quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A globalização e o homem




A globalização e o homem

Parece interessante encontrar num qualquer supermercado num qualquer ponto do globo um produto há poucos anos inimaginável, ou porque fora de época, ou porque oriundo do outro lado do mundo. Agora, tudo se pode comprar. Democraticamente expostos em lugares de fácil acesso e a preços competitivos, tudo facilmente nos chega às mãos.

Justifica-se esse facilitado acesso a produtos de todos os cantos do mundo com a globalização, esse fenómeno que efectivamente parece ter diminuído o tamanho do mundo, e aproximado coisas e gentes.

Os segredos, as coisas guardadas de cada um, os exclusivos, parecem estar condenados tal a velocidade em que tudo gira, e o modo com que tudo se desloca, parecendo que a magia tomou conta do nosso pequeno planeta, tornando o homem dono, senhor e conhecedor de tudo.

Esperava-se, também, que com essas facilitadas e quase livres circulações de pessoas e bens, de capitais, de conhecimentos e saberes, as colossais diferenças que o mundo sustentava entre os países mais ricos e os mais pobres e afinal, entre as pessoas dos países ditos desenvolvidos e aquelas que nasceram num mundo ainda à procura do desenvolvimento, se viessem a atenuar de modo expressivo. Tornando tudo, um pouco mais igual, o que quer dizer de outro modo, mais justo, e mais humano.

Contra a bondade de milhentas ideias luminosas de homens que dirigem o nosso tempo e as nossas economias, os pobres parecem cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Consideração que tanto se aplica a gentes como a países. Todos parecemos mais próximos, mas infelizmente, nesses olhares que trocamos é possível perceber mais facilmente a desgraça do nosso vizinho, ou a opulência de um do outro lado, ou deste, ou daquele.

Enquanto o mundo acelerou a vertiginosa velocidade em tudo o que dizia respeito a invasão de coisas e produtos, e movimento de pessoas e capitais, o desenvolvimento, a agressividade produtiva, transformadora e comercial com proteccionismos de uns quantos que se souberam defender com encapotadas medidas, e a incapacidade de outros, reduzidos a meras promessas de evolução, num marasmo sem rumo, determinaram o aumento do desequilíbrio existente entre nações, e afinal, entre os seus naturais.

Deste modo, fracassou um dos mais importantes objectivos que norteavam, ou deviam ter norteado, a globalização, a existência de um mercado de todos, onde se defende, em nome de um progresso concertado e sem donos, vantagens a todos os intervenientes, e com ela, um desenvolvimento e um progresso geral.

Em vez disso, as pequenas nações, cada vez mais endividadas, são abandonadas à sua sorte, sem meios objectivos para encetar a via do desenvolvimento, apenas se tornando parceiras, em processos que se desejavam harmoniosos, mas onde lhes cabe o papel de receber no seu território o que os outros recusam e o de fornecer mão de obra a baixíssimos custos, em locais inadequados, sem quaisquer condições de higiene ou segurança, com ausência de efectivas regras de defesa dos que trabalham, sem direitos nem protecção.

Tudo isto, enquanto as nações mais ricas, continuam a alargar os seus processos produtivos e transformadores aos que lhes servem os interesses, buscando longe custos mais vantajosos, e a permissividade de governos corruptos ou subservientes, aumentando continuadamente as suas influencias, poder, e riqueza.

Se o mundo não deixa de ser, com efeito, um gigantesco mercado sem fronteiras, os homens e os países, continuam separados, condenados a existências desiguais, e a lutas injustas e desproporcionadas para sobreviver.

Pelo que, o processo de globalização existente, não pode servir de bandeira nem orgulhar os diversos actores nela envolvidos, sendo apenas e tão só, uma pequena parte realizada, e onde se denunciam os interesses menos válidos da natureza humana, envoltos em lutas por influencias, dinheiro e poder, esquecendo o homem, e o direito inalienável que lhe assiste a uma existência condigna num mundo que obrigatoriamente terá de ser para todos. Um dia…






sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Que país?... tudo ganha, tudo segue alegre, ...

