sábado, 29 de agosto de 2009

Espera una idea nueva... (upsssssss...)





Não existe nada pior que querer fazer algo mas não encontrar nem talento nem forças para criar. O talento já por si não acorre em abundancia, as forças muitas vezes não resitindo às intempéries dos nossos tempos soçobram, quedam-se, sem energia, sem genica, amorfas, à espera de melhores dias.
Atrás da falta de uma ideia, de um sopro com algo interessante, e querendo a todo o custo tornar cativante um dos meus blogues, lembrei-me - o que já aconteceu numa ou outra situação - de colocar algumas fotos novas, dando, a algum visitante regular, a ideia, não totalmente verdade, de novidade, de mais alguma nova coisita para ver.
Desgraçadamente, já o diz a sabedoria do povo, um mal nunca vem só, e querendo fazer sem ovos uma cativante omoleta, logo fui entornar os ditos no blogue do lado, deixando os eventuais visitantes do meu blogue Latino, sem nada de novo para ver, e abrindo um precedente de cujas consequências não estou em condições de adivinhar agora, colocando estas imagens, num espaço meu que queria apresentar tão sábio e sério, que deveria ter, no mínimo, o que se entende aqui onde se espreita o saber e o conhecimento luso e se vê, pois claro, um descolorido de época quaresmal, sem brilho, nem cor, nem, quase, coisa nenhuma.
Tirar as fotografias além da trabalheira, apresenta riscos sérios, pois nisto dos blogues, que pode não parecer, mas apresenta alguma complexidade técnica, muitas vezes, não fora a disponibilidade da minha filha mais nova, ficava completamente às aranhas, não sendo capaz de muito mais, que uma desistencia assumida e um desligar despeitado do sistema informático.
Assim, assumo perante os milhares de leitores que me visitam aos encontrões - já se sabe que não é fácil tanta gente a fazer a mesma coisa em simultâneo - que as imagens dessa praia imensa no sul de Portugal, fazem parte da peça, intelectualmente preparada, e que com esmero detenho em mãos, de explicar que o país parou, mesmo que não pareça em face dos costumeiros resultados de outras épocas, para banhos. Melhor dito, depois da intensidade de onze meses a não fazer - obrigado aos que estiveram calmos todo um ano - de alguns, a que se juntou a trabalheira de outros, que se crê, serem quase raros, chegaram as merecidas férias. E o povo, farnel às costas, rumou às praias do sul, botando figura, e escurecendo ao sol.
A classe política por uma falta de imaginação assustadora ainda se junta democratimente com o populu minuto, e assim, quando necessário, aparece na televisão, com o mesmo ar alegrote das massas, enegrecidos de horas e horas a estragar a moleirinha já de si de uma pobreza fransciscana, que os negros recomendam-se e estão, diz-se por aí, na moda.
Tudo se banha, tudo se torra, entre um pratinho de caracóis na casa de pasto do José do Touro Mansinho, e uma imperial cheia de espuma. Isto é que é vida pensa mais de meio país, procurando à conta de um psicológico embuste, enganar-se a si, e afinal aos demais, esquecendo, ou fingindo esquecer que mais uma crise parece querer ir, o que determinará a emergência de se inventar uma nova, que o trabalho, ou a caminhada de arrasto para o emprego não deixará de vir também, que a malfadada gripe não dá acordo, não se percebendo se é ou não para ter em conta, se é mais uma patranha para trazer entretidos os populares, esquecendo por fim toda essa eterna cruz que arrastamos à séculos, de atrairmos - parece sina - a pior gentalha para a política, que nos dão cabo da vida e do país, enquanto lhes damos a mesma importancia que na praça de touros ou num campo de bola, atribuímos aos protagonistas, assobios e palavrões, choros e gritos, ameaças e protestos, beijos e abraços.
Que ganda povo...
Lá longe, fala-se, parece que vai haver eleições. Será? Hummmmmmm, quem quer saber, agora estamos de férias, está calor, toda a gente se parece cada vez mais com o Obama, é bem melhor dar mais um mergulhito e olhar para a vizinha do toldo do lado, na água agora, mais tarde logo se vê.
Para quê pensar em desgraças... para pior está bem assim, e lá irá meia dúzia votar, outros temendo o contágio da gripe nos boletins de voto, que á afinal a pior gripe que existe,a eleitoral, não sairão à rua. Para quê?






quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Desgovernos e promiscuidades...

Atendendo à confusão que sempre reina em embarcações à deriva, e à inegável parecença entre este pobre país e um qualquer navio perdido sem rumo e a meter água, não posso deixar de parar um pouco para tentar reflectir sobre o que se me afigura neste desatino que sempre conheci pouco mais ou menos assim, de um povo, tal como a tripulação da nave em perigo, à beira de uma catástrofe.

Não parece haver qualquer mando claro neste desordenado e desmotivado exército que recusa enfrentar qualquer inimigo ou a bater-se em monótona batalha, por todas e quaisquer razões, onde é bem visível a falta de qualquer ânimo, onde de pequeno se aprende, como a olhar ou a falar, tudo simples e fácil, a encolher os ombros, a deixar passar, em nada ver, em fazer apenas o que já se faz, e quando não se vislumbra meio de evitar trabalho, – é tão bom ser pequenino, e nada fazer – e que, como é bom de ver, não se recomenda.

Parece que deveria ser o governo a governar, mas logo se levantam pertinentes dúvidas ao ouvir que aquela gente recusa culpas no cartório, ou responsabilidades pelo que se fez, – e pelo que não se faz – parecendo, em boa verdade, que todas as asneiras que nos têm condenado a seguir amorfos na cauda da Europa, e só nos mantendo aqui, porque nos levam a reboque, são avulsas, sem dono, obra do Espírito Santo.

Também decorre de simples exercício lógico que os melhores governos dos últimos anos, ou do período simpaticamente designado de democrático, são sempre aqueles que menos duração tiveram, não porque em pouco tempo se pudesse assistir a um milagroso feito, de fazer e fazer bem, mas apenas porque o tempo para fazer porcaria, por reduzido, obrigou a sua produção a minguar. O que, já é positivo.

Em Portugal quando se fala em fazer reformas o povo teme, de imediato, pela desgraça que inevitavelmente não deixará de lhe cair em cima. Em nome da modernização, que não tem nada a ver com o nosso mundo, cada vez mais atrasado da civilização e do progresso, faz-se qualquer barbaridade, destrói-se, dando cabo do que ainda se fazia, mesmo que não tivesse grande qualidade, por algo garantidamente pior. É a nossa sina. Levamos a vida a reformar, e a dar aos que nos substituem novos argumentos, face aos resultados, para começar novo finca-pé reformista.

Os governos sucedem-se, entram como se tivessem acabado de ser esterilizados, sem mácula, virginais, e com o passar do tempo vão se conspurcando, ininterruptamente, até atingir um tal estado de podridão, que o povo, descolorido e sem cantar, vai a correr buscar aqueles que entretanto, depois de igual processo de decomposição e mau cheiro, estiveram em banho maria algum tempo, a ganhar brancura e saudável cheiro. Uns voltam à desgastante actividade de perder cor, ganhar cheiro, e vender a alma, a bem da nação, e por interesse público, procurando manter-se o mais tempo possível em aceitável estado de limpeza, enquanto os que saíram entregam-se pacientes a uma desinfecção, a uma lavagem, que levará tanto tempo, quanto o cheiro dos que ocupam a manjedoura pública, não se tornar totalmente impossível.

A alternância não se faz por um projecto, por uma ideia, por crer na capacidade de trabalho, mas porque a sujidade chega a tal ponto que tem de se fazer uma desinfestação e buscar substituto. Só crê nessa patranha do espírito de missão, na competência e dedicação, e da obra a fazer, quem também come do caldeirão e tem por isso interesse no cozido, ou meia dúzia de ingénuos distraídos. Naturalmente, os glutões, que sempre comem em qualquer panela, e comem de tudo, esperam tranquilos a mudança de cozinheiros, enquanto, sentados à mesa, ajeitam o guardanapo.

Os que chegam, descobrem quase sempre, depois de milhentos exercícios de pesquisa, que os que saíram deram cabo de tudo. Que é preciso mostrar eficiência, mando aprumado, sério, que se necessitam novas políticas, urgem tomar medidas, decidir. E como tudo estava no caos – Deus nos livre – vem aí os exorcismos.

