quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOLTAS PALAVRAS QUE O VENTO LEVANTA NOS ARES


PALAVRAS AO VENTO


Esta noite - como faz algum tempo tem acontecido (são fases) dormi mal. Ora, noite mal dormida é noite em que turbilhões de pensamentos vêm visitar este espírito inquieto e cansado. Algumas vezes me fazem sobressalto, outras vezes me levam a um mundo imaginário e o tempo passa mais rápido e como ocorreu esta noite, fizeram-me meditar, reflectir, auscultar a minha já baralhada consciência, tornando pesada a escuridão que só conseguiu paz na aurora.


Imaginem que me veio à cabeça um problema de consciência que eu deveria ter em relação aos desacordos e réplicas subsequentes com o humano e excelentíssimo júri das juntas médicas, principalmente na pessoa da sua Presidente, dado estar a ser acossado de acusações no meu interior que estaria a provocar dano, ou desarmonia a essa gente, que deveria respeitar e sobretudo estimar.


Se há uma coisa que me causa perturbação desde que me conheço é ter a ideia de que estou a fazer mal a alguém, que estou a ser desumano, desleal, que não acautelei quanto devia toda essa panóplia que sempre adoro defender, de valores e princípios. Dito de outro modo, além de estar a provocar dano em pessoas que não deveriam ser alvo de meus ataques, eu, e isso é muito grave, ultrapassava o meu código de honra, tornando-me baixo, reles, miserável. E chaguei a sentir pena de mim. E dava voltas na cama, como se cada rodopiar me aliviasse de uma tensão que se apoderava de todo o meu ser e me tinha atordoado.


E começou um verdadeiro combate entre o bem e o mal, entre a minha consciência que se encontrava pesada e um racionalismo a que eu pretendia recorrer sem discernimento capaz, de modo a justificar todos os acontecimentos ocorridos desde há muitos meses.


Preocupava-me o facto de antes de tudo isto acontecer eu sentir uma simpatia especial pelos agora meus adversário de pleito. A excelentíssima presidente me fora indicada como uma pessoa humana, simpática, zelosa, cuidadosa e amiga de ser solidária de acorrer a um infortúnio, a um problema maior, a um incidente mais chocante. E entre os médicos que compõem a Junta tive com um deles um relacionamento franco e aberto, conversamos horas, me explicou uma série de teorias sobre o funcionamento de um site estrangeiro onde, quem podia e conhecia, podia fazer excelentes negócios, e para além disso, mostrou especial atenção quando vendo minhas análises clínicas e de acordo com os valores excessivamente descontrolados que apresentavam me passou credenciais para fazer exames específicos e me receitou medicamentos que deveria, para meu bem, sempre tomar à cautela. O outro médico, conhecia apenas de vista mas me disseram tratar-se de pessoa de bem, bom médico, e pessoa de qualidades.


Todos estes ingredientes davam pulos na minha consciência.. Como podia ter ocorrido uma revolução. Pois tratava-se de algo de um radicalismo aparentemente inexplicável, uma ruptura e uma mudança de relacionamentos tão marcante. Mas de facto tinha dificuldade em enquadrar as pessoas que tinha conhecido, e o que me disseram de outras, com tudo o que se estava a passar. Tal conflitualidade estava a fazer-me mal. E se eu tinha culpas e estava agindo mal e precipitadamente, me revelando um mau homem, um precipitado, um exaltado, um indivíduo com uma emotividade que ultrapassava a razão.


Estava baralhado, triste, um pouco perdido entre um amontoado de pensamentos contraditórios e todo um manancial de factos ou momentos menos bons. Escapava-me a origem, a causa, a essência que tinha despoletado todo este pandemónio. Parecia ter sido visitado pelo rei Pan, da mitologia grega, e o que senti com a sua presença é traduzido pelo significado que ainda hoje se dá à palavra, estava em pânico.


Não concertava nada, nem encontrava a ponta da meada para começar a pouco e pouco na busca de alguma luz sobre todo este imbróglio que me estava a deixar num ataque de nervos, que não só não conseguia dormir, como me sentia excitado, nervoso, num estado de alma em desespero.


