Ele há dias assim.
Um sujeito sai à rua e é recebido com banhos de amor e carinho, e afectos e amizades invadem o seu coração e lhe tocam a alma.
Recordei a aurora.
Uma vez pintei um insignificante quadro com esse nome.
Aurora é o que vem novo, um recomeço, um novo dia.
E é sobretudo esperança, olhar ao longe e acreditar.
Depois sem aviso meteorolódico nem sinais no tempo aparecem temíveis e gélidos ventos de nortada, e a aurora que sempre se perde no tempo, mas pode ser o arranque para um período imenso de madrugadas tranquilas, desapareceu.
Os que estavam junto dispersaram e foram a suas vidas.
Os amigos foram resolver os seus problemas, e a marcha do mundo voltou inexoravelmente ao ponto de partida.
Ainda bem que podemos sempre partir.
A vida é uma ilusão imensa.
É preciso ter uma estrura moral, ética e de luta muito grande para não se desistir.
Eu nunca desisti, posso espernear, gritar, lutar, ameaçar, desafiar poderes inimagináveis, mas depois de toda a revolução sei que vou continuar.
E estou grato por tantos ensinamentos que a vida me tem dado.
Hoje o homem não sofre apenas na guerra, nas atrocidades, violências e todo o tipo de cataclismos.
Hoje os maiores sofrimentos aparecem envoltos em tranquilidade, calmaria, na paz.
Hoje o absurdo, os desatinos, a confusão, o terrorismo vai bater-nos à porta onde os não esperamos e, por isso, facilmente, o que nos suporta, as nossas condições, a nossa natureza, não está preparada, vacila, treme e nos derrubam.
Começo a entender os que fogem dos problemas e dos outros como o diabo foge da cruz.
Mais vale só que mal acompanhado.
Um homem com Deus tem tudo para ser feliz. Nem que o Deus se tenha tornado apenas aquela partícula insignificantemente minúscula de cada um de nós e pode ser projectada num todo que deveria ser o Deus universal e as partículas juntinhas de todos os homens.
O todo é uma amálgama tremeda de más energias, de maus cheiros, de terrores, espíritos doentios, individualismos insanos, crimes, violências, dramas e caos.
Os que no centro desse ciclone de horrores ousam lutar pelo bem estar colectico, pala boa convivência, pela harmonia, pela paz e pelo amor acabam sendo pisados, abandonados, trucidados, desprezados por todos aqueles que aproveitam as correntes nefastas do mal, e se deixam ir, à toa, de qualquer jeito, numa ilusão frenética de que rodar assim é um carrossel de felicidade, o mundo gira e tudo vai parar num paraíso a qualquer tempo.
Começo a perceber o tal silêncio dos homens bons.
Eles não estão indiferentes.
Eles procuram é sobreviver.
Eles se afastam não por receio de batalhas contra o mal, mas para não ser esmagados por todos os que se divertem e bailam à beira do abismo.
Voltar costas a tudo não é cobardia, é ir no caminho certo, tudo o mais é trágica diversão.
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