quinta-feira, 28 de julho de 2016

SE CALHAR É MESMO UM TEMPO PERDIDO... VOU PENSAR NISSO!



TEMPO DE VERÃO, TEMPO DE FÉRIAS


Não posso me queixar por não ir de férias. Só o relógio se mantêm marcando sem erros e sem cessar o ritmo do tempo. Depois dele basta pensar em férias, no sentido de mudar de ares, de terra, ver coisas novas, novas gentes, refrescar as ideias, tudo entra em explosiva revolução. As tecnologias devem ter razões que a razão não conhece, e põem tudo em parafuso à mínima audácia de imaginar, pensar, desejar, querer, ir de férias. Como as coisas mudam tão depressa. E ter passado o Julho mais quente desde que há notícia, a torrar ao calor, sentindo o vapor a sair das orelhas e a transpiração percorrendo a pele, e aceitar sereno que Agosto vai ser igual, Setembro não terá diferença, e por aí fora até ao desconhecido.

Não me queixo nem protesto. Ir ou não ir de férias não está consagrado no nosso texto fundamental. Apenas o direito a tê-las é reconhecido. Agora se o pagante fica em casa, se aproveita para fazer uns biscates, ou se vai até às Maldivas, isso é coisa de cada um. 

Agora que estou menos ágil, limitado em matérias como as rações de combate, muito menos certo que um relógio vendido pelos ciganos, doente e incapacitado - por enquanto - e cada dia mais velho, sem visualizar horizontes, nem conceber sonhos, deve ser correcto ficar em casa, dormir alguma coisa de preferência pela noite que está mais fresco, beber muita água que estou nos grupos de risco e pensar o menos possível, evitar o stress, evitar o real, e deixar-me andar.

O problema maior é que posso fazer tudo o que os médicos recomendam, os especialistas aconselham, e o que a minha consciência me sussurra, mas tenho dificuldade em seguir o ponteiro da bússola, em encontrar o norte, e deste modo, acomodar-me, sossegar, encontrar a tão recomendada paz de espírito.

Não consigo deixar de ter as minhas preocupações, de olhar para o meu dia a dia e não gostar do que vejo, de olhar em frente e perceber que tudo está envolto num neblina ou nevoeiro que me não deixa enxergar direito o porquê das coisas. E tenho um conjunto de pequenas coisas que não deixam de martelar a minha cabeça. É um matraquear de manhã à noite, umas vezes parece um martelo pneumático vulgarmente usado nas obras e que faz um barulho ensurdecedor, outras vezes assobia, como o vento quando perde o tino e leva tudo por diante assobiando sinfonias.

Às vezes temo perder o controle das coisas. Muitas vezes me questiono se vale a pena lutar para ser uma ovelha de um rebanho que pasta por aí na ignorância do mundo, obediente ao cachorro que dirige o rebanho, sempre alinhada, sempre no rumo, repetindo tudo igual cada dia.

Pergunto-me muitas vezes qual o valor que tem um ser assim. Não me incomoda o que os outros podem pensar de mim. Preocupem-se com a vida deles. Mas eu preocupo-me com a minha vida. Está vazia como a pilha que compõe o lote de fotos que coloquei hoje aqui. E muitas vezes me pergunto se vale de facto a pena colocar no carregador ou se é preferível perder a carga de todo. Deixar de funcionar. Fazer as contas da vida e abalar. Silencioso para que ninguém se aperceba e ninguém vai dar pela minha falta durante muito tempo. Ou dizendo adeus a tudo com pompa e circunstância, fazendo do acto algo turbulento, agitador, folclórico, sem solidão, fazendo até ao fim prova segura de que o homem é um animal social.

O Verão continua impávido e sereno, quentinho, a sua caminhada por estas bandas. É tempo de férias. É criminoso deixá-lo terminar sem qualquer festejo, comemoração, folguedo assim como se fosse um tempo perdido.

Se calhar é mesmo um tempo perdido... vou pensar nisso!













"O pensador é antes de
tudo dinamite, um
aterrorizante explosivo
que põe em perigo o
mundo inteiro "

Nietzsche                                                                                                                              











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