Levantei-me, fui lavar a cara, deambulei pela reduzida "casa" onde agora moro, e incapaz de estar quieto nem de ter espaço para andar às voltas, voltei à cama. Apelei à calma,à racionalidade, `capacidade que eu não admitia ter perdido para assentar ideias e fazer uma análise a tudo o que era posto em causa. A questão era delicada pois compunha-se de várias variáveis que se misturavam, entrelaçavam, me deixando em dificuldades de descortinar a verdade, ou aquilo que me parecia sê-lo.


A certa altura quase que dei um grito a mim mesmo impondo ordem. Exigindo que meditasse sério sobre as coisas e não continuasse com aquele atabalhoado de ideias atropelando o raciocínio e vedando o acesso à realidade. Parei. Estive em silencio algum tempo e tentei abstrair-me de tudo e não pensar. Precisava descansar, paz, ganhar energias para voltar à acção, mas possuindo capacidade de análise e de auto crítica. Precisava ficar sereno, isento, capaz de pensar. E quando já mais calmo, me senti com ânimo, com vontade, ataquei o assunto pelos cornos, de frente, objectivamente, tendo optado pelo método interrogarivo como forma de , num modo simples, chegar a conclusões. E comecei a formular perguntas e a tentar encontrar as respostas. de um modo simples, tranquilo, mas honesto. Sem medos, mas com imparcialidade, com rigor.


Perguntas que fiz a mim mesmo:
1. Aconteceu alguma coisa na Junta Médica de Avaliação de Incapacidades que justificassem eu ter ficado insatisfeito? O que aconteceu? Porquê? Era conhecida a necessidade que tinha de alcançar uma valoração maior? Se falei antes da Junta Médica com alguém e deixei isso claro?
Para a primeira pergunta encontrei respostas muito interessantes; desde logo saltou-me à vista o facto de ter perdido valoração, quando o objectivo da Junta era o de subir de incapacidade face aos relatórios que me indicavam pior. Baixei de 0,630 para 0,604. Não houve qualquer fundamento, ninguém me informou do motivo da diminuição da minha incapacidade. Estranhei pois tinha falado com a Senhora Doutora Presidente e ela conhecia a minha situação pessoal e familiar, e de saúde - tendo mesmo ficado com os dois relatórios que sustentaram o meu pedido de Reavaliação - e em momento algum me chamou a atenção para qualquer facto que não estivesse bem, para qualquer falta. Fui tranquilo para a Junta Médica convencido que ia subir a minha valoração, apenas desconhecendo se a mesma subida chegaria para atingir os meus fins, ou não. Mas, passei a noite a a orar e a pedir para aceitar o que acontecesse. E aceitei. E agradeci e me despedi dos Doutos Médicos com respeito. Só que incompreensivelmente, ao invés do que parecia normal e razoável, sem nada, me baixaram o coeficiente, sem uma palavra, sem qualquer menção a documento em falta ou a alterar, muito menos como fazem a quem querem, não me deram a possibilidade de rectificar fosse o que fosse. A classificação diminuiu porque os membros do júri assim decidiram, sem apelo nem agravo, sabendo que desse resultado me resultaria inevitável dano. Foi um acto premeditado, conhecedor das consequências, porquanto trata-se, na minha humilde opinião, de um crime por acto doloso que prejudica um doente, sendo que nos termos da lei a Administração Pública responde pelos actos dos seus funcionários civil e criminalmente se estes provocarem por acção ou omissão acto que provoque dano no cidadão.


2. Teria se tratado de um erro? Seria possível sanar aquele acto? O que justificava o ter baixado de coeficiente de Incapacidade quando os relatórios que entreguei iam no sentido de estar pior?
Efectivamente recusei-me a aceitar o ocorrido, e inconformado, reclamei, mesmo que convencido me achava de estarmos perante um erro facilmente sanável. A minha reclamação não recebeu qualquer reparo. Não tive resposta e os dias passavam. Aí comecei a temer que existisse qualquer outra coisa, que não conhecia por detrás de todo aquele procedimento que me parecia inqualificável. Fui falar com a Senhora Doutora presidente das Juntas e ela me disse que para o Júri - e no seu poder discricionário (que não deve entender-se nem com totalitário nem insindicável) - eu me encontrava melhor. O relatório do meu psiquiatra nas suas opiniões não estaria muito claro, apesar de ter escrito "piorado". E de acordo com a opinião da Senhora Doutora fui de imediato a uma consulta privada do meu psiquiatra e trouxe não só um Relatório dele mais minucioso como trouxe um relatório actualizado da minha psicóloga. E tudo estava bem disse a Senhora Doutra depois de ver os relatórios e os levou com ela. Nunca mais a vi. Nem nunca mais soube quando se resolveria a situação. Reclamação por escrito era esforço em vão, Sua Excelência não responde. E quando voltei à USP de Portalegre, a Excelentíssima Senhora Doutora disse-me que não tinha tempo para ver o meu caso naquele dia. Já cansado a interpelei, quando? Respondeu, não sei, espere, e virou costas. Eu exaltei-me e disse vou reclamar. Sua Excelência disse sem se dignar virar, reclame. No dia seguinte fui reclamar no Livro Amarelo como é da praxe em relação a ocorrências nos actos praticados na Administração Pública. E, por minha iniciativa, e porque confio muito pouco na eficácia do Livro Amarelo, apresentei exposição sobre os acontecimentos às mais altas entidades do estado português.


Depois de responder à perguntas que a mim próprio formulei, e tentando ser isento nas respostas e não fugir da objectividade que caracteriza o realismo envolvente a todo o Processo, cheguei a algumas considerações basilares:
1. A Junta Médica baixou o meu coeficiente de Incapacidade em acto premeditado e conhecendo as consequências do mesmo para o doente
2. Não se tratou de qualquer erro
3. Em face de uma imprecisão no Relatório do meu Psiquiatra fui de imediato arranjar um novo, a que juntei outro da psicóloga e os entreguei em mão à Senhora Presidente. Opinou que estavam bem e os levou. Não me deu qualquer indicação. Apenas os levou com ela. E passaram meses sem que tivessem tido qualquer efeito no Processo.
4. Volto a falar com a Senhora Presidente e me diz que naquele dia não tem tempo. Pergunto quando vai ser o dia? Responde, não sei, espere. Tinha esperado meses, fiquei exaltado e disse que ia reclamar. Reclame, foi a resposta que a Senhora Doutora disse sem se voltar. Ainda gritei que estava a ser maltratado, a ser tratado discriminadamente, mas em face de ter ficado só, calei-me e fui para casa.

CONCLUSÃO GERAL: posso dormir tranquilo. A Junta Médica deve ter sido uma fraude grosseira e maldosa, premeditada e com dolo. A atitude da Senhora Presidente para comigo foi sempre mal educada, desumana, humilhante, indigna, ilegal, incorrecta, sem zelo, sem celeridade, sem quaisquer princípios ou ética, ou moral. Fez mal deve pagar. Mandou reclamar, cumpri sua sugestão. Agora espero a conclusão do processo que na minha humilda opinião, e salve melhor vai pautar-se por duas palavras; CRIME e CASTIGO. Tudo o que for menos do que isso é desculpa esfarrapada, é brincar com os doentes, é ser impune e estar acima da lei. O Estado de Direito Democrático, permitem-me se tento qualificá-lo, não pode existir enquanto estes desmandos às leis e a ideia de estar acima delas se mantiver nas chefias da Administração Pública. O que me fizeram, meu Deus, leva-me a acreditar que terá sido feito a quem não sabe defender-se, e fragilizado, nem entende porque teve insucesso. Só uma auditoria a esse serviço lhe pode atribuir respeitabilidade. Já requeri uma sindicancia. Mas por enquanto os poderes da região, da classe, e do local, ainda tentam concertar o que não vai ter conserto. E fui dormir.


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