VIOLÊNCIA DESUMANA...
O Papa Francisco pediu a Deus que liberte o mundo da violência desumana do terrorismo. Em boa verdade só o fanatismo parece gerar uma calamidade destas proporções - como o bárbaro assassínio perpetuado em Barcelona - ou outras manifestações horrendas, que nenhum espírito parece aceitar, e que o terrorismo islâmico vai cometendo um pouco por todo o mundo, à margem de tudo, ceifando vidas de inocentes cidadãos, a todo o tempo.
Vivemos pois uma situação de calamidade mundial. O terrorismo não conhece fronteiras e ninguém está a salvo em qualquer momento e em qualquer lugar.
Nestes momentos, ouvimos falar que não podemos ter medos, que o terrorismo não pode mudar o nosso modo de vida, que a ideia de dignidade humana tem que4 estar presente em cada dia, e que esta desumana violência, gera lágrimas, desespero, ceifa vidas, recorda-nos a importância nas nossas vidas de conceitos simples mas que muitas vezes parece que esquecemos, de humanidade, de dignidade, de amor, de tolerância e outros mais.
Na minha modesta opinião - sou um simples ser que procura nos seus parcos conhecimentos a causa das coisas - estes fenómenos dificilmente serão resolvidos por Deus. Se o fim do mal, do terror, da maldade, da violência, das guerras, estivesse nas mãos de Deus, tudo isso não seria sequer alvo de pedidos misericordiosos para que terminassem, simplesmente não existiriam. Deus não fez o mundo para que estes actos sejam executados e próprios do seu ser eleito. Nem Deus existe para lhes colocar cobro. Deus deu ao homem tudo para que o homem pudesse ter uma vida boa. E quando dá a esse ser o livre arbítrio, dá-lhe a autonomia para escolher entre o bem e o mal. Essa capacidade de escolher só existe no homem. Decidir. O fim do mal, se expressando na vida do mundo e entre os homens como o conhecemos, está nas mãos do homem e não nas mãos de Deus. Jesus Cristo veio ao mundo, veio agitar os poderes estabelecidos, veio revolucionar, foi um agitador, e por isso a sua mensagem não foi bem acolhida, e ele foi morto por ensinar aos homens a arma mais poderosa de sempre; o amor.
Com amor, simplesmente estes tenebrosos temas nem seriam falados ou discutidos. Não existiriam. Com amor o homem viveria feliz, cuidando de si e dos seus, do seu semelhante, dos outros e da terra e dos que nela estão. Com amor nem nas ideias se imaginaria um ser humano, criança a morrer de fome, e uns milhares de quilómetros ao lado deitam-se fora toneladas de comida, ou gasta-se dinheiro suficiente para acabar com essa violência desumana em máquinas de guerra.
É uma violência desumana países moralizadores, avançados, desenvolvidos, potências económicas e culturais, venderem armamento a terroristas e a regimes totalitários onde as armas são a lei da intolerância, da opressão, da limitação ou anulação das liberdades, e a morte.
Um acto limitador das liberdades, uma injustiça que vai perturbar a vida de uma pessoa tirando-lhe o sentido ou o futuro, os actos de corrupção que proliferam pelo mundo fora ao abrigo de legislação branda feita por gente a quem interessa essas práticas, a força violentando crianças, mulheres e idosos, tudo são manifestações de violência desumana. Bruta. Que os humanos mantêm simplesmente porque tudo o que existe e se faz é coisa sua.
Fala-se nos estados de direito nas ideias de justiça, na transparência dos actos administrativos, na administração pública subordinada ao direito, mas nesses estados, ou na grande maioria deles, tudo é pouco mais que palavreado escrito nos seus códigos de ética. E tudo são enredos políticos, grupos de pressão, gente que está acima da lei, direitos que parecem ser de todos mas só alguns possuem, e essa amálgama de falcatruas são geradoras de violências desumanas.
Há muitas maneiras de se matar uma pessoa, ou um grupo delas. Pode matar-se uma pessoa em segundos, mas existem maneiras de levar uma pessoa à morte através de perseguições, maus tratos, escravidão, e muitas subtilezas. Normalmente, nem se associa essas ocorrências, que mais parecem vicissitudes do mundo moderno, às violências desumanas que escondem, e onde muitos poderes preferem nem tocar.
O Papa Francisco é um maravilhoso sucessor de Pedro. Ele sente uma mágoa atroz cada vez que assistimos atónitos a calamidades destas feitas por seres que definimos por racionais. Estas violências são tão explosivas e mediáticas que tocam fundo em muitos corações. O Papa Francisco pede a Deus. Eu peço a Deus. Todos pedimos a Deus. Mas continuamos a protelar com um sistema global que esqueceu a moral, que fala de ética mas não sabe o que significa, que fala em cidadania mas que não acautela os direitos basilares dos cidadãos.
Falar neste momento em educação é insuficiente. Lidamos com um extremismo religioso que garante aos que matam o bem supremo, e que inculca em cada extremista a convicção plena que matar infiéis, destruir as suas coisas, é obra divina, é a salvação.
Quantos milhões de seres não mataram já os cristãos. Em guerras santas. E os crentes de outras religiões também já tiveram as suas inúmeras batalhas.
O problema deixou de ser educação. No ocidente recomendava-se, as democracias estão doentes, a justiça está ineficaz e muitos crimes parecem desconhecidos, a política que devia ser missão nobre é vista como um assalto despudorado da incompetência e do compadrio à manjedoura do poder, a palavra deixou de ser garantia, e num sistema maioritariamente de representação, faz-se exatamente o contrário do que legitimaria essa representatividade. No ocidente, para evitar violências desumanas no futuro, deveria estudar-se obrigatoriamente, ética, moral e cidadania. Num contexto livre de religiões. O problema é a religião. O problema são os fanáticos que matam por um deus que quer sangue. Não conheço remédio para esse mal.
Mas imagino que muitas violências desumanas terminam quando o homem quiser. E se o homem for pedir para Deus fazer o que é seu, é profanar, é heresia, é como que devolver a Quem lhe deu o seu bem mais precioso, o livre arbítrio, e abdicar da racionalidade e da capacidade de decidir. Se coubesse a Deus fazer tudo o que o homem deve realizar, não fazia qualquer sentido sermos diferentes dos demais animais. Trocaríamos a responsabilidade pela irresponsabilidade, a capacidade pela incapacidade, a inteligência pelos instintos. Não foi isso que Deus esperou do homem. Nem o homem de bem pode imaginar tal. Mas há que questionar, há que reflectir. O mundo virou uma bomba. As violências cometem-se a todo o momento, em todo o lado e de todo o modo.
Temos que pedir a Deus é força, inteligência, vontade, capacidade de mudar e revolucionar o mundo, a vida, e o homem. Um homem novo, trará uma sociedade nova, umas nações novas, um mundo novo. Depois cuidaremos da terra, se ainda formos a tempo. E depois teremos paz. Sem a mudança, antes de termos paz, perderemos o mundo, as nações, a sociedade e o homem. E a própria terra perecerá connosco.
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