segunda-feira, 12 de setembro de 2016

ESTAR DO OUTRO LADO DO MUNDO








O que é para um homem 
a vergonha abstracta de um país
quando comparada com a 
sua vergonha pessoal, as dores
silenciosas da sua humilhação? 
No grande plano da
História, o sofrimento é sobrevalorizado pelo colectivo e
diluído na multidão. 
No plano fechado do indivíduo, as
angústias têm de ser digeridas a frio, na solidão, sem que
ninguém nos possa valer.

Há certos momentos das nossas
 vidas (e eu tinha a sorte de já ter experimentado os extremos do espectro), tão felizes ou tão desgraçados que a ideia de 
altos & baixos desaparece. 
Em ocasiões semelhantes, todo o ambiente à nossa volta é tão homogéneo, seja translúcido
 ou opaco, que nos impede de ter uma percepção correcta do lugar
 em que nos encontramos.
 Há momentos em que subimos
 tanto que não é possível 
manter-se a noção de altitude. 
Por outro lado, há momentos em que tudo corre tão mal que a ideia de que existe um mundo lá em cima nos abandona e a tristeza deixa 
de pesar, como se as leis universais
 ficassem suspensas, à espera de que a nossa vida se resolva para só então voltarem a impor a sua serena e inquestionável autoridade. 


Portugal 
n. 1978 
Escritor / Crítico Literário 






















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