quarta-feira, 16 de agosto de 2017

ESTE PAíS ANDA FOLCLORICAMENTE PERDIDO


A paciência serve de proteção contra injustiças como as roupas contra o frio. Se você veste mais roupas com o aumento do frio, este não terá nenhum poder para feri-lo. De forma idêntica você deve crescer em paciência quando se encontra em grandes dificuldades e elas serão impotentes para atormentar a sua mente.

Leonardo da Vinci

























Neste país prospera a mediocridade e os que praticam a injustiça. Pode mesmo dizer-se que ambas andam de mãos dadas. E, entre o pó que se eleva cada vez que se atropelam os imperativos morais e as leis, imaginam garantir a impunidade e passar despercebidos os injustos e os desprovidos de senso, aos quais se vem juntar uma legião de gente reles, que também vive da violação da ética e das normas de organização social. Uns e outros, vivem na ignomínia, na ilicitude, na cumplicidade organizada, entre os que desesperadamente, levantando tanta poeira estão impossibilitados de ver a luz. Dentro de si mesmos. Podem até luxar, podem até recorrer a fantasias caras, mas nunca deixarão de ser patéticos palhaços impedidos de brilhar. A luz própria apaga-se com a canalhice. E provocar dano nos outros para serem deuses os mergulha nas profundezas sombrias de um inferno que vai esvaziando a alma e entorpecendo o brio que alguma vez puderam sentir.

Neste país o crime compensa. Recorda-me, olhando em meu redor a antiga frase de um Portugal que só aparentemente deixou de existir; "foge cão, que te fazem barão"... Nunca se viu tanta mediocridade e incompetência nos comandos da coisa pública. Tanta impunidade. Bem dizia Platão há mais de 2400 anos, quando apontando ao risco do afastamento dos melhores, prevenia o governo pelos piores. Hoje, não há regras, mistura-se a tirania dos partidos com o compadrio, com as famílias dominantes, com os ricos e poderosos, tornando este país uma espécie de mera aparência, com efeito só um distraído poderá defender que vivemos numa democracia, ou num estado de direito, ou que a administração pública se subordina às leis, ou que o mérito é procurado e reconhecido, e que o interesse público, a moral, a boa convivência dos cidadãos são fins, daqueles eleitos que deveriam responder pelo estado calamitoso a que chegou o país.

Vivemos de notícias nas televisões. A realidade de cada um esconde-se atrás das tragédias que servem para acalmar os que buscam a verdade, dos feitos cheios de amoroso afecto para com a desgraça que todos podem ver, das picardias políticas em que vale tudo, até as mais tristes vicissitudes para atacar exatamente o que se fez, e se pretende não lembrar, e vamos saltando de farsas em farsas, em que não existem nem melhores nem piores, mas cópias. O poder revela as pessoas. Vivemos num mundo onde pensar uma vida melhor é uma impossibilidade. A vista é curta, nada se programa para o futuro, o país não tem um plano, uma missão, e aqueles que deveriam tomar em suas mãos a organização de uma vida boa, num país que tem tudo para não ser a miséria que se conhece, ou ali estão olhando o seu interesse, ou destruindo incompetentemente as possibilidades de contruir. 

As leis são para alguns. A justiça é uma miragem. Há milhares de seres que actuam à margem da legalidade e tudo parece harmonizar-se para que nada obstaculize esses comportamentos miseráveis, e os actos ilegais e os danos que originam caem em profundo esquecimento.

Os que protestam, são loucos, são agitadores, contestam tudo... É perigoso. Dizer a verdade faz nascer inimigos. E defrontar gente poderosa que faz barbaridades é ser completamente irresponsável e arriscar tudo. A história apresenta uma lista interminável de agitadores que foram calados, sofreram danos e se viram privados da liberdade, e alguns da própria vida.

Para nosso contentamento. Nenhum império do mal deixou de cair. E muitos dos que caíram defrontando as forças malignas livraram-se da lei da morte e ainda hoje, séculos depois das atrocidades que sofreram se tornaram seres que tocaram, que lutaram e acabaram por mudar o mundo.

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