sexta-feira, 3 de junho de 2016

AQUELA GENTE NÃO ME SAI DA CABEÇA


HÁ QUE CUIDAR DA DEMOCRACIA

ELA PODE AGONIZAR

E MORRER











Já não bastam os problemas que cada um tem na sua vida há sempre quem queira amachucar um pouco mais. Diz o povo que é bater em mortos. E não deixa de ter alguma razão. Quando mais fraco, doente, frágil, débil se encontra um ser humano mais alguns seres que deambulam por aí, aproveitando a vulnerabilidade do coitado, aproveitam para malhar, para pisar, para humilhar, para destruir.

Duas coisas dizia Einstein que eram infinitas, o universo e a estupidez humana. E sempre acrescentava que acreditava um dia poder medir-se o universo.

O ataque ao enfermo, àquele que já está curvado em dor, de gatas sem suportar o seu peso, é a demonstração cabal da mesquinhez e da miséria que existe no homem. Até entre os animais é normalmente aceite  a superioridade do mais forte e cessa pleito. O homem com milénios de civilização, de culturas, de ciências mostra toda a sua capacidade para a malvadez, para a prepotência e a crueldade sempre que disso tira algum gozo. Maior cobardia não deve existir.

E por isso não é de admirar que em pleno século XXl se fale em violência, em escravidão, em exploração, em crimes e em torturas. Este fenómeno ao contrário do que se pode pensar facilmente não é um exclusivo de gente sem cultura ou de nascimento e crescimento em guetos sem condições nos arredores das grandes metrópoles. Não, este fenómeno de violentar o outro, de preferência um que nos pareça fraco para se defender, acontece em todos os estratos culturais, sociais, é intrínseco ao ser humano, faz parte da parte ruim que cada ser possui. Só que uns conseguem, nesta eterna luta entre o bem e o mal, condicionar os comportamentos e atitudes, e mostram um ser social, tranquilo, interessado no próximo, sensível, com espírito altruísta e solidário. Outros, independentemente de terem tido educação, terem frequentado a faculdade e acompanharem com gente culta, não conseguem controlar o mal que têm no seu interior, e se realizam abusando do seu poder, social, económico, cultural, profissional para dar azo a toda a maldade que não conseguem travar, e é com satisfação e deleite que tentam e destroem os que podem calcar de baixo dos pés.

A Justiça, o Direito, as leis foram aparecendo com a evolução do homem e das civilizações das cidades e depois dos estados,como forma de colocar alguma ordenação na vida social e de modo a tentar colocar um travão sobre as atitudes lesivas, contrárias à moral, que prejudicam e causam dano aos homens.

Existe um elenco de delitos e a cada delito corresponde uma pena. A lei garante o cumprimento das regras e o respeito pelos princípios que consagram garantias, direitos. E, sucede-se a legislação. Actualiza-se com o tempo com a vida do homem. Mas nem assim, o bem vive em tranquilidade e os mais fracos podem estar descansados no seu infortúnio. A arte dos malfeitores e criminosos é enganar a lei, primeiro ignorando-a e procedendo como se nada existisse, e depois é tentar enganar Instituições e a Justiça. Os crimes são cada vez mais subtis, a escravidão de hoje não tem nada a ver com os tempos de Spartacus ou da ida dos negros para o Brasil ou para as Américas. E a tortura não é feita com chicotes nem máquinas idênticas às que a Igreja utilizava na Inquisição para arrancar as confissões dos desgraçados. 

O mundo parece continuar a girar, e existem estudiosos das ciências sociais que fundamentam melhorias atrás de melhorias, chamem para mostrar suas teses as estatísticas, que se sabe ser uma arte de bem mentir, mas de facto às aparências e aos números que nos pretendem fazer sorrir esconde-se a miséria humana, o que não se escreve, o que dificilmente chega ao conhecimento geral, a violência dos fortes contra os fracos, dos cultos contra os iletrados, dos detentores de poder sobre o cidadão comum.

A nossa democracia parece funcionar. As nossas Instituições parecem funcionar regularmente. Os políticos parecem governar e cada um parece desempenhar o papel que a sociedade lhe atribuiu. Mas é uma democracia coxa, mais uma partidocracia, ou arriscaria dizer uma ditadura dos grupos dominantes, dos que se conhecem e se podem ver à luz, ao sol, e daqueles que são toupeiras ocultas e levam seu tempo mexendo nos cordelinhos da vida de muitos. A igualdade é uma utopia, e a gentalha que atropela os direitos dos outros, que violenta a lei, e destroça seres humanos continuam impunemente a praticar o mal. Com um sorriso nos lábios.

Assim vai a nossa democracia, muito enferma, muito debilitada, vilipendiada por gente suja, gentalha, criminosos de fato e gravata, altivos, indiferentes ao mundo. A sua visão não ultrapassa por via de regra o seu umbigo, e cobardes acabam pro nem serem felizes, a consciência tortura-os, reconhecem a sua pequenez e mediocridade. E quando acordam, para esquecer as noites mal dormidas e com suores vão procurar novas vítimas.


















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