sexta-feira, 25 de agosto de 2017

DEPOIS DE TANTA REVOLUÇÃO E PROGRESSOS...














O HOMEM FOI INCAPAZ DE ACABAR COM A POBREZA, A INJUSTIÇA,...


O homem tem milhões de anos. Apresenta-se hoje, exatamente como é, fruto de uma evolução não só verificada em si próprio como em tudo o que o envolveu. Tudo muda. O mundo mudou, o ambiente mudou, e com adaptações que todas as transformações iam exigindo o homem mudou também. Até ter a fisionomia que aparenta o tempo passou como se, não existindo máquinas para o aferir, estivesse sonolento, preguiçoso, e o decurso da sua existência é impossível de determinar com exatidão. É um enigma para a ciência que não pode sequer definir onde e quando apareceu o primeiro ser a receber a denominação de homem. E depois de ser conhecido, de sabermos que existia por aí, muito tempo, muita lentidão foram acompanhando as suas evoluções que a ciência já consegue com mais ou menos rigor apresentar. Antes da escrita só temos ideia do homem através de objectos, de partes ou esqueletos, utensílios, armas de defesa, pinturas em grutas e cavernas, vestígios que deixaram da sua presença. Com a história tudo se tornou mais claro e narram os historiadores desde há milhares de anos velhas civilizações, antigos impérios, povos, e o que as essas comunidades se ligava, deuses, feitos guerreiros, organização política e social, como viviam, suas expressões artísticas, culturais e religiosas, os seus reis, imperadores, e com o aproximar dos nossos dias se foi conhecendo mais minuciosamente a vida do homem, as suas lutas, as suas motivações, os estratos e a convivência social, que traficavam, com quem e como se relacionavam. Percebe-se que a vida do homem é mudança, e tudo muda não apenas porque mudar é uma lei universal que ninguém contesta, mas porque o homem ao longo dos tempos teve necessidade de lutar contra as suas angústias, as adversidades, teve de dar campo aberto às suas vaidades, manifestações de poder e possuir, ideias de glória. 

Assistimos a imensas revoluções. Só a revolução provoca fracturas, destrói paradigmas, cria novas realidades. As revoluções são genericamente corolários de sonhos, ideias, que alimentaram lutas, perda de vidas e banhos de sangue, e destroçaram o que existia. Nascia um novo paradigma, e nasciam novos sonhos, novas ideias, e deram-se novas batalhas, e outros morreram para que tudo deixasse de ser exatamente como era para passar a ser um mundo novo. O homem levou demasiado tempo para erradicar a escravatura, conhece-se essa quimérica saga de Spartacus que levantou consigo os escravos gladiadores e ameaçou o poderoso Império Romano, sabe-se da vergonhosa época em que os países civilizados e a Igreja aceitavam o tráfico de escravos negros de África que em condições inaceitáveis atravessavam o Atlântico e eram vendidos na América do Sul, por nós portugueses em terras do Brasil, conhece-se a triste guerra americana que opôs os que lutaram pela liberdade do norte contra os sulistas esclavagistas. Hoje, diz-se, esse flagelo terminou.

Desenvolveram-se as ciências, desenvolveu-se a técnica, muitos se dedicaram às humanidades, o homem, o progresso, o bem estar, a solidariedade, a justiça, a felicidade, palavras que habitaram séculos e séculos na mente de pensadores e filósofos primeiro, mais tarde acompanhados de gente do rigor do racionalismo, da razão e da ciência, tornaram-se motivo de novas exigências e muitas transformações. Já a Revolução Francesa deixara as sementes de um mundo novo onde não mais se perderam as ideias de liberdade, igualdade e fraternidade. 

Não se entende, em pleno século XXI, com o acelerado desenvolvimento científico e técnico, com as novas ciências, com inumeráveis políticos um pouco por todo o mundo prometendo vidas melhores, com tantas lutas e tantas revoluções, ainda se mantenham verdadeiras chagas que não parecem atrair verdadeiramente o interesse dos que podem, de acabar com a pobreza, de acabar com a fome, de não garantir saúde, paz e liberdade, a milhões de seres humanos.

Nos países ditos civilizados, também existe pobreza, também encontramos marginalizados, também encontramos pessoas privadas de uma vida digna ou de uma liberdade autêntica. A justiça ainda é uma miragem, as democracias estão anquilosadas, os cidadãos apenas aparentemente fazem parte das decisões.

Grupos de pressão, corporações, movimentos políticos, interesses económicos, poderes públicos e elites ou profissionais de excepção movem-se com uma impunidade sufocante, e sem que se vislumbrem protestos poderosos a horrores que sustentam - e de que gozam e retiram dividendos - como a corrupção, abuso de poder, máquina administrativa pública emperrada e ineficaz, mal organizada e pessimamente dirigida,  justiças inconsequentes, ou que não funcionam, ou que tão mal se movem que quando produzem alguma coisa, só pode ser injustiça, desigualdade no direito, e existência de problemas sociais gravíssimos, com situações aberrantes de perdidos, por si mesmos e pela obra de outros, ao abandono, sem abrigo, às intempéries.

















Impressiona-me como algumas pessoas utilizando poderes que lhe foram confiados para fins de interesse público, desviam esse poder, e abusam dele atropelando princípios, regras, deontologias, e leis, e desse modo actuam ilegalmente, usurpando direitos dos cidadãos, criando-lhes situações dramáticas e provocando-lhes danos de todo o tipo. Mas porque é que essas pessoas usurpam poderes, praticam imoralidades, violam a ética, riem da lei, e não ganham nada, apenas fazem os outros perder, se necessário tudo, ou mesmo a vida? Poderão estar a alimentar egos doentios à conta de gente que vão destruindo. O seu ego alimenta-se de sangue, suor e lágrimas. A sua vaidade incha com o desespero e a angústia que provocam nos outros. Como podem não ver isso?

E o mais grave, e passa-se em Portugal, esta gente faz o que quer, faz o que lhe apetece, e depois têm à sua disposição uma legião de comparsas, que escondem as reclamações, levam meses e anos enganando os desgraçados, tapam-se uns aos outros. E a luta por justiça, mais que uma luta pela dignidade, pela sobrevivência torna-se épica, pois num combate tão desigual só a resistência já é heroica. Num estado de direito que justiça, que estado, permite que gente sem sentido da moral, sem competência desempenhem poderes que discricionariamente e à vontade do freguês, fomentam uma desigualdade aterradora, mostram uma cumplicidade que é absurdamente triste e riem com uma impunidade quase certa, já que o tempo corre na eliminação dos que destruíram, e em abafar os crimes. 

Ainda há muita revolução para fazer. Não da mente. Já temos mentes a mais. Mas do coração. Só com o coração podemos pensar numa revolução para termos tudo novo, a começar pelo homem. Depois virá necessariamente um outro mundo, sem as tais coisas que não querem acabar; a pobreza, a violência, a injustiça, as guerras, a corrupção, a desigualdade. Talvez um dia exista um mundo assim. Esse mundo não pode nascer da tirania de um grupo de esclarecidos que vão matar outros para imporem o "seu mundo". Que depois será contestado pois leva a violência, e o mesmo homem. Esse mundo nascerá de novos homens, e será alimentado pelo coração. Podem chamar-me poeta. Ou louco. Mas prefiro ser tudo aquilo que me quiserem chamar mas ter a consciência mais ou menos limpa, pelo menos estou do lado dos que buscam um mundo melhor, do que fazer parte daquele séquito de canalhas que as democracias sustentam e tanta desgraça e injustiça espalham. Que seja louco, aflige-me gente normal.





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