E o mundo gira sempre assim. Saem e entram. Sem culpas nem temores, encantados e satisfeitos, consciências a brilhar, inocentes. Os outros, sempre os outros, que estiveram antes, da outra cor, da outra gentalha, irresponsáveis, é que deram cabo de tudo. E segue a contradança, com o povo cada vez mais pobre, com o número de pobres a aumentar, com as empresas a fechar, com as reformas a cair, com tudo a voltar ao tempo, não longínquo, em que, dentro de uma Europa que se mostrava ao mundo desenvolvida e justa, parecíamos uns mal educados maltrapilhos.

Parece desgovernar-se, nas alturas das decisões magnas, e nas repartições do estado, nos institutos públicos, nas empresas onde o poder mantêm os amigos e afilhados. Tudo muda, a uma velocidade expressiva, alterando todo um equilíbrio que levou séculos a tentar-se atingir. Para pior. Miúdos saídos dos bancos da universidade, ou corridos sem que se conheça a razão das empresas privadas, tomam de assalto os lugares de chefia e direcção no regafobe da coisa pública. E passam a dirigir, de um momento para o outro, indivíduos que tinham uma vida de dedicação à causa pública, e toda uma experiência acumulada. São os boys do regime, são os filhos dos amigos, são este e o outro, e mais aquele, que de modo inexplicável tomam o comando do país e das suas coisas.

Num caso especula-se que é uma cunha directa do governador civil, mais adiante sussurra-se na força e influencia da maçonaria, no outro a importância da opus dei, aqui fala-se nos filhos de uma amiga da presidente, ali no sobrinho do dirigente local, na namorada do filho, na filha da porteira, na amante, no tio, no amigo…

Nem se vislumbra em bom rigor a existência, como já em tempo se pensou, de uma partidocracia, que seria seguramente, do pior o menos. Estavam todos da mesma cor em um dado momento e quando se procedesse à troca por desinfecção do pólo principal, assistiríamos a uma troca por aí abaixo, de cor, em tudo e em todo o lado, o que ajudaria a manter o país limpo. Mas isso não ocorre, com a salada de pressões de todo o género, as trocas de favores, os que se metem do campo adversário – mais para conquistar a benevolência quando estes voltarem ao mando, que para mostrar isenção na escolha de gente, - com os a quem se devem favores, a família, o amigo, o lobby local, o regional, a instituição, ninguém se entende.

É a gente que comanda os destinos do país, a bem dizer, que asfixia o povo, emagrece o Estado, delapida o património, decide, manda fazer, coisa pouca ou nenhuma, que agita, que provoca, que transforma este canto do mundo, onde deveria ser belo viver, num país sem sonhos, sem equidade, sem leis, sem justiça, sem alegria e sem entusiasmo.

É essa gente, que não se entende bem quem são, tal a promiscuidade, e a imensidão de lugares de onde emergem, muitos sem qualquer qualificação, muitos sem qualquer moral, sem preparação, sem saber, que conduzem um povo, neste mundo cada vez mais competitivo, entre nações.

Portugal só poderá caminhar em frente, rumo a um futuro a que todos deveriam ter direito, quando se vir liberto de tanta falta de competência, da corrupção e do compadrio, quando as pessoas se envolverem em equipa na procura de alternativas, e se lancem ao trabalho, criando e entregando o seu esforço e o seu entusiasmo, em busca de objectivos claros, que sejam desejados e assumidos por todos. Uma grande equipa não deixará de fazer uma grande obra, mas para isso, todos, desde os que assumem maior protagonismo e dirigem ao mais pequeno executante, todos devem ocupar o lugar certo, para de modo concertado se proceder à verdadeira revolução de fazer andar uma máquina há muito emperrada.

Quando se conhecerem claramente as coisas e quem é responsável ou não por elas. Quando a irresponsabilidade seja chamada a prestar contas, e se exerça a coisa pública com princípios de seriedade, de ética e de dever pela boa governação.

Enquanto tudo continuar neste desnorte, em que nada é certo, nada é claro, ninguém tem culpas, ninguém sabe, ninguém quer, bem, enquanto tudo seguir assim, apesar do contentamento de uma minoria que não tem deixado de engordar, manteremos o país adiado, enfermo, sem capacidade de correr, de competir. E continuaremos a fingir que existimos, a ver passar os comboios, e a meter a cabeça debaixo da areia como a avestruz. Sem sonhos, sem riqueza, sem vida. Existiremos apenas…

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Precisa-se um “Português Suave”

Desculpem, aqueles que por distracção entram aqui, neste espaço, que vaidosamente, rotulei de “Kampus Libertatis”, a maçada imensa que não é ler, tanta arrazoada, inconsequente, e tão sem graça, nem ciência, dum ror de palavreado sem fim. Pior mesmo é ter que ler tudo, creio que a pequeníssima maioria dos ínfimos leitores, abandona, entre um bocejo e um esgar de raiva, esse perder de tempo que é seguir palavra e mais palavra, sem rumo, nem sentido, a salto.

