quarta-feira, 24 de agosto de 2016

PENSAMENTOS AVULSOS SOBRE ÉTICA, INFIDELIDADE, CONFIANÇA E CANALHAS





insignificantes pensares sobre a puta da vida




A ética que ao contrário da moral não estabelece regras singulares, para cada um, - com a força comparável a se não fazer determinada coisa que nos desperta o desejo mesmo que ninguém nos estivesse a ver, ou fossemos invisíveis - pode aceitar-se como um conjunto de normas de convivência que se estabelecem entre várias pessoas, empresas, grupos, sociedades. Não se trata de imposições, de leis, mas de decisões que todos partilham e que têm em vista uma vida boa. Comporta escolhas e decisões, é um acto de angústia, pois o que se decide necessariamente impede outros actos ou acções, e existe sempre o receio de se fazer ou não a melhor escolha. 

O fim da ética é sempre proporcionar a um determinado conjunto de pessoas um conjunto de decisões a considerar e cujo fim necessariamente é proporcionar a melhor vida possível entre todos os que compõem esse grupo. 

Hoje deixou de se falar em moral para se falar em ética. A moral parece coisa de velhos de outros tempos. Mas do mesmo modo que a moral condiciona o comportamento do sujeito que pensa e tem que decidir uma determinada acção, também a moral colectiva, que toca de modo idêntico os membros de uma comunidade acaba por influenciar as decisões éticas.

A ética implica sempre uma escolha, e pode ser uma decisão bastante complexa, pois ao se optar por determinado comportamento que garantirá bens futuros, deixam-se para trás outros comportamentos, gratificantes muitas vezes também, e da escolha pode perfeitamente resultar perda de benefícios.

A ética existe nas relações entre pessoas, no trânsito automóvel pelas estradas e nas cidades, nas empresas, nas profissões, nas sociedades, e nos povos. E não se trata de filosofia descrita por Platão, ou escrita por Agostinho, ou fruto do pensamento kantiano, ou de algum contemporâneo iluminado, a ética está ligada às pessoas e ao comportamento humano, e como as pessoas e a vida, muda todos os dias, o que existe hoje não é necessariamente o que vai ver-se amanhã, e a ética vai mover-se, vai dar resposta, de acordo com a vontade de todos, a continuadas harmonizações que acabam por garantir uma convivência melhor durante as mudanças que se verificam constantemente.

Depois de percebermos que a ética não é uma tabela de não faz e de faz, e que a seguindo se vive melhor, pois isso seria petrificar o mundo que nunca pára, sempre se move, sempre muda, de modo que o que parece tabela vai constantemente recolher novas situações e abandonar outras, fruto natural do desenvolvimento do mundo.

A ética implica compromissos pois é assumida e foi por todos aceite como conjunto de comportamentos que tem em vista a convivência de modo harmónico. Aquele que viola a ética apresenta um comportamento canalha pois ao retirar benefício de um comportamento desviante vai provocar dano e prejuízos a muito mais pessoas, e muitas vezes a imensas. O canalha despreza a ética e prejudica a convivência.

Existem mais ameaças à ética que fazem parte da vida do homem e o acompanham em cada momento. Por exemplo a infidelidade. A infidelidade é a quebra de algo que se acordou no passado, de promessas feitas, da palavra dada, e ocorre frequentemente pois justificando a mudança que o tempo provocou manter-se no acordado, traduz-se numa perda de vantagens, de benefícios, de interesses, de lucros. 

Justificar-se-á assim a infidelidade, como uma quebra aceitável de acordos antigos, de palavras dadas e que entretanto se esqueceram? Será sensato manter-se fiel ao prometido e perder tudo o que de bom se pode obter com a quebra da promessa? 

Se existir infidelidade estamos perante um caso evidente de perda de confiança. E se a pessoa rompe com o que prometeu para quê ouvir uma pessoa que não cumpre com o que diz? E se a pessoa deixar de fazer o que acordou quem mais estará interessado em encomendar algo a fazer a quem não cumpre?

A quebra de confiança é um golpe duríssimo que vai afectar para sempre quem não é confiável. E finalmente, podemos questionar, como pode uma pessoa desempenhar uma tarefa ou ter um cargo se essa pessoa já se mostrou indigna, já se mostrou pessoa não confiável, e tudo o que vier a fazer não tem a confiança dos outros.

A vida é complicada, e estas reflexões me levam tempo de mais e reconheço humildemente que não tenho conhecimentos para dar respostas. Mas me preocupo com o mundo e a vida. Com os princípios e com os valores. Com uma vida que possa ser vivida plenamente com seriedade, honra, e integridade. 

Acredito que o próprio canalha deseje para os seus filhos uma educação com os valores que não segue, que o próprio canalha deseje ser excepção, que o próprio canalha adoraria que a vida fosse boa.














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