sábado, 15 de outubro de 2016

REERGUER É TÃO TEMERÁRIO COMO RENASCER DAS CINZAS



   O DESAFIO   

Mais vale um homem lento à cólera
do que um herói,
e um homem senhor de si
do que o conquistador de uma cidade.










Sei o que está acontecendo comigo. Estou refém de um quadro típico de um beco de onde parece não existir qualquer hipótese de saída. Já passei por isso noutras ocasiões, mas sempre consegui ludibriar as circunstâncias e reatar a vida, que num ponto de vista rigorosamente realista pressupunha seguir enfrentando as adversidades. Desta vez está especialmente difícil pois o cerco é demasiado forte, são vários os que me cerceiam a capacidade de encontrar um modo de ultrapassar a situação. Se for para viver assim, incompreensivelmente cercado por muitos e de modo tão cruel e desumano acho que não vale a pena. Estou encurralado. Recordo Bruno, penso em Galileo, imagino o fim de Espinoza ou o suicídio de Van Gogh. A tragédia é a vida, e a vida é um vale de lágrimas. Mais do que um fim, que em nada vai beliscar o andamento do mundo, impressiona-me não conseguir discernir de um modo objectivo quais as causas que determinaram estas perseguições, muitas vezes infames, ao longo da vida. Fui inesgotavelmente um foco de resistência, mas nunca um fora da lei, um flagelo para os outros, ou uma ameaça à paz. Lutei para me defender, para defender os meus direitos, para ajudar outros em situações de impotência face a tiranos hediondos, e defendi sempre as causas que na minha humilde opinião julguei sempre melhor servirem o homem, a sociedade e o mundo. Sempre percebi a impotência mas sempre senti que estar do lado certo da barricada valia mais do que uma vida vivida sem dignidade e mergulhada na vergonha, Para mim, este tipo de  existência tornou-se insuportável.

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