domingo, 3 de junho de 2018

O ABSURDO E O HORRENDO PODEM CONSTRUIR PRIMAVERAS



840.000 suicídios por ano no mundo.

11.680 no Brasil.

E por cada suicídio dezenas de tentativas são goradas. 

E quantas pessoas mais desejam morrer mas permanecem vivas?







Honestamente, isto só acontece porque o mundo se tornou um inferno, as pessoas perderam o sentido do real, cada um olha para si mesmo e não quer saber do problema do seu vizinho, nem do seu amigo, muito menos daqueles que lá longe, morrem de fome, não têm casas, trabalham 16 horas por dia em condições de trabalho indignas e recebem salários de miséria.

Num mundo perfeito, ninguém se lembraria de suicidar-se. E, exepcionalmente um suicídio seria uma tragédia de proporções gigantescas, que ia despertar o interesse de estudiosos, de cientistas, dos que se debruçam sobre problemas de saúde e dramas sociais.Num mundo em que o homem seja o centro do universo conhecido, cada ser humano é um ser absoluto, divino, filho de Deus, é amor, não pode conceber-se que se queira matar. Em condição alguma.

Se um ser humano apresentar um problema que o faça pensar num suicídio, esse pensamento justificaria estudos e demandas e tornar-se-ia um problema não daquele ser, mas da própria sociedade. É que o fim maior do homem é dar condições aos outros para que possa desfrutar de uma vida digna.

Numa utopia - e tudo o que temos já o foi - cada homem tem direito a saúde, educação, casa, alimentação, acompanhamento especializado se tem algum problema, atenção e ligação aos outros com quem se envolve socialmente.

No mundo que a inteligência humana edificou provavelmente mais de um milhão de pessoas se suicidam anualmente, umas 40 vezes mais o tenta fazer, e admito que um número idêntico martela na cabeça de muitos que, indiferentemente, nada fazem, nem tentam.

Num tempo em que se discute a eutanásia e se dividem tantas doutas opiniões, quando na minha humilde opinião o assunto é de consciência, e de tal modo pessoal, que não pode em caso algum ser decidido por parlamentos, nem representações, a morte assistida, normalmente por situações de sofrimento terminal em vida levanta polémicas e vivos debates.

Pode uma bondosa senhora, próspera, com acesso aos melhores cuidados médicos privados, votar contra o desejo de um desgraçado que sofre horrivelmente e deseja por tudo pôr-lhes definitivamente termo, - e a morte deve ser um direito tão sagrado para o homem como a vida - vir falar em demagogias, em direitos constucionais, em direitos humanos. E no hábil artífício que é cuidar dos cuidados paliativos de modo a que o moribundo não sofra e morra feliz, - o que é o mesmo que prometer casas para todos, e educação ao povo, igualdades de oportunidades - um ser feliz, vai decidir sobre a vida de outrém que passa por momentos inimagináveis de sofrimento, desespero, angústia e revolta. Parece-me uma obscenidade.

Volto a referir num mundo perfeito, sim, um suicídio deveria reunir a inteligência para estudar o que aconteceu, e as causas, e tomar providências para que não ocorresse mais.

No nosso mundo a eutanásia é pouco mais que a inteligência, os dogmas, as políticas e os interesses a determinar se o desgraçado pode norrer e fugir ao sofromento, ou se ao invés, se lhe pode dar a oportunidade, por decisão sua da pessoa acabar com o sofrimento.

Eu, que tenho pavor à inteligência absolutamente irracional que vem governando a terra, até admito o suicídio como a maneira mais eficaz de mudar o mundo. Seria um suicídio simples e por amor. Até que ninguém mais precisasse de pensar em suicidar-se. Como assim?

Imaginem que todos os desencantados deste mundo, repentinamente viam reconhecido o direito de colocar termo à vida por decisão sua. Imediatamente veriamos a nível mundial um verdadeiro exodus para o desconhecido, que sempre pode ser bem melhor que o mundo que temos aqui para viver, e digamos num ano, com condições de morte realmente humanizadas e dignas se suicidariam muitos milhões de indivíduos. 

E quando falo em condições humanas e dignas não falo - isso é só para despistar e dar algum relevo à classe médica, obviamente a mais interessada em ter muitos vivos, sobretudo doentes, e mais ainda doentes crónicos e mais crónicos e que durem, durem, e durem... a sofrer e a dar-lhes lucros - em colocar ninguém sob problemas de consciência, nem a violar princípos. Falo na construção de salas confortáveis - para muitos seria o momento confortável em vida - onde pudessem tomar um comprimido, ou outro produto, enquanto em simultâneo, e sem dor, estavam na posição mais cómoda imaginada, podiam ouvir as suas musicas mais belas e visualizar o que o mundo tem de belo e nunca lhes pertenceu. A morte, seria como que um adeus ao inferno, passando por um lugar onde lhes era facultado amor, atenção, comodidade e até luxo, para partirem para o reino do desconhecido.

Deus que eu saiba nunca falou e ninguém o viu. Mas Cristo veio explicar como o amor e o perdão levam à eternidade. E, não matarás, é uma questão de direito natural, não deve o homem tirar a vida a outro homem. Tirar a sua própria vida é uma questão acima da sociedade, tem a ver com o livre arbítrio que Deus deixou ao homem, isto é, a sua liberdade de escolher e decidir. E se nem Deus nem os anjos interferem no livre arbítrio, porque hão-de interferir os homens?

Uma morte destas, pode ser amor, já que todos estes seres lhe viram negados todos os cuidados mais básicos que deveriam ter tido, e por fim, mereceram a atenção da sociedade lhes permitindo, já que não os cuidam, que partam em paz. E pode ser perdão, que sempre está ligado ao amor. Para com quem os desprezou, espezinhou, e tratou como animais, ou pior. Provavelmente ouvindo a Avé Maria de Schubert, até o mais humilhado teria dó de tantos criminosos que comendam o mundo. E lhe perdoaria com a benção da viagem.

Tudo isto é imaginário. É fantasia. É loucura. Mas aos que governam o mundo, estas mortes, esta liberdade de morrer, tornar-se-ia mais impactante que a Revolução Francesa, o fim da escravatura, ou a emancipação dos povos. Quem ia fazer os trabalhos que ninguém quer? Quantas pessoas deixavam de comprar tecnologia? Quantos votos deixavam de cair nas urnas e para que lado ia pender o grau de exigência popular? Quem ia povoar regiões que provavelmente em poucos anos ficariam desertas? A quem é que a indústria farmacvêutica ia vender os seus produtos? E o que fariam os padres, os políticos, os médicos e muitos outros homens eleitos?

Não, decididamente é melhor deixar tudo como está. O povo pode sofrer. Se um rico desejar morrer facilmente vai a um país onde a morte é legal. Mais uma vez a igualdade de oportunidades é fantasia. Não decididamente em nome de uma moral, num mundo em que já nem se sabe o que isso significa, vai justificar a promazia dos interesses e o status quo, na irracionalidade do individualismo, do divertimnento e do consumismo.

Podem-se suicidar livremente. Como é um acto de muita violência apenas uma percentagem resulta. E o mundo continua. Quanto aos doentes, meu Deus, não ataquem os médicos nem a indústria farmacêutica. Era o fim do mundo.

Em conclusão, a liberdade de morrer, de acordo com o desejo e a vontade de cada um, seria um salto gigantesco no progresso. Como já foi a escravatura (antes matava-se o inimigo derrotado), e a seguir, o seu fim. É que os resultados seriam tão gravosos que a sociedade teria de agir para sobreviver, e isso passaria inevitavelmente, por uma revolução geral, onde o suicídio deixaria de fazer sentido. A inteligência e a vontade iriam trabalhar para mortes efectivamente tranquilas e cuidadas para os doentes, e vidas dignas para os que têm na terra vidas absolutamente inaceitáveis que deveriam envergonhar o homem.




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