Este campo é mais que sair “a salto” – como procuravam os que no tempo do fascismo e de outras misérias, buscavam em terras distantes, um pouco de comida para os dentes e um sopro de dignidade – sendo, um verdadeiro pulo, no que se escreve, isento de esmeradas inspecções revisionistas ou pidescas, fora de controlo, num campo sem fim, pleno de tudo, que mais se assemelha em bom dizer, à liberdade.

Pode não existir aqui nem sabedoria, nem os requintes que a técnica introduz um pouco por todo o lado, nem o rasgo doiradinho de uma mente bem conseguida, mas, seguramente, o que se escreve, acaba por ser, uma mistura descontrolada de tudo o que se sente, o que se pensa, o que muitas vezes se procura esconder, e a almejada, sempre, razão, que tantas vezes procurava estar, mas não menos vezes, falta por culpa própria ou mesmo alheia.

Escrever é coisa de gente estranha, que procura num quimérico conjunto ordenadinho de palavras, uma finalidade, que muitas vezes nem se conhece bem, mas que existe, que está ali, por detrás da caneta, escondida, agachada entre as teclas do computador, e que saltando à luz, parte à conquista, de ganhos em bens, ou em satisfações, mais ou menos controláveis, em intelectualidades geniais, ou em musicalidades poéticas, de quem já não espera, nem sabe.

Escreve-se de e por tudo. Para dizer mal do vizinho que trocou o burro quezilento no curral, por uma garagem de mosaico e azulejo com um Mercedes dentro, luzidio e arrogante. Suja-se papel para enaltecer o compadre autarca que foi reconduzido mais uma vez para satisfação de um séquito de amigalhotes, de engenheiros de obra a aviar, e de outros que procuram manter-se, paulatinamente, à manjedoura atulhada. Diz-se muitas vezes mal da situação, da falta de genialidade, dos caminhos tortuosos por onde o país sempre desliza, sem que caía, ferido de morte. A escrita parece sarar as feridas que sempre teimam marcar o percurso de gentes e mundos, perdoa erros sem fim que nunca vamos deixar de fabricar, uns a seguir aos outros apesar das promessas, limpa manchas conspurcantíssimas, fétidas, e muitas consciências que de outro modo não conseguiam descansar em cada noite.

Escreve-se por vaidade, por conseguir em boa mestria resultados de excelência no entrecruzar de verbos com substantivos, e no meio da salganhada, catapultar dentro do alguidar do texto, adjectivos, de modo e de lugar, e afinal tantos outros que as gramáticas evitam, por exagero, desenrolar em público, e ainda, saltam, ali, bem à vista de todos os advérbios, os estilos, as acentuações, e as demais confusões que sempre se perfilam ao catalogar-se, por favor régio, a obra prima.

Escreve-se por revolta, por paixão, para conquistar sorrisos e aplausos, para ganhar respeito e honrarias, só não se escreve a mais das vezes o que deveria fazer-se, e de modo limpo, certo, audaz, escrever a verdade. Simples, sem quês, nem senões, tudo luz, de oiro, clara, sem dúvidas e sem erros.

Escreve-se, bem as palavras são como as cerejas, seguem-se em tal velocidade e sem parar, de tal modo, que transformo audaciosamente, tanto, como sem querer, nem saber, num descargo de consciência, num teclado meio doido, uma página qualquer, para encher o blogue.

Precisamente quando procurava dizer mal de tantos intelectuais de botica que pululam em cada lugarejo do país – pequeno mas cheio de espíritos prenhes de prendadas riquezas – que escrevem sobre o que sabem, pouco, como não sabem nada, muito fazem de adivinhação, e de procura, de ânsia, de descoberta. Assim nasce muitas das vezes o novo conhecimento, da procura, com ou menos ordem, som ou sem método, sem ou com saber, resultando da simples coragem de viver apregoando asneira, prometendo impossíveis, mostrando tolices.

