terça-feira, 19 de julho de 2016

TEMOS TUDO PARA SER FELIZES. ESTUPIDAMENTE DAMOS CABO DE TUDO.



Quanto não daria por tudo isso...


Não estou feliz. Sinto que uma tristeza me invadiu como se um nevoeiro espesso a pouco e pouco me fosse tolhendo a visão. E me cobrisse afastando-me do mundo e dos outros. Não deveria estar assim já estou habituado à solidão, à necessidade de lutar, aos vazios que me afastam da alegria, do ânimo, do caminho certo, mas o que é verdade é esta melancolia. É muito difícil falar de estados de alma, mais quando eles por vezes se confundem e baralham numa turbulência de expansões e contracções, fazendo que de um momento para o outro se oscile entre uma vã quimera que logo se perde numa escuridão sem fim.

Acho que fiz o que tinha de ser feito. Sou um bruto. Mas Deus sabe que só me meto em contendas quando estão em causa pessoas que tenho de defender - muitas vezes tive de o fazer e arranjar inimigos por isso - ou quando me atacam, e nesse ataque ultrapassam o limite. Pequenas querelas já deixaram de me importunar. Mas ficaram os princípios - sempre eles - que tenho de defender, é uma questão de honra, e não fazerem de mim um trouxa qualquer que se pode montar que nem burro. Não suporto que oprimam os outros e não tolero que me oprimam a mim. Quando luto, seja de que modo for - em épocas anormais medidas anormais - é sempre em defesa de alguma coisa, de alguém ou de mim.

Nunca começo uma guerra e nunca ataco. Mas nunca fujo quando me armadilham o caminho, e não temo uma boa guerra. Coloco nela tudo o que tenho. É a vida, a honra, a defesa do bem, é fazer frente ao mal, à injustiça, à prepotência, à violência.

Esta está a ser uma boa guerra. Os ventos correm de feição. Não tenho nada a perder. E tenho feito o que me é possível, por vezes em sofrimento, em angústia, sem qualquer ânimo. Serei doente toda a vida, e não faço qualquer ideia do que virá a desenrolar-se no futuro. Até umas malditas dores que me prostraram uns poucos de dias, em que mal saí da cama, e que volta e meia voltam, não foram capazes de me afastar. Entreguei-me a Deus, Ele me encaminhará na terra e se for caso disso para onde a minha morte me puder levar.

Sei que me fizeram mal. Mas não compreendo porque se faz mal a um ser humano gratuitamente. Acaso fiz mal a algum dos médicos que me fizeram a Junta Médica de Incapacidade? De certeza que não. Sempre os tratei com urbanidade, respeito e alguma admiração e amizade. A natureza humana tem de facto coisas que se não compreendem. Foi um acto bárbaro e cobarde, foi uma cilada quando o homem está a ficar velho e está doente. Indefeso. Fraco. Presa fácil. Destruíram os últimos sonhos que tinha na vida. Agora estou aprisionado de um futuro cheio de dificuldades, mais duro, mais penoso. Alguém está feliz por isso? O mau mal deu felicidade a alguém? 

Pois eu estou triste agora que deveria estar animado. E não estou feliz pois as pessoas que me fizeram mal são seres humanos, podem merecer castigo, devem ser advertidas, podem ter problemas. Mas o ser humano é isso mesmo, é imperfeito. Comete erros. Peca. Posso sentir algum alento se a justiça prosperar se a verdade vier ao de cima, se com o meu esforço ajudar todos aqueles que depois de mim passarem pelo que eu passei. Mas como já disse várias vezes, a minha alma divide-se, entre a verdade e a justiça, e o ser humano, a pessoa, e deste modo não sinto nem ódios nem rancores e tenho pena de nunca ter conseguido ser persuasivo quando tentei resolver a bem este caso. Infelizmente a diplomacia é o meu calcanhar de Aquiles. Aprendi cedo a lutar e não tive tempo para ganhar outras artes. Não estou feliz. 

Deus sabe, que se houvesse bom senso, e fosse possível, hoje mesmo enterrava o machado de guerra e me sentava junto de quem me quis fazer mal. Esquecendo mágoas, e olhando o futuro, onde existisse entendimento, boa vontade, respeito e harmonia.

Quanto não daria por tudo isso...





























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