo Portugal parecia um pobre e triste país. Os governos mantinham-se pouco tempo, os partidos ambos de uma incompetência exasperante alternavam sem que se pudesse vislumbrar progresso ou ordem. Essa descontrolada incapacidade de governar um país, de cuidar de um povo parece ter deixado profundas raízes, e bem fundas.

Naquele tempo um golpe de estado trouxe a ditadura, e a mal ou a bem algumas coisas se fizeram depois. Mas o povo vivia na maior pobreza, e aos cofres com ouro respondia Salazar com a imposição cristã e bondosa de todos terem calçado. 

Hoje parece estar para aí a espreitar um chega, chega, com o governo cheio de dinheiro da arrecadação dos nossos impostos (nunca tantos e tão elevados) e o mesmo povo a leste da milagrosa economia. O governo de hoje tem ideias? Para a saúde? Para a educação? Para a justiça? Para as forças armadas e polícias? Para os reformados e pensionistas? Para os médicos e professores? Para a falta de tanto?












 

domingo, 21 de maio de 2023

UMA REPÚBLICA DE GAROTOS (ANTÓNIO BARRETO)

 

Podemos ter a certeza: neste caso da TAP, dos respectivos antecedentes e das devidas sequelas, há, entre os seus intervenientes, um ou vários malfeitores. O problema consiste em saber se são todos ou só alguns.


Podemos ter outra certeza: há, neste processo, um ou vários mentirosos. Falta saber se são todos ou só alguns.


É ainda certo que há alguém a preparar um roubo, a cometer uma fraude, a obter algo indevidamente, a tentar assassinar politicamente alguém, a liquidar um adversário e a destruir quem sabe segredos. Só não sabemos se é só um, se são vários ou se são todos os intervenientes.


Sabemos também que estão envolvidos titulares de cargos políticos, altos funcionários do Estado e altíssimos responsáveis da Administração Pública, universo este que pode incluir um primeiro-ministro, vários ministros e ex-ministros, diversos secretários de Estado e ex-secretários de Estado, chefes de gabinete, adjuntos, assessores, auditores jurídicos e administradores de empresas públicas. Uma vez mais, não sabemos se todos ou só alguns têm culpas e responsabilidades.


É seguro que algo está em causa, mais importante do que um computador, dois socos, três bofetadas e uma ameaça de agressão. Num ministério como este, das Infra-Estruturas, é difícil encontrar documentos confidenciais muito sérios. Também num país como o nosso, não é crível haver segredos de Estado vitais, ainda por cima gravados no computador de um adjunto! Muito dinheiro, muitos interesses, enormes favores e imensas negociações: eis o que pode estar em causa.


Temos diante de nós a coreografia ou o cenário perfeito da mentira: do mesmo acontecimento, dos mesmos factos, com os mesmos protagonistas, existem pelo menos duas versões contraditórias, dois elencos factuais diferentes e opostos e evidentemente dois perpetradores.


Um bando em funções de Estado, instituições supostamente respeitáveis, departamentos governamentais com responsabilidades, deputados eleitos e representantes directos dos cidadãos, empresas públicas, escritórios de advogados famosos, salteadores de capitais internacionais, funcionários de Estado obrigados a limpar as estrebarias e empresas internacionais de consultadoria estão atarefados à volta de um ministério. Este, por sua vez, ocupa-se de tudo quanto é importante na economia futura do país: aviões, aeroportos, comboios, caminho-de-ferro, portos fluviais e marítimos, grandes pontes, energia, rede eléctrica nacional, barragens e centrais térmicas e mais, tanto mais, em duas palavras, quase tudo, nas mãos de um ministro… É isso que está em causa! São decisões de muitos milhares de milhões! São os marcos da economia futura do país. É o maior investimento de que há memória e de que haverá crónica no futuro! É isso que está em causa, não é um computador, um telemóvel, uma ameaça contra quatro mulheres, um murro de um homem, uma grosseria de um ministro, um engano de um telefonema…


Já se percebeu que houve mentira, traição, ciúme, engano, ameaça, violência e abuso. Mas porquê? O que estava em causa realmente? Dinheiro? Interesses estrangeiros? A companhia de aviação? O aeroporto? O lítio? Os comboios e o TGV? A rede eléctrica nacional? As “renováveis”? Uma coisa parece certa: para que os intervenientes se tenham deixado enredar em cenas ridículas próprias de telenovela, é necessário estarem de acordo sobre um ponto: o silêncio sobre o essencial. Fica-nos a certeza de que este silêncio e a zanga têm origem num passado de cumplicidade.


Ao longo deste processo, pelo que se sabe, alguns ou todos se portaram mal, abusaram de poder e de funções, mentiram, esconderam, ameaçaram, agrediram, roubaram, destruíram, quebraram, negaram, tentaram liquidar, apagaram documentos, “limparam” telemóveis e computadores, sonegaram provas, esconderam fontes e acusaram falsamente outras pessoas. Todos? Só alguns? Quem?


Raramente, nestas décadas que levamos de democracia, se atingiu um ponto tão baixo de miséria moral, de atentado político, de vilania, de imoralidade e de sem vergonha! Há gente que, por bem menos, reside actualmente na penitenciária, em Custóias ou em Pêro Pinheiro. Raramente como agora a justiça portuguesa esteve tanto em causa. Raramente como agora o Estado de direito esteve tão ameaçado.


Na máfia, nos gangs de Nova Iorque, entre oligarcas de Moscovo, nas redes de tráfico de droga, no mercado do sexo e de trabalhadores clandestinos, nos serviços de imigrantes, no comércio de armamento, nos arranha-céus de magnates do petróleo ou nos resorts dos bilionários dos metais raros, há procedimentos parecidos com aqueles que se adivinham neste processo. Com a diferença de montantes e de pessoas envolvidas, com certeza. Mas com uma similitude moral indiscutível.


