terça-feira, 11 de outubro de 2016

O CREPÚSCULO DA OPRESSÃO







Aparentemente, e no que respeita aos princípios que a física declama, tudo tende para um inexorável fim. O dia sempre começa e se acaba, embora se renove num movimento cíclico nunca rigorosamente igual. A vida dizem que acaba com a morte, e mesmo se este crepúsculo que diz respeito a todos não seja consensual, muitos admitem no fim da vida a decomposição da matéria e um vazio, enquanto outros iluminados pela fé, possuídos de amor e arrependimento dos pecados sentem garantida a imortalidade através da vida eterna que Jesus Cristo anunciou.



A vida está ela mesma semeada de tiranias e opressões, de atropelos e agressões, de desmandos e violações, de um inúmero de circunstâncias, provocadas ou que sucedem sem razão aparente, que a transformam num vale de lágrimas ou num canto de sereia que a todos que escutam vai perder, ou num caminho, ou vários caminhos que cada um e a sua angústia, na busca de felicidade, vão escolhendo, com o temor de errar e o tremor de encontrar não um sol doirado mas uma enevoada tragédia de sinistros silêncios e impiedosos escuros.



O crepúsculo é tão certo quanto a morte. Mas dói mais. A morte é o fim de tudo, ou o princípio de um mundo de maravilhas sem prescrições algumas, que se reduz num momento e logo acaba a existência, ou um renascimento glorioso. Mas nunca passa de um momento. Mas a opressão que a acompanha, que até ao fim do mundo vai estar no último ser, vai queimando velas de esperanças, apagando luzes, destruindo sonhos, desmembrando a capacidade de criar, de ser, e de amar, vai projectar-se na origem e no fim num crepúsculo de pesadelo, de dor, de sofrimento atroz. Opressores e oprimidos vão sentir de modo completamente diferente a agonia dessa nefasta e demoníaca força que inevitavelmente não pode permanecer para sempre. O crepúsculo a uns vai libertando, tornando mais belos os momentos e suavizando o movimento, originando assim naquele que foi oprimido uma nova esperança, um renascimento, um alegria e salvação. Já aqueles que foi seu mister atentar contra a vida, o caminho, a labuta, os ideais e os sonhos de muitos ou poucos, mas foi a concretização das forças malignas contra inocentes, tudo destroçando, tudo levando em remoinhos de fatalidade, destruição e dor, o crepúsculo é muito mais frio, cruel, escuro que a própria morte. Não pode ser um momento, uma passagem ou um fim, é um tormento que vai agitar, torturar, esmagar violentamente aquele que mal fez, fazendo sentir umas quantas vezes mais todo o sofrimento, toda a mágoa, as dores, as lágrimas, que um dia julgando impunidade absoluta impingiram aos que sabiam à sua mercê.



O crepúsculo dos opressores é um conjunto imenso de momentos de suplício, de esmagamento, de rupturas e quebras, numa alma que vai sucumbindo até perder-se num imenso campo de nadas, e num corpo que é despedaçado lentamente, ou posto a queimar em lume brando. Os que fizeram da sua vida o mal, que atentaram contra vidas, seres e contra o bem, vão no seu crepúsculo desejar que tudo acabe, que tudo termine, pois acreditam que melhor ficarão ardendo eternamente no inferno, que sendo destruídos no seu tenebroso crepúsculo.



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