Sobre a verdade...
"Ao acionar a alavanca, a força central de meus joelhos contra as duas tábuas partiu-me ao meio os tendões dos músculos, e as rótulas dos joelhos acabaram esmagadas. Meus olhos saltaram das órbitas, espumava pela boca e rasqueava os dentes como o retumbar de um tambor. Meus lábios tremiam, gemia com veemência e o sangue brotava-me dos braços, mãos, joelhos e tendões rompidos. Depois de liberar dessas dores cruciantes, largaram-me no chão com as mãos atadas e essa incessante súplica: 'Confessa! Confessa!"*
Giordano Bruno
Galileu Galilei
Nicolau Copérnico
JOHN WYCLIFFE (1320 - 1384)
Wycliffe, teólogo inglês, precursor da Reforma, pregava uma Igreja sem a direção papal, era adversário das indulgências e combatia o excesso de bens materiais dos clérigos. Foi doutor de Teologia, advogado eclesiástico a serviço da Coroa, e tornou-se reitor de Lutterworth em 1374. Sua maior obra, contudo, foi a tradução das Escrituras para o inglês. A partir daí a Palavra de Deus se fez conhecida na Inglaterra. Ousado e destemido, Wycliffe atacou de forma brilhante o clero romano, acusando-o de explorar o povo e os governantes com a venda de indulgências; de criar clima de tensão e horror ao ameaçar os fiéis com excomunhão; de tentar conter a propagação da Palavra ao proibir a leitura da Bíblia e a sua tradução para línguas conhecidas do povo. Chamado a retratar-se por ocasião de uma enfermidade que muito o enfraqueceu, disse: "Não hei de morrer, mas viver e denunciar novamente as más ações dos frades". Tendo sido levado pela terceira vez ao tribunal eclesiástico, e acusado de heresia, Wycliffe declarou:
"Com que julgais estar a contender? Com um ancião às bordas da sepultura? Não! Estais a contender com a Verdade, Verdade que é mais forte do que vós e vos vencerá". Deus livrou Wycliffe da fogueira: faleceu repentinamente após um ataque de paralisia. Sua voz silenciou, mas sua fé em Jesus Cristo fez discípulos em todo o mundo
Actualmente verifica-se como então um perigoso risco defender a verdade. O mundo está envolto numa crise profunda de ausência de valores, e o homem vive num mundo de mentiras de faz de conta. O poder é minado nesta voragem a que é dificil colocar termo, pois as mentiras que envolvem titulares de órgãos de poder, altos funcionários, agentes polícos, instituições e entidades públicas instalaram-se nesta amálgama de mentiras, de justificações, de procedimentos, de decisões sem qualquer sentido do real. No meio desta confusão a ideia de verdade perde-se e tudo vai decorrendo sob um chão entulhado em lixo, pantaminices e invenções.
O homem que ouse lutar pela verdade, além de ser marginalizado, corre o risco de ser tragado nesta máquina voraz que é a generalização do irrealismo produzido, espalhado e aceite como regra. Hoje vale tudo para alcançar coisa pouca. O homem desceu à mais expressiva visão da degradação humana e sua miséria.
* Narração sobre uma tortura levada a cabo pela "Santa Inquisição". E depois de horríveis súplicios em que a vítima se encontra completamente destroçada e sob dores terríveis gritam-lhe que confesse. Quem não confessaria?
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