terça-feira, 5 de junho de 2018

HÁ UMA AURORA EM CADA DESPERTAR




Ele há dias assim. 

Um sujeito sai à rua e é recebido com banhos de amor e carinho, e afectos e amizades invadem o seu coração e lhe tocam a alma. 

Recordei a aurora. 

Uma vez pintei um insignificante quadro com esse nome. 

Aurora é o que vem novo, um recomeço, um novo dia. 

E é sobretudo esperança, olhar ao longe e acreditar. 

Depois sem aviso meteorolódico nem sinais no tempo aparecem temíveis e gélidos ventos de nortada, e a aurora que sempre se perde no tempo, mas pode ser o arranque para um período imenso de madrugadas tranquilas, desapareceu. 

Os que estavam junto dispersaram e foram a suas vidas. 

Os amigos foram resolver os seus problemas, e a marcha do mundo voltou inexoravelmente ao ponto de partida. 

Ainda bem que podemos sempre partir. 

A vida é uma ilusão imensa. 

É preciso ter uma estrura moral, ética e de luta muito grande para não se desistir. 

Eu nunca desisti, posso espernear, gritar, lutar, ameaçar, desafiar poderes inimagináveis, mas depois de toda a revolução sei que  vou continuar. 

E estou grato por tantos ensinamentos que a vida me tem dado. 

Hoje o homem não sofre apenas na guerra, nas atrocidades, violências e todo o tipo de cataclismos. 

Hoje os maiores sofrimentos aparecem envoltos em tranquilidade, calmaria, na paz. 

Hoje o absurdo, os desatinos, a confusão, o terrorismo vai bater-nos à porta onde os não esperamos e, por isso, facilmente, o que nos suporta, as nossas condições, a nossa natureza, não está preparada, vacila, treme e nos derrubam. 

Começo a entender os que fogem dos problemas e dos outros como o diabo foge da cruz. 

Mais vale só que mal acompanhado. 

Um homem com Deus tem tudo para ser feliz. Nem que o Deus se tenha tornado apenas aquela partícula insignificantemente minúscula de cada um de nós  e pode ser projectada num todo que deveria ser o Deus universal e as partículas juntinhas de todos os homens. 

O todo é uma amálgama tremeda de más energias, de maus cheiros, de terrores, espíritos doentios, individualismos insanos, crimes, violências, dramas e caos. 

Os que no centro desse ciclone de horrores ousam lutar pelo bem estar colectico, pala boa convivência, pela harmonia, pela paz e pelo amor acabam sendo pisados, abandonados, trucidados, desprezados por todos aqueles que aproveitam as correntes nefastas do mal, e se deixam ir, à toa, de qualquer jeito, numa ilusão frenética de que rodar assim é um carrossel de felicidade, o mundo gira e tudo vai parar num paraíso a qualquer tempo. 

Começo a perceber o tal silêncio dos homens bons. 

Eles não estão indiferentes. 

Eles procuram é sobreviver. 

Eles se afastam não por receio de batalhas contra o mal, mas para não ser esmagados por todos os que se divertem e bailam à beira do abismo. 

Voltar costas a tudo não é cobardia, é ir no caminho certo, tudo o mais é trágica diversão.

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