Paulatinamente decorreram as eleições legislativas neste quimérico reino à beira mar plantado. Tudo para contento de todos, tudo para ver gente simples, feliz, sem lágrimas. Não existem, para nosso contentamento e vaidade, muitos países como o nosso. Viçoso, janota, hilariante, folgazão, e muitos outros adjectivos se poderiam, sem qualquer risco, aplicar.
O partido socialista obteve uma vitória extraordinária, utilizando aqui, nesta definição de sucesso apenas, as palavras sábias, do seu líder em noite de festejos e alegrias.
Em seguida aparece o partido social-democrata que apesar de não ter atingido os objectivos a que se propôs conseguiu ajudar a retirar a maioria absoluta ao partido do engenheiro Sócrates.
Os democratas cristãos venceram mais uma vez as sondagens que o perseguem teimosamente apregoando um desaparecimento a prazo, e coloca-se, para espanto deste mundo e do outro, em terceiro lugar, chegando e ultrapassando mesmo os dois dígitos, numa percentagem de milagrosa explosão.
Os vermelhuscos modernos do bloco de esquerda rejubilaram de gozo e satisfação ao constatarem, sem dúvidas nem erros, que cresceram expressivamente e que, como publicamente se tinham proposto alcançar, retiraram a maioria absoluta aos socialistas.
Os comunistas cresceram, pouco é bem verdade, mas fizeram-no de tal modo, seguro e claro, que o seu secretário geral afirmou que aumentavam mais uma vez a sua influência e implantação, bem como, ajudaram, de modo objectivo, a retirar a maioria existente, que sempre é coisa que resvala em tirania, obtendo, em conformidade uma vitória assinalável.
A abstenção chegou a onde nunca se tinha visto, quase aos quarenta por cento, destacando-se, isolada, no primeiro lugar, e obtendo assim, a maior e mais expressiva vitória das eleições legislativas de 27 Setembro de 2009.
Só é pena não ter tido meio para expressar essa satisfação, entre todos os outros, que felizes ganharam inequivocamente com o sufrágio. E mais pena ainda, não poderem deixar de forma inequívoca, e de modo evidente e prático, à vista de todos, o resultado do seu sucesso, garantindo quase metade dos lugares no hemiciclo de São Bento, vazios, sem dono, entre a outra metade cedida por imprevisível espaço de tempo a alguns sortudos felizardos da nação.
Com os lugares vazios, inequivocamente ganhava o país que deste modo pouparia milhões de contos por legislatura – importante exemplo de respeito pelas famílias e empresas à beira da falência – e a asneira, que poderia ser mais encolhida, na proporção de menos bocas a apregoar fantasias.
Foram umas eleições felizes, em que toda a gente ficou satisfeita, desde os que nem se deram ao incómodo de sair de casa a votar, obtendo da sabedoria de não alinhar em delírios uma vitória clamorosa, aos que perdendo mais de meio milhão de votos e a maioria absoluta ainda esgrimem argumentos de vitória extraordinária, a todos os demais, que independentemente do resultado ou do posicionamento, sempre garantiram a retirada da arrogante maioria absoluta dos socialistas, e um crescimento com cheiro a coroa de louros.
O país está falido, não temos nem justiça nem educação, as pessoas correm sérios riscos quando deambulam nas ruas, e os assaltos e o crime violento cresce, o desemprego aumenta, as empresas fecham ou não pagam salários, teme-se o futuro, trabalha-se para garantir pobreza, não temos dinheiro, não encontramos ânimo para prosseguir, mas toda a gente cantou vitória de umas eleições em que não se encontram motivos concretos para sorrir. As vitórias, para quem as obteve, são coisinhas bem efémeras, sem história e as tragédias, mesmo ocultas na permanente comédia, só servem para servir em lume brando, e para risada geral.
Sentimos que ainda existimos, mesmo que muitos tenham a dúvida se isto é viver, e não possuindo quaisquer certezas no dia de amanhã, vamos nos arrastando hoje mesmo, aqui e agora. Sorridentes caminhamos lado a lado com a nossa própria desgraça, deleitados nas vitórias do partido como no jogo da bola do nosso clube, esperando que um outro futuro, que não este, venha tão certinho, trazer-nos um novo campeonato, como uma nova epopeia nas competições europeias, ou na divisão de honra.
É preciso resistir, pouco mais se pode pedir a quem olha. Resistir, o mais possível, enquanto o país festeja, feliz e sem inquietações, mais uma vitória de todos, mais um acto, mais um jogo, olhando já, noutro acto, noutra vida, noutra alegria, que não deixará de verificar-se, com novas eleições, que não deixarão de realizar-se.
Melhor assim, pobres mas alegres, sem caminho mas esperando. Que país…