Num país onde desde o jogador de bola, à apresentadora de programa de entretenimento, ao artista de folhetim e revista, ao cantor, todos escrevem livros, tudo escreve, tudo sabe, a grande dificuldade é a escolha, em bem rigor, do maior, já que, para bem de todos, muitos estão na nata, do saber e do conhecimento. O que dificulta a selecção, quando entre tantos se necessitam apenas um punhadito de gente capaz. É um país de magos, reis e piões, mas todos magos. Em equipa ou fora dela, sós ou com os amigos e a família atrás.

Preocupa-me este eterno exagero que sempre tivemos e que tanto nos tem dificultado o caminhar. De termos gente a mais sabendo tudo, génios em economia e finança mas que a bem dizer não teriam dificuldade em diagnosticar uma gripe, médicos e cirurgiões tão capazes de manter vivos sem prazo qualquer utente dos serviços de saúde como de gerir a Junta Nacional dos Vinhos ou um apeadeiro da CP, magistrados capazes de aviar com perícia e entusiasmo tanto um simples café com creme, como fazer a mais apaladada tosta mista com queijo flamengo y fiambre da pata de cervo, policias capazes de dar aulas de direito fiscal, e fiscalistas entusiastas das coisas da saúde oral, políticos mais interessados na coisa do alheio e que fácil desliza que no interesse público. Enfim, a nossa dificuldade é sermos muito mais e estarmos muito à frente, no tempo, na vida e na praça.

Por isso temos dificuldade em seguir o caminho, que para outro se afigura fácil mas a nós nos tolhe o passo, não por pequenez, é bom assinalar as vezes que necessárias se mostrarem, mas porque, a imensidão de competências que temos, o jeito, o zelo, o espírito de missão, a capacidade de trabalho… bem, em bom rigor, quando tudo isso se junta, como normalmente acontece com o mediano português, é a explosão tão intensa, tão virulenta de uma incontida genialidade que se afirma, que na maioria das vezes, recomendaria a prudência, para evitar os danos de tamanha potencia espalhada aos sete sentidos, não se fazer nada.

Procura-se gente. Deveria ser este o mote. Pessoas. Seres humanos normais. Para a governação do país, para a justiça, para a educação, para a saúde, para a polícia, para os campos. Sente simples, que dorme de noite, que descansa pelo menos uma vez por dia, que come, que arrota depois de comer, que toma um banhito de vez em quando (que isto de poupar água e velar pela manutenção da pele em condições tem que se lhe diga), que às vezes faz asneira, que pragueja, que grita. Precisa-se um português suave, daqueles de antigamente, do tempo da reconquista, ou dos descobrimentos, daqueles que se encolhe quando lhe grita a padeira, descontrolada, de pá nos ares, volteando sem direcção, mas que pela calada da noite a faz gemer, entre lençóis. Precisa-se o português de outrora, fadista, de nariz vermelhusco do tinto, brigão, bom companheiro e de palavra certa. O de hoje, sem palavra, pouco equilibrado, a cheirar a flores e em emersão de manhã à noite, paninhos de lã, sabichão, que treme cada vez que a mulher tosse, e se esconde da gritaria e das reivindicações dos filhos, esse, sábio, culto, moderno, consciente, amigo do planeta, ecologista, só nos poderá enterrar cada vez mais. Não porque não tenha soluções para cada coisa que deve enfrentar, mas porque ele próprio está muito acima de tudo isso, que nem chega a ver, quanto mais a cuidar.

Precisa-se de um português suave. Que, por favor, não saiba muito, nem seja moderno, nem de finanças nem de economista, nem saiba muito de coisa nenhuma. Só se pede que seja português, genuíno, das Beiras, ou do Alentejo, de Trás-os-Montes ou do Ribatejo, que seja suave, mesmo que pegue toiros, e queira governar, este país e esta gente.

domingo, 16 de agosto de 2009

UM CAMPO DE LIBERDADE

Kampus Libertatis

Só podia ter um nome assim este campo, onde desejo, as letras pulverizem sussuros de liberdade, de desejos possíveis, de esperanças, de sonhos de gente, de pessoas, de seres que nunca deixem de ser a essência de um mundo que não deixará de girar, mesmo que os ventos impetuosos que querem calar, fustiguem os nossos rostos.

A liberdade mesmo que não exista de todo, estacionou aqui, quedou-se imóvel, fincou os pés, cravou as unhas, e teimosamente aqui pugnará, entre canções, entre protestos, em rasgos de luz, permanecerá, guiando os meus passos.

