Hoje deixei os meus problemas de lado e ando a cuidar de uma situação que é uma vergonha para o nosso concelho de Portalegre, de uma viúva, jovem e doente que está na mais profunda miséria. Chega a estar sem medicação - sendo doente crónica e estene nos últimos dois meses internada por duas vezes no Hospital da cidade - e, o estado gasta mais em despesas de internamentos, não cuidando da prevenção, porquento esta senhora não tem dinheiro para comprar medicamentos. Chega a estar aos 10 dias sem tomar medicação. As instituições solidárias forneciam-lhe alimentação, - o seu estado de saúde nem lhe permite deslocar-se nem estar muito tempo em pé preparando as refeições - e a partir da semana que vem vai deixar de ter. Recebe uma pensão de viuvez de 190 euros.
Provavelmente vou precisar de toda a ajuda do mundo. Vou falar de novo com a Segurança Social. Tentarei outros contactos. Mas provavelmente vamos ter de nos concertar e fazer uma campanha de informação. E lutar contra a miséria, a degradação da dignidade humana e a pobreza.
A solidariedade e a pobreza não é, nem pode ser, fazer festas no Jardim do Tarro.
De folclore está o país cheio. Viu-se nos incêndios, vê-se na legionela, vê-se nos cursos dos governantes feitos ao domingo e comprados com o nosso dinheiro, vê-se na qualidade do ar, nos planos de água, enfim no rocambolesco roubo que não foi roubo ou foi coisa de extra-terrestres do material de guerra em Tancos, e no levar dos cadáveres dos velórios para serem investigadas as causas das mortes por quem de direito.
Isto é uma espécie de país do outro mundo cravado no meio da civilização.
Mas voltando ao essencial, cuidar dos pobres - