quarta-feira, 30 de agosto de 2017

IRREVERÊNCIAS













Além duma paixão obsessiva por justiça, pelo que deve ser, sou de uma irreverência fora do comum que permitiu que crescesse na adversidade e sempre só, nunca pedi auxílio a ninguém, enfrentei toda a minha vida os problemas, naturais e os provocados por gente que se baralha com a diferença e se perturba com a verdade. 

Deus construiu o mundo, o holandês a Holanda e eu a mim mesmo.

Tenho na minha cabeça uma amálgama desenfreada de sonhos e de pesadelos. Verdadeiro pesadelo é pensar constantemente que só a bestialidade que existe no ser humano permite que tenhamos um mundo medíocre, canalha, violento, onde ainda se luta para sobreviver e ter uma vida digna, quando se gastam fortunas imensas em apetrechar as potências senhoras do terror com armamento capaz de destruir sete planetas iguais ao nosso. E sonho que o ser humano tem dentro de si tanto amor que poderia sem esforço acabar com todo o modo de tiranias, prepotências, guerras, violências e não permitir que ainda morram crianças de fome, ou que existam pessoas grandes e outras pequenas.

Podia ter uma vida serena e tranquila. Bastava-me submeter-me ao desequilíbrio e à loucura absurda que governa o comportamento humano. Bastava-me ser lacaio de meia dúzia de seres que se julgam grandes e em bom rigor, a sua grandeza é apenas uma aparência pois no seu interior tudo é negro, é pequenez, e cheira mal. Bastava-me não questionar nada, ser uma ovelha no rebanho e seguir o pastor. Bastava aplaudir meia dúzia de idiotas que orgulhosamente e com o aplauso dos seus comparsas colocam a sua incompetência na construção de uma convivência cada vez mais suja, menos digna, e menos boa.

Um dia alguém que para mim se tornou uma referência disse-me, "Pedro, tu não vais poder mudar o mundo. Mas podes escolher de que lado te vais colocar. Uns gostam das coisas como estão. Outros acham que o que está pede mudanças e o mundo deve mudar". Escolhi estar do lado dos que lutam por um mundo melhor. Sou apartidário, não me seduz a tirania de pertencer a grupos organizados que pensam ideologias que depois formatam na cabeça dos outros. Gosto de pensar por mim. E independentemente de cores partidárias tenho pessoa que admiro ou abomino, vejo políticas que devem ser seguidas e merecem aplauso, ou vejo absurdos que apenas destroem o país, que tem tudo para ser uma lugar bom para se viver e onde ter qualidade de vida, mas por razões que deixo aos homens da ciência é um país arruinado, sem rumo, de desequilíbrios assustadores, que vai vogando sem rumo, sem missão, sem futuro.

Fiquei órfão de mãe com 6 anos e de pai com 20. Muito cedo tive de aprender à minha custa o preço de enfrentar só a vida. O mundo está cheio de predadores e de cobardes que quando se apercebem da fragilidade humana, sentem crescer água na boca e partem ao ataque. Desde muito cedo estive metido nessas guerras. Aprendi à minha custa. E surpreendentemente nunca necessitei pedir ajuda para me defender. Enfrentei as lutas como o ser ou não ser capaz. E perdi o medo quando perdi batalhas e ganhei outras. A guerra nunca a perdi. Perder a guerra é o mesmo que morrer. Só luto por amor, pelo direito, pela justiça, pelo que deve ser. Ajudei imensa gente mais fraca que eu ou alvo de injustiças e atropelos de gente canalha. Disse sempre o que pensei. Não minto e detesto mentirosos. O mentiroso é um ser desprezível que esconde dentro dele uma pequenez que o atrofia e que faz dele um doente, um escravo, um infeliz. Quanto mais poderosos são os maus inimigos mais me apuro e mais ânimo tenho de vencer. Já venci gente muito mais poderosa que eu, inclusive na justiça. Lutar faz-me bem, obriga-me a concentrar-me, organizar-me, pensar, reflectir, e colocar todo o meu ser nos combates que travo. Luto sempre até à morte quando se tratam coisas de honra, dignidade, justiça. 

