terça-feira, 10 de maio de 2016

SERÁ QUE TANTA CHUVA PODE LAVAR...

                    TANTA SUJEIRA, TANTO MAL                           

                                                                                "O pensador
                                                                                      é antes de
tudo dinamite, um
aterrorizante explosivo
que põe em perigo o
mundo inteiro"



Nietzsche



























Ouvi várias vezes dizer que a água tudo lava. Acredito que possa ser uma grande verdade. Em sentido contrário só ouvi, e penso de gracejo, que a água lava tudo, menos a língua da mulher. Dá para sorrir mas falta-lhe conteúdo, em todas as dimensões. É uma frase irónica e vale o que vale.

Eu, tendo em conta as minhas limitações no que se refere ao conhecimento científico, sempre estive mais próximo das ciências humanas, onde se aceita a divagação e a arte de pensar, coloco-me, como se fora um cientista conhecido e considerado do lado dos que sustentam que a água efectivamente tem a capacidade de tudo lavar, e no referente a línguas, limpa qualquer, desde homem, mulher, porco, leão ou outro ser vivo.

Se me pedirem para sustentar a minha adesão a essa teoria, não podendo fazer alegações me termos de ciências exactas, que nunca foram o meu forte, razão porque não posso valer-me da química ou da física, ou outras áreas das ciências, direi simplesmente que a água cava sulcos sobre pedras, quebra rochas e rochedos, possui tanta força que seria leviandade minha desconsiderar suas potencialidades diminuindo-a numa simples lavagem seja do que puder ser.


Deste modo direi, a água lava tudo o que seja corpo. E partindo dessa premissa, posso dizer sem correr risco que a água não consegue lavar o pensamento, não pode lavar a corrupção, não pode lavar a maldade, não consegue lavar as mãos sujas em acções reprováveis, nem lava o negrume que edifica a vingança e tortura a alma.

Pode continuar a chover, pode até nem chegar o verão, a chuva pode continuar caindo de qualquer jeito que infelizmente não leva consigo a perfídia e a traição, a sujeira que impregnam abusos de poder, prepotências, violências, tiranias, vinganças, nem o mal.

Mesmo abrindo as comportas das barragens, com inundações, com torrentes de água tudo ,levando pela frente, com ou sem marmotos, remoínhos, o homem não consegue livrar-se da maldição de tanta gente que existe para praticar atrocidades e defender horrores. Não será a água a lavar essa sujeira que anda por aí, prejudicando uns e outros, causando prejuízos e danos, sofrimento e castigo.

Se fosse alquimista, desviava a finalidade da minha busca, e procurava um antídoto, uma substância, um instrumento, que em vez de transformar alguma coisa em oiro, tivesse a eficácia de radicar a praga de gente que deveria estar ardendo no inferno, em vez de andar na terra a atormentar as gentes.

Não é o ouro que nos traz felicidade, o maior feito em prol do bem estar seria sem dúvida acabar com o mal, exterminá-lo, destruí-lo, acabar com ele para sempre.

Não se trata de sonho, tendo em conta a tese de que tudo o que se pode sonhar se pode realizar, nem utopia, pois tudo o que existe já foi utopia um dia. Trata de limpeza, de purificar, de limpar, a mesquinhez humana e outros males, de vez, e não sendo conhecido nada capaz de o fazer, o melhor é deixar chover, que muito chova, e que dentro de nós se forme uma cadeia que dê várias voltas ao mundo, e chegue a Deus, e pode ser que muita da água da chuva acabe por levar de arrasto muito negrume entranhado em gente execrável e vil.

Venha chuva, venha muita e Deus nos acuda...



Sem comentários:

Enviar um comentário