quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O que nos calhará no futuro?...

Depois de muitos anos sem votar confesso que desta vez, mesmo praguejando e sentindo na garganta o incómodo de um sem número de sapos para engolir, lá anrranjei forças, para me arrastar até às urnas, fazendo deste modo, e excepcionalmente, parte da pandilha com responsabilidades no jogo desmiolado, da política à portuguesa.

Sempre tenho preferido ausentar-me da mesa de jogo, pois me parece que aceitá-lo, é o mesmo que fazer parte da batota, da sujeira, e alinhar com a mais triste palhaçada que tem arruinado, entre asneira e anedota, entre burrice e mete ao bolso, o nosso país.

Nisso, de uma política lusitana de compadres e desenrascanso, de toscos e chicos espertos, temos toda a vida sido pródigos. Por isso nos olha de lado, com desconfiança, meio mundo que faz pela vida. Somos paladinos da coisa fácil, do sabe tudo, do que não tem dúvidas nem erra, e hábeis em aproveitar a coisa pública para subir na vida e ajudar a vencer o primo lá da província, o filho da porteira, a amante, e mais uns poucos que correligionários, devem receber paga, pela ajuda preciosa que tiveram no alcance do nosso tachinho dourado.

Fui votar. Pareceu-me que ficar em casa seria, desta vez, cuspir na sopa, ou dito de outro modo, ver aproximar-se a fome e a vontade de comer - esvaziando e atropelando tudo por onde passa - e nada fazer para o evitar.

Desse apocalíptico desastre, a que infelizmente poucos poderão escapar, a minha boa vontade revelou-se insignificante para o seu afastamento e nem o desinteresse e a azia do povo veio ajudar. Mais de metade dos portugueses burrifou-se no futuro, descrédito, desanimado, incapaz de crer e reagir, farto de vilanagem, de ver vencer os gulosos e perpetuar-se no poleiro e na política em geral o espertalhão, o troca tintas, o lambe botas, o incapaz, o ganancioso, e os que sem escrúpulos chupam na vaca até a deixar sem tetas.

Agora tudo se parece bem negro. A um presidente da república, tecnocrata, sem alma, sem sentir, amante da frieza dos números, arrogante e prepotente, vaidoso, virá juntar-se um jovem com ideais liberais, cheio de gana de instalar em Portugal novas políticas económicas, parecendo desejar furiosamente destruir empresas públicas, formas de organização económica de há muitas gerações, diminuir o peso do estado, dar, e vender ao desbarato, a privados, enfim, apresentar obra, nem que para isso, se altere a vida nacional, mesmo que para pior, perdendo nessas loucuras de um liberalismo desumano, familias e pessoas.

Nunca o clima em Portugal foi tão favorável à destruição do pouco de bom que ainda vamos tendo. Que virá quando se deitar às malvas o Serviço Nacional de Saúde? Serão garantidos os cuidados a todos os portugueses? Será que todos vão estudar como até aqui quando, em defesa de novas estratégias se acabar com a escola pública? E como vão ficar todas as outras coisas e sectores?

E tudo vai de vento em popa. Ao aniquilar de qualquer sistema antigo em nome da modernidade, o governo terá a seu lado o sorriso artificial, aprendido com muitas aulas de parecer estar, parecer bem, do presidente da república. Em cada direito social que se arruine não se ouvirá qualquer defesa do senhor Aníbal Cavaco. Será pois desta vez, que Portugal se alinhará no pelotão da frente. Da tristeza.