Parece a República dos Garotos. Pelo que se julgam superiores e infalíveis. Pela superioridade moral de que crêem usufruir. Pela inteligência sistémica com que tratam as estratégias de longo prazo e nada entendem da vida real. Pelo desprezo com que avaliam os outros, a opinião pública e os eleitores. Pelo modo como substituem as regras e as leis pelos seus gestos, os seus gostos e os seus valores. Pelo seu carácter atrabiliário e pela irascibilidade adolescente. Pela palavra gratuita, pela moral que muda, pela crueldade constante, pelo cinismo indisfarçável e pela hipocrisia como hábito e regra: por estes e outros atributos, estas pessoas, algumas destas pessoas, muitas destas pessoas não deveriam ter acesso a postos de comando, nem ter a capacidade de influenciar a vida de outros. Estamos perante pessoas que só têm regras claras e precisas: eles próprios, os seus amigos, os seus partidos, as suas famílias, as suas empresas e as suas auréolas de glória narcisista que designam por interesse público. Estes Garotos divertem-se com o mal dos outros, brincam e desprezam os inferiores e os menos dotados, odeiam e perseguem os superiores e mais capazes. E têm enorme consideração por si próprios.


Como é possível que alguns ministros capazes, alguns governantes decentes, alguns altos funcionários competentes, alguns deputados honestos e alguns profissionais honrados se deixem enlamear por estes Garotos? Nunca se perceberá a razão pela qual académicos probos, professores dedicados, engenheiros competentes, autarcas responsáveis, sindicalistas empenhados, intelectuais com sentido moral da vida e políticos ciosos do bem comum se deixam envolver nesta história a todos os títulos tão sórdida.


Pela actualidade e pertinência, porque esse estudioso que é António Barreto expõe admiravelmente muitos pontos de vista que gostaria de saber expressar mas que, naturalmente, por não me assistir a sua sabedoria nem a sua competência, me limito a subscrever e transportar para aqui, neste meu lugar de reflexões, dúvidas, alegrias e descontentamentos, o seu admirável texto que saiu no Jornal Público de dia 20 de Maio de 2023, Opinião, com o título "Uma república de Garotos".

Recordo uma nota num jornal inglês do séc. XIX sobre este nosso apequenado e triste mundo: "Portugal está como a Turquia é impossível introduzir-lhe civilização". Dois séculos depois parecemos barbaramente desprovidos de civilização e vivemos num país aos tombos, sem rumo, sem futuro.

sábado, 20 de maio de 2023

PORTUGAL: A INVEJA DA EUROPA

 





Hoje, não temos um grande grupo empresarial português, salvo na distribuição; nem um grande Banco ou uma grande Indústria; mas, isso, que importa se, num país sem educação nem saúde, vamos, de conquista em conquista, cumprindo Abril? Como? Introduzindo na legislação a ideologia de género e a eutanásia. Dizem-nos que estamos na senda do progresso e repetem-nos as palavras do queirosiano conde de Ribamar:

“Vejam toda esta paz, esta prosperidade, este contentamento… Meus senhores, não admira realmente que sejamos a inveja da Europa!”

in Maio em Lisboa - 55 anos depois, Jaime Nogueira Pinto

Observador

MENSAGEM DO DEUS DE ESPINOSA

 




 ESPINOSA E A MENSAGEM DE DEUS 



“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade
fosse algo mau.
O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo
o que te fizeram crer.


Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,
no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!
Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos,
de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar
a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?


Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar,
que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida,
que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.


Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.
Ninguém leva um registro.
Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada,
terás aproveitado da oportunidade que te dei.
E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste,
se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?


Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias
teu cachorro, quando tomas banho no mar.


Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.


Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui,
que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?
Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti."






quinta-feira, 11 de maio de 2023

OS SUJEITOS NORMAIS

 

Foram os sujeitos normais que destruíram o planeta onde deveriam viver segura e tranquilamente e andam a fomentar guerras, e jogos de poder e vaidades. Nenhum dos problemas dos seres humanos foram resolvidos em vários milénios. Continuamos com a pobreza, a fome, as doenças, as desigualdades absurdas entre homens, estados e zonas do globo e deitamos fora quantias astronómicas em material para alimentar guerras sem fim. Os homens normais são destrutivos. A terra está em agonia e as consequências das alterações climáticas são realidades que nos mostram como nos precipitamos para o fim. A normalidade corre de mão dada com a irracionalidade.

Todos aqueles que em algum momento ousaram contrariar o decurso normal e destrutivo do mundo tornaram-se perigosos agitadores, gente irresponsável e revolucionários cheios de complexos.

E tão perniciosos como os normais que foram empurrando o mundo para o abismo foram os "inteligentes" que souberam tirar dividendos de tantos irracionais, bem como aqueles que perante a tragédia eminente preferiram calar.

Nas ditaduras semeadas um pouco por todo o lado do nosso planeta, uns empurraram milhões para este beco sem saída. Não havia escolha, não havia liberdade. E onde estas maravilhosas prerrogativas poderiam determinar desfechos opostos, foram os cidadãos livres, conscientemente ou não, a escolher entre eles quem os havia de guiar livremente para a destruição do mundo.

Olhamos o mundo e a vida e parece que tudo corre do jeito que deve ser. Continuamos sábios, inteligentes, responsáveis, dignos e bons cidadãos assistindo sentados ao caos que se perfila cada dia mais intenso e mais irreversível a nosso olhos.

Com normalidade, nós os normais continuamos a viver.