sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Que país?... tudo ganha, tudo segue alegre, ...

Paulatinamente decorreram as eleições legislativas neste quimérico reino à beira mar plantado. Tudo para contento de todos, tudo para ver gente simples, feliz, sem lágrimas. Não existem, para nosso contentamento e vaidade, muitos países como o nosso. Viçoso, janota, hilariante, folgazão, e muitos outros adjectivos se poderiam, sem qualquer risco, aplicar.
O partido socialista obteve uma vitória extraordinária, utilizando aqui, nesta definição de sucesso apenas, as palavras sábias, do seu líder em noite de festejos e alegrias.
Em seguida aparece o partido social-democrata que apesar de não ter atingido os objectivos a que se propôs conseguiu ajudar a retirar a maioria absoluta ao partido do engenheiro Sócrates.
Os democratas cristãos venceram mais uma vez as sondagens que o perseguem teimosamente apregoando um desaparecimento a prazo, e coloca-se, para espanto deste mundo e do outro, em terceiro lugar, chegando e ultrapassando mesmo os dois dígitos, numa percentagem de milagrosa explosão.
Os vermelhuscos modernos do bloco de esquerda rejubilaram de gozo e satisfação ao constatarem, sem dúvidas nem erros, que cresceram expressivamente e que, como publicamente se tinham proposto alcançar, retiraram a maioria absoluta aos socialistas.
Os comunistas cresceram, pouco é bem verdade, mas fizeram-no de tal modo, seguro e claro, que o seu secretário geral afirmou que aumentavam mais uma vez a sua influência e implantação, bem como, ajudaram, de modo objectivo, a retirar a maioria existente, que sempre é coisa que resvala em tirania, obtendo, em conformidade uma vitória assinalável.
A abstenção chegou a onde nunca se tinha visto, quase aos quarenta por cento, destacando-se, isolada, no primeiro lugar, e obtendo assim, a maior e mais expressiva vitória das eleições legislativas de 27 Setembro de 2009.
Só é pena não ter tido meio para expressar essa satisfação, entre todos os outros, que felizes ganharam inequivocamente com o sufrágio. E mais pena ainda, não poderem deixar de forma inequívoca, e de modo evidente e prático, à vista de todos, o resultado do seu sucesso, garantindo quase metade dos lugares no hemiciclo de São Bento, vazios, sem dono, entre a outra metade cedida por imprevisível espaço de tempo a alguns sortudos felizardos da nação.
Com os lugares vazios, inequivocamente ganhava o país que deste modo pouparia milhões de contos por legislatura – importante exemplo de respeito pelas famílias e empresas à beira da falência – e a asneira, que poderia ser mais encolhida, na proporção de menos bocas a apregoar fantasias.
Foram umas eleições felizes, em que toda a gente ficou satisfeita, desde os que nem se deram ao incómodo de sair de casa a votar, obtendo da sabedoria de não alinhar em delírios uma vitória clamorosa, aos que perdendo mais de meio milhão de votos e a maioria absoluta ainda esgrimem argumentos de vitória extraordinária, a todos os demais, que independentemente do resultado ou do posicionamento, sempre garantiram a retirada da arrogante maioria absoluta dos socialistas, e um crescimento com cheiro a coroa de louros.
O país está falido, não temos nem justiça nem educação, as pessoas correm sérios riscos quando deambulam nas ruas, e os assaltos e o crime violento cresce, o desemprego aumenta, as empresas fecham ou não pagam salários, teme-se o futuro, trabalha-se para garantir pobreza, não temos dinheiro, não encontramos ânimo para prosseguir, mas toda a gente cantou vitória de umas eleições em que não se encontram motivos concretos para sorrir. As vitórias, para quem as obteve, são coisinhas bem efémeras, sem história e as tragédias, mesmo ocultas na permanente comédia, só servem para servir em lume brando, e para risada geral.
Sentimos que ainda existimos, mesmo que muitos tenham a dúvida se isto é viver, e não possuindo quaisquer certezas no dia de amanhã, vamos nos arrastando hoje mesmo, aqui e agora. Sorridentes caminhamos lado a lado com a nossa própria desgraça, deleitados nas vitórias do partido como no jogo da bola do nosso clube, esperando que um outro futuro, que não este, venha tão certinho, trazer-nos um novo campeonato, como uma nova epopeia nas competições europeias, ou na divisão de honra.
É preciso resistir, pouco mais se pode pedir a quem olha. Resistir, o mais possível, enquanto o país festeja, feliz e sem inquietações, mais uma vitória de todos, mais um acto, mais um jogo, olhando já, noutro acto, noutra vida, noutra alegria, que não deixará de verificar-se, com novas eleições, que não deixarão de realizar-se.
Melhor assim, pobres mas alegres, sem caminho mas esperando. Que país…

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