Abdiquei de uma vida boa quando ainda não tinha 20 anos e fui convidado para pertencer a uma tribo ideológica. Se tivesse aceite tinha todas as condições para hoje estar muito bem. Mas não teria sido livre. Abdiquei de muitas coisas boas quando coloquei sempre os outros à frente dos meus projectos e ambições pessoais. Fiz o secundário e o 12.º ano com médias de 18, tive 20 a português no 10.º ano, e entrei serenamente por direito, numa Universidade Pública prestigiada onde frequentei alguns anos o Curso de Direito. Também abdiquei do Curso de Direito por causas de interesse familiar. E antes de mim sempre estarão aqueles que amo. Fui voluntário social e presidi a uma instituição do sector social por mais de 5 anos, participei na direcção de várias associações, fui sindicalista - não por ideias políticas mas por defesa do que é o direito - fui membro de Associação de Estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa. Participei em Congressos no estrangeiro e fui numa viagem de estudo a convide da Associação dos Estudantes Africanos a Cabo Verde. Esses dias foram contados como dias de trabalho efectivo pois entre a missão da visita estavam programas de saúde e levei documentação, e material que a Sub-Região de Saúde me deu para oferecer ao povo cabo verdiano. Fui em comissão de serviço. Toda a minha vida dei. E pouco recebi em troca. A ingratidão magoa, mas não impede que o ser continue a lutar por causas dignas e ajude o seu semelhante quando precisa. Nunca me verguei aos doentes ou tiranos que tentaram apequenar-me. Senti muitas vezes que uma mão invisível me guiava e me fazia ultrapassar barreiras que pareciam intransponíveis.

Normalmente destroço quem me ataca. Ou o divino algumas vezes se encarregou de o fazer. O meu lema é não há morte mais digna do que aquela que se encontra no campo de batalha quando lutamos contra o mal, os ímpios, a canalha, os que estragam a boa convivência e destroem gente só porque cobardemente têm de fazer danos para se sentirem pessoas.

A morte não me assusta. Diria mesmo que nos damos bem. Muitas vezes dialogamos. E já tentei sair da vida por decisão própria e incompatibilidades com um mundo que não consigo entender. E muitos anos pedi a Deus para me levar. Nunca morri, e Deus nunca me levou. Estou aqui por alguma coisa. Algo me obriga a estar. E aqui estou. Estou doente, enfraquecido - os cobardes logo aproveitaram para me atacar - mas apesar de me sentir muito cansado e tudo o que faço me esgota, e nem sempre o faço como planeio, e levo tempo, e me sinto exausto, não me rendo. Esta é uma grande, talvez mesmo a maior batalha da minha vida. Podia pedir ajuda. Mas se nunca o fiz, vou agora depois de velho quebrar algo de que tanto me orgulho, enfrentar só as adversidades sejam elas do que tipo que forem? Não. Vou lutar e vou ganhar. Mesmo a minha morte na luta só pode ser uma vitória. O amor que leva de vencida as forças do mal, a ignomínia e a vilania. Medo nunca tive. Deus é senhor dos meus passos. Seja feita a sua vontade. 

E na morte serei igualmente irreverente e explosivo. Será algo que vai abanar muita gente e ser notícia. As pessoas tem de perceber como se matam pessoas, como se escravizam pessoas, como se tenta amesquinhar e pisar o ser humano. Muito está por desvendar, por descobrir, a minha missão é ser a porta e abrir tudo ao conhecimento e obrigar a agir, reflectir, pensar o mundo e a vida.

Depois, em bom rigor, tudo permanece. tudo muda, mas permanece. Eu vou mas fico. E na mente de muita gente vou permanecer por demasiado tempo. Enigmas. Irreverências. Vale a pena lutar, e efectivamente os grandes combates são destinados aos maiores guerreiros.

Deus se apiede de vós, que não sabeis o que andam a fazer. Deus vos ama. Arrependei-vos e ainda terão tempo de conquistar a imortalidade. Olhem o amor que existe dentro de vocês. Não o mantenham amordaçado. Isso só vos faz mal e vos afasta a felicidade.





Sem comentários:

Enviar um comentário