quinta-feira, 6 de outubro de 2016

PARAR É MORRER. MELHOR É CAMINHAR OU ENCONTRAR A MORTE NO CAMINHO








Morrer é inevitável. Como disse Ulisses é preferível ser mortal no lugar certo que imortal no incerto. E morrer a caminhar, numa demanda, no percurso que obrigatoriamente devemos assumir para encontramos o nosso lugar, no caminho que nos pode levar ao bem viver, é no fundo não terminar de todo. Tudo termina para quem pára, desiste, não luta, nada faz. Quem teima em fazer o que deve ser feito, em cumprir a sua missão enquanto ser humano, em ter uma salutar convivência consigo e com os outros, em amar o próximo e não viver inquinado em estéreis rancores, vinganças, ódios, não acaba fácil. Liberta-se da morte. Distancia-se do animal que morre e se reduz exclusivamente a pó. Pó será, enquanto animal que também é, mas no percurso, na luta, na missão, salvou a alma, e com ela vai conquistar inevitavelmente a vida eterna, e será recordado por aqueles que depois dele tiverem notícia da sua audácia, da sua coragem, no desafio feito ao próprio medo, e no seu fim.

Um caminho tem a duração da vida do ser. Por isso se argumenta - e bem na minha modesta opinião - que cada homem é ele e a sua circunstância. E as circunstâncias da vida são visíveis pelo caminho da vida que teve de percorrer e lhe moldaram o carácter. O caminho pode ter traiçoeiros cruzamentos labirínticos que sempre causam dificuldades acrescidas no acto de encontrar a vida certa, e esta, depois de encontrada, depois de esforços e tentativas, pode apresentar curvas e mais curvas, íngremes e difíceis subidas, ou benvindas descidas que facilmente ajudam a caminhar. O caminho pode ser linear, sem sobressaltos, tão certo, tão demasiado certo que parece que aquele que o percorreu por falta de pontos de choque, de surpresas, de dificuldades, parece não ter chegado nunca a viver, ou dito de mais preciso modo, viveu sem conhecer o que é a vida. E pode ser um caminho polvilhado de acidentes, pulverizado, desde que se deu o nascimento até ao momento em que se abandona a existência terrena.

Diria sempre que entre o caminho sem acidentes e aquele que apresentou sobressaltos, dificuldades este último acaba por ser muito mais autêntico, reproduzindo de modo mais fiel a vida humana que é feita exactamente de esforço, problemas, suores e lágrimas. O primeiro caminho não ensina, nada traz, é uma passagem como o vento, suavemente abanando a terra e o que ela contêm. O caminho da adversidade é uma escola de ensinamentos sem limites, o homem é obrigado a descobrir a sua própria potência, as suas capacidades, a sua força, pois é constantemente submetido a violações, agressões, do homem, e da própria natureza do mundo. E o homem que sabe com rigor o que é, qual o seu caminho, como vencer cada barreira, como saltar cada obstáculo, é um ser que se supera, que se obriga a metamorfoses, a constantes mudanças, e só assim, pode continuar caminhando quando outros caem, desistem, se deixam abater, se entregam às forças que o agridem e se deixam levar.

O meu caminho foi semeado de dificuldades. Raramente tive com a paz e a tranquilidade uma ligação duradoura. Sofri ventos contrários em lugares onde deveria ter abrigo e porto seguro, e enfrentei desabridamente forças que me tentaram afastar do meu caminho, ou simplesmente pareciam possuídas de uma força demoníaca de me levar à destruição. Lutei sem aliados. Defendi pessoas sem qualquer interesse que não fosse assegurar um direito, lutar contra uma injustiça, ajudar na fraqueza e dar a mão na ignorância. Das lutas e das defesas restou a solidão. A gratidão está em tão desuso como a moral. Só se aparenta na necessidade. E se esquece quando a tormenta foi vencida. Os caminhos são pois toda essa amálgama de factos, bons e maus, fracos e fortes, impactantes ou leves, as lutas, as batalhas, os adversários, as causas, os efeitos e as consequências.

Mas quem aprendeu a lutar tem outra força desconhecida do que descansa e leva a existência comodamente como estivesse num qualquer cinema assistindo as coisas e que devota desdenho ou indiferença. O caminho do guerreiro pode levá-lo à morte. Todos os que vão morrer sabem que é diferente o fim de um homem do fim de uma alface. E a alface e alguns homens tipo vegetais terminam mesmo, sem honra nem glória, não se transformando em nada mais que lixo, ou pó, enquanto o ser que dá tudo o que tem dentro de si por uma causa e luta até mais não poder, acaba conquistando qualquer tipo de glória e sua morte em nada se assemelha a uma horta em declínio. A sua vida, pode acabar em fracções de segundos, mas nunca chega verdadeiramente a morrer, pois muitos o vão recordar e dele falar, e depois, pela verdade mais poderosa da história do homem e pelo discurso com maior longevidade no planeta, de Cristo, por que deu amor, porque se deu ao próximo, porque lutou do lado do bem contra o mal, vai ter a vida eterna. Não morrerá jamais e irá ad eternum para o Paraíso.





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