Como cidadão e depois de ter ido a uma Junta Médica na Unidade de Saúde Pública de Portalegre, depois de ter sido analisado o meu processo e os relatórios médicos de especialistas, pelo Excelentíssimo Júri, os doutos Autoridade de Saúde Distrital e de Castelo de Vide, Autoridade de Saúde de Monforte e a Autoridade de Saúde de Fronteira, vi ao contrário da motivação de requerer aquela Junta de Reavaliação de incapacidade por me encontrar "PIORADO, e essa palavra constar exatamente num dos relatórios que a interpretação de texto, em saúde é absolutamente enigmática para um cidadão normal. O Excelentíssimo e muito Digno Júri - gente que sabe, que conhece, que entende as técnicas e tem uma cultura acima do cidadão comum, - baixou a valoração da minha incapacidade pois entendeu da leitura dos ditos relatórios, que a tal palavra PIORADO expressava claramente eu encontrar-me melhor.
Obviamente roguei pragas e coriscos, percebi que tudo o que me parecera ser afinal era exatamente o seu contrário. O que os médicos não têm de aprender, Deus meu. E lá vai o parvo doente a pensar que está pior e justamente, para sua felicidade e aumento da esperança de vida, melhorou. Tudo pode ser um susto. O que leva a admitir que se o especialista escreve num relatório que o doente tem recuperado muito bem e está melhorado expressivamente, para os doutos de Portalegre, para as nossas autoridades de saúde pública, o melhor é a família preparar o funeral.
Ainda andei a procurar informações sobre a interpretação médica. Mas as regras estão controladas com todo o sigilo. Entende-se a classe médica muitas vezes é incompreendida. E entende-se numa análise aprofundada porque em situações de morte, que injustamente os familiares falam em irresponsabilidade, inépcia, e outras asneiras, raramente se vê o reclamante ter razão. Mesmo na justiça. Logicamente que do assunto sabem os médicos, os senhores magistrados, polícias, e gente ordinária não entende patavina do assunto.
Curiosamente, a interpretação médica pode provocar equívocos maçadores, criadores de conflitos e dúvidas. E com razão. Por exemplo no meu caso, e sem por em causa a inteligência e o discernimento das doutas autoridades da saúde pública de Portalegre, andei observando por todo o lado que poderia ser entendido com "PIORADO".
E tudo o que encontrei vai no sentido contrário da intrincada ciência médica e seus sobredotados técnicos. Ora vejam:
Uma verdade me parece basilar para uma qualquer interpretação de texto, não pode ser-se de todo analfabeto, isto é, não saber ler, ou o fazendo ser de modo tão pouco capaz, que não resulte a extração de qualquer ideia do que se lê.
Há técnicas de interpretação de textos. Desde aquelas mais simples que nos permitem, por exemplo, o acesso à generalidade das obras literárias, e às informações que necessitamos ler cada dia através de jornais, panfletos e propaganda e informações. Denomina-se o método de interpretação literal. Lê-se tal qual está escrito e dessa forma deve ser compreendido.
Há contudo profissões em que o rigor e o fim de uma leitura não se mostram muitas vezes suficientes para o entendimento de quem lê. A interpretação literal é insuficiente. Acontece, por exemplo, no direito, no acervo legislativo. E pode mesmo afirmar-se que interpretar leis não é tarefa fácil, sendo que, alguns professores de direito sustentaram já que muitos advogados não conseguem fazê-lo muitas vezes com o rigor necessário, o que pode levar a situações complexas. De tal modo é conhecida essa dificuldade que o direito estabelece mesmo, além da interpretação literal, outras regras a observar, como o fim teleológico, quando o legislador disse menos ou mais do que seria perfeito. A título de exemplo, a lei que permite os fins, permite os meios. E a lei que permite os meios permite os fins. E ainda existem mais umas regras como nomes pomposos latinos. Interpretar como vemos por exigir domínios claros de técnicas.
Mas no direito, ao contrário do que parece existir nas ciências médicas, o intérprete não pode em condição nenhuma ir contra o que está rigorosamente expresso. Por exemplo se diz proibido, o jurista não pode em condição alguma interpretar como aceite, legal, de acordo com a legalidade. Pode existir muita técnica a explorar nessa norma, mas se expressa proibido, tem de ser proibido. Daí que a interpretação literal é sempre por onde se começa a tarefa de interpretar. Só em situações de dúvida, isto é, que a lei não expresse claramente, o jurista, e tem de ser bom, vai socorrer-se de várias regras para conseguir chegar àquilo que estaria na cabeça do legislador, mas ou não ficou completamente expresso, ou ficou de modo pouco claro.
Com a ciência médica - e entende-se - a interpretação também tem regras que só os profissionais poderão conhecer. Creio que na essência das técnicas interpretativas em medicina o sentido primeiro está em condicionar a informação a quem tem preparação para a conhecer e dificultar o acesso a pessoas não entendidas, e que perante uma leitura simples, literal, poderiam de tal modo "desentender" em bom rigor o que está escrito, que poderia o doente, por exemplo, perante uma interpretação errónea do seu estado de saúde, sofrer sem justificação, ou mesmo em casos limite, e penso estará aqui a essência de tão melindrosa e especial interpretação, tomar atitudes, comportamentos, absolutamente desadequados à realidade, e comprometer tratamentos ou levar a situações definitivas como o suicídio.
O texto seguinte indica cuidados básicos na interpretação que todos fazemos nos nossos dias. A interpretação literal:
Uma interpretação de texto competente depende de inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente, o que não é verdade. Interpretar demanda paciência e, por isso, sempre releia, pois uma segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes que não foram observados anteriormente. Para auxiliar na busca de sentidos do texto, você pode também retirar dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleatória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias supracitadas ou apresentando novos conceitos.
Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com cuidado certamente incorre menos no risco de tornar-se um analfabeto funcional e ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece nossas dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos!
Porra ser médico não é para todos, lá isso não...
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