Mais que um blogue, um espaço de internet, virado ao mundo e aos outros, isto não é mais que um cofre, pequenino, singelo, meio frágil, onde é possível espreitar o que vai dentro, e que não será mais que um aglomerado de pequenitos segredos, de ideias, de visões, sobre o mundo e a vida, respeitando mais que tudo o homem e a dignidade humana, e o direito inalienável que o mesmo possui de seguir livremente um caminho que o leve a viver com tranquilidade entre e com os seus semelhantes.

Creio que apenas gente distraída entra neste campo de intimidades, de devaneios, de busca de ilusões, sendo mesmo que aqueles que distraidamente por aqui deambulam, ao aperceber-se de um conteúdo tão pouco erudito ou sem ser alicerçado em técnicas ou sabedorias certificadas, logo abandonam a visita, procurando por aí, mundos sem dúvidas, e verdades absolutas.

Este campo abriga a dúvida, e dá guarida aos que pouco ou nada sabendo, procuram reflectir, e nesse acto, aproximar-se um pouco mais do que muitas vezes parece ser, podendo, algumas vezes, ser mesmo realidade.

A liberdade é o voar da ave nos céus, o caminho do homem na terra deveria ser igualmente livre, os sonhos deveriam vogar em desalinho, sem regras nem métodos, num mar, ora sereno ora encapelado, de ondas de sonho.

Escrevo aqui, os desesperos de quem tanto aprecia a liberdade de caminhar em paz, em harmonia, numa relação equilibrada tanto com os outros como com o mundo que nos envolve, desejando, mais que ensinar, ou chamar a atenção – quem sou eu para isso – encontrar algo donde seja possível retirar benefícios ou interesse.

Na busca tenho como finalidade me aproximar um pouco mais do ser que é, da verdade que raramente está acessível, do desenrolar da expedição que todos efectuamos em cada dia de vida.

Preocupa-me o homem, a sua relação com os outros homens, quer se manifeste de uma forma organizada ou não, a do homem com o seu espaço, onde se envolve vulgarmente nos momentos de existência, ou no mundo, que feito por Deus para todos, parece cada vez mais distante de todos nós, e de cada um.

Preocupa-me o meu país, o seu caminho, que mais parece uma marcha fúnebre, apontado a um declínio injustificável e incompreensível, enquanto os responsáveis pela sua governação, - todos eles - sem prestar contas a quem quer que seja, prometem aproximá-lo das modernas democracias do mundo, e enganando as gentes, ajudam a enterrar.

Preocupa-me um povo que parece ter deixado de viver, existindo apenas. Sem sorrir, sem sonhos, sem ilusões, silencioso, curvado. Só meia dúzia de alegres iluminados sugam o que ainda existe, se amanham sem qualquer risco, de qualquer maneira, impunemente, ocupando com ares de missionários as cadeiras do poder e os lugares da administração, de mãos dadas, satisfeitos, arrogantes, enquanto aos poucos o país soçobra, sem nada que se vislumbre capaz de lhe dar esperança, ou alma.

O povo já não sai às ruas a bailar, a dançar, não canta, não brinca, não acredita em dias felizes. Há mais confiança nos números aluados do euromilhões, que teimam em só sair aos outros, que em qualquer promessa de melhorias. A conversa da classe política não convence ninguém. Já não se fazem filhos, parecendo as terras pequenas do interior depósitos de velhos, que morrem cada vez mais em cada dia que passa. E os governos locais na caça de votos organiza excursões e bailes para a terceira idade.

Preocupa-me um canto do mundo, dito civilizado, onde existe tudo de pior, embrulhado nos papéis coloridos da civilização e atados na bizarra guita da modernidade. Deixou de se trabalhar para melhorar o futuro, trabalha-se para aguentar a catástrofe de dias cada vez mais negros que não deixam de nos visitar, sem interrupção hà alguns bons pares de anos. Pede-se mais trabalho, e paga-se, em promessas, com tirar um pouco menos. Que sempre se perdem, rendimentos, direitos, respeito. Parece um voltar ao passado, depois de gerações terem dito não, terem lutado, terem edificado um mundo que parecia caminhar para algum equilíbrio e para a paz social. Por este andar, ainda teremos de agradecer um dia, uma escravatura doirada, que sempre será, dirão os eruditos da praça, melhor que a sem luz, escura, e sem brilho. O povo, esse, sem o sorriso nos olhos, vai aplaudir, - aplaude sempre – e seguirá existindo.

