Do chão olhar para o alto atordoa, tudo parece longe demais, inacessível, e o que vimos belo sentimos que num instante estamos envoltos num sonho puramente impossível, e o que vislumbramos de mal parece que vertiginosamente cai sobre a nossa cabeça. Estar no chão é uma míngua expressão do que ainda existe, olhar é tentar ainda não deixar que os olhos se fechem e tudo termine numa escuridão sem fim. Olhar e sentir o coração bater é hesitar entre a temeridade de se tentar erguer ou pensar que levantados, se o conseguirmos, é um recomeço para voltar a cair. Reerguer-se pode ser uma fatalidade, pode ser uma loucura, pode ser a ironia de preparar uma nova queda.
Alguns garantem que levantar-se é defrontar tudo o que vier e é um recomeço, um regresso à luta, um retorno a uma vida que deve ser teimosamente preservada. Mas, para quem não sabe, tudo dói quando estamos por terra, dói a alma, mais que o corpo, e a agonia de ver afastar-se de tudo o que sempre nos fez ser o que fomos, como a força, a coragem, a resistência, a capacidade de lutar, a esperança, o acreditar, ainda prendem mais o corpo, tomam os movimentos, aprisionam-no de uma réstia de energia que poderia alavancar um levantar, um recomeço, uma vida, uma nova aurora.
Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga
Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.
O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar com mais inteligência.
Tudo tem começo e meio. O fim só existe para quem não percebe o recomeço.
Nada de desgosto, nem de desânimo; se acabas de fracassar, recomeça.
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