Acredito que um aliado me acompanha:
- Deus!
O deserto começa por meter-nos um medo terrível de que seja uma imensidão sem fim de areias, com dunas de todas as dimensões e em todos os lugares. Parece que deixámos a terra e caímos num planeta novo, onde só se ouvem os ventos, se olham as areias, e se deseja o azul do céu. Tudo o mais é inumano, é solidão, é inexistência de qualquer coisa, é vazio ilimitado. Atravessar esse tormento, esse caminho inexistente, caminhar levantando nuvens de pó atrás dos pés que carregam areia é andar transportando nos pés todos os erros de uma vida, os pecados cometidos, as imperfeições que trazemos connosco. Nunca me imaginei num deserto. Estamos mais sós e sofremos menos que numa prisão e contudo continuamos livres. Somos senhores do querer, da vontade, podemos fazer opções, mas temos de suportar as angústias permanentes de cada passo, de cada escolha, de cada olhar. E nas noites frias deliramos em busca da estrela que nos vai salvar guiando-nos a um lugar seguro. E ficamos inebriados com a multiplicidade de pontos luminoso lá no alto. E apesar de umas estrelas possuírem mais luz que outras, a confusão é tanta, que não existe candeia nenhuma a seguir. Quando chega a aurora percebemos que continuamos no centro de um vasto mundo composto de areia e nada mais e caminhamos à deriva, acreditando numa espécie de intuição salvadora que cuidará de nós. Do nosso lado apenas podemos contar com a nossa fé, cuidar que não se deixe abater, que não vacile, que não desista. E em vez de irmos conversando connosco mesmo vamos orando desesperadamente ao nosso Deus. Nele reside a nossa esperança. Só ele nos pode salvar. Ou nos levando para ele e nos afastando de todo deste vale de lágrimas, ou nos dirigindo a caminhada de modo a termos de prosseguir com a vida.
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