Preocupa-me uma corrupção que todos conhecem, de que todos falam, e de que alguns engordam. Assusta-me o compadrio que nem se procura disfarçar, menos ocultar, um feudalismo de primas donas de cidadela, de favores, e de trocas de influências. Nessa chafurdice alguns constroem o seu império. O governo, a classe política, responde chumbando planos, vetando medidas, anulando, qualquer coisa que de eficaz se possa fazer e que combata esse cancro que mina a sociedade portuguesa.

A justiça não é justa, diz-se quando fora de tempo. Em Portugal ainda se crê – aqui reside muita da sabedoria popular – que mais vale calar, deixar passar, nada fazer, que intentar um processo nos tribunais para ver reconhecido um direito ou ver reparada uma injustiça. Os processos são caros, os ricos e poderosos raramente são condenados, as leis são um emaranhado de complicações, onde vinga, mais que o justo, o expediente, o saber manusear argumentos.

A educação é mais o seu contrário, que um esforço para garantir mais conhecimentos e ferramentas aos futuros profissionais, grassam por aí, inexplicáveis metodologias que podem ser do nosso tempo, mas que o povo não entende, de cursos que se tiram aos domingos, de exames que se podem realizar tranquilamente em casa, de passagens administrativas de alunos sem aproveitamento em mais de oitenta por cento do currículo leccionado. A estatística tem que se manusear para mostrar ao mundo que os portugueses que já foram, noutros tempos, um povo de elite, e de saber, volta a ser um grupo de gente do melhor que há, cientifica e tecnicamente falando. Ataca-se uma educação em profunda crise de metodologias e de valores espezinhando na praça pública os professores. Pisca-se o olho ao voto dos pais, transformando as escolas em lugares de estacionamento, onde se pode estar, sem que interesse de muito se efectivamente o ensino melhora ou não.

A saúde transformou-se num bastião de mercado, de negócio, onde, nem como é apanágio dos países mais cultos, conseguimos assegurar os nossos médicos. Os portugueses não têm médicos de família, recrutam-se médicos estrangeiros para tentar não fechar imensos Centros de Saúde no interior do país, espera-se com bichas desde o nascer do sol, para uma simples consulta. Os jovens portugueses que desejam exercer medicina têm que estudar no estrangeiro. Com o fim de um Serviço Nacional de Saúde que a Constituição garantia ser tendencialmente gratuito, assiste-se hoje a uma clientela de primeira grandeza, os utentes de seguros de saúde, e todos os demais, cujos rendimentos não permitem aceder àqueles meios, estão mais desprotegidos, ou à mercê do favor.

O funcionalismo público, que historicamente era mal pago, mas que recolhia o respeito das populações, foi praticamente substituído por uma coisa que nem se percebe bem qual a sua natureza, sendo modernizado à força com regras de produtividade, avaliação de desempenho, e exigências de tecnicidade, ao mesmo tempo que se alteraram para pior as expectativas dos seus servidores, se diminuiu os seus rendimentos, e se desmoronou todo o sistema de carreiras. Para moralizar ainda mais o sistema, os dirigentes são escolhidos por regras tão pouco críveis, como o reconhecido mérito, que tanto pode ser da cunha, ao favor de amigo, ou ao jeito do compadre. Moralizando mais ainda, estes que deveriam responder pela máquina, nem sequer estão integrados no sistema imposta das avaliações, com que se queria moralizar e requalificar a antiga máquina do estado.

As empresas estão em profunda crise, com trabalhadores com salários por receber, sem capacidade de pagar as suas obrigações quer a fornecedores de bens e serviços, como ocorre também, nas obrigações fiscais e nos pagamentos à Segurança Social, cerrando as portas de modo reiterado todos os dias desde há muito tempo. A isto se deve a existência de um tecido empresarial pouco qualificado e que sempre viu no investimento algum interesse desde que os lucros fossem rápidos, avultados, e fáceis, nem que para isso, se recorresse a maus salários, e num desleixo em matérias como a higiene, segurança e protecção dos trabalhadores. Juntou-se a incapacidade de se modernizarem, quer por desconhecimento e falta de preparação dos empresários, quer, muitas das vezes, por desinteresse.

Os sindicatos quase não existem, e alicerçam-se também numa complexa teia de quadros politizados que se garantem por longos períodos, profissionalizados, nas funções sindicais, longe da realidade do trabalho e das empresas. Grande parte dos sindicalistas permanece como forma de garantir uma forma de vida, afastados da vida laboral e das empresas, e olhados muitas vezes pelos trabalhadores como gente que por ali anda, a tratar de vida.

Muita gente deixou de acreditar nos partidos e na política. Sendo ideia comum que aquela gente anda por ali para amanhar-se, que na classe política, também as qualificações não são as mais recomendáveis, e que não há muito mais, nem a fazer, nem a esperar. Grande parte das pessoas deixou de votar. E existe a ideia que tanto faz, seja quem ganhe os sufrágios, e venha a governar, não deixará de fazer o que sempre se tem feito, isto é, muito pouco, e mesmo assim, o que se faz, mais valia não ter sido feito.

Alguns, acreditam mesmo que se a justiça funcionasse em Portugal metade dos políticos estariam detrás das grades, como se pode perceber pelo sempre crescente número de casos de casos entregues aos tribunais de corrupção, abuso de poder, peculato, e outros crimes envolvendo figuras ligadas a governos e ao poder local, como a nomes grados da nossa praça.


Praticamente ninguém é declarado culpado, e quando o é, apanha penas leves ou de pena suspensa, sendo rara a figura do regime efectivamente aprisionada. Julgados e condenados, metidos nas prisões, só mesmo os que não tem meios para se defenderem, sendo mesmo, parece já, injusto saber que existe pessoas no cárcere, quando existe tanto criminoso à solta.

Neste “Kampus Libertatis” preocupa-me o povo incauto e pouco exigente, essa massa de gente, que corre levianamente atrás de figurões sem qualquer moral, e os deixa com um espírito mais de exploração que de missão arruinar vidas e sonhos. Preocupa-me um país que definha, sem rumo, sem saber o que de facto deseja para o seu futuro, enquanto as pessoas vêem cada dia, como num jogo de sorte ou azar, minguar os seus rendimentos e direitos, depois de uma vida de trabalho, e de tempos de luta e de esperança.

Preocupa-me a liberdade, a atitude, a palavra e o medo. As pessoas não saem à rua a protestar, não gritam a sua revolta, deixaram de gritar o seu descontentamento com a mesma facilidade com que deixaram de bailar, ou de cantar. O país, que dizem os cultos e os do regime, é uma democracia e um estado de direito, voltou a estar amordaçado, calado, oprimido. Tem-se de novo, medo de dizer, de apontar, de esboçar um protesto. Com o silêncio de uns, e o cobarde assentimento de muitos, se espera um lugar num qualquer instituto para um filho que acaba os estudos, a benevolência do presidente da câmara, o favor do dirigente da empresa pública.

A imprensa parece ter alinhado com a camarilha bem instalada do estado que lhe acaba por pagar os salários, através da publicidade oficial e a de pedido, sendo que, ao contrário do antigamente, nos tempos do fascismo, em que se lutava duro, mas contra algo que possuía uma existência inquinada em ilegalidade e imoralidade, e que, deste modo, recolhia uma aceitação generalizada, agora, lutar contra um algo proveniente de um estado de direito e democrático, mesmo que igualmente imoral e ilegal, suscitará, de imediato, uma reprovação geral.

Por isso é o silêncio. Dizer alguma coisa resulta invariavelmente em calúnia rapidamente silenciada. Condenada. Aqui a justiça corre. E no isolamento.

Por isso “Kampus Libertatis” é uma isolada várzea, sem préstimo, onde se encontram, às vezes, palavras que aparecem, sem que se saiba bem a sua razão, crendo mesmo, que muitas serão fruto de ventos e tempestades, de dias de sol, de ignorâncias e inquietações. De pensares, assim, simplórios já se vê. Quimeras. Serão tão simples as letras e palavras que por aqui apareçam, tão sem importância será este campo, longe das vedetas televisivas, e dos senhores da guerra e do tacho, que creio vou ter noites de sono, e dias de paz.

Este tem de ser forçosamente um campo livre. Pequeno ou simples, fraco ou pouco importante, mas liberto. Sem a condição de escravo. Com liberdade… essa, bem essa liberdade que é tão cara ao ser humano, nunca poderá ser negociada, porque ela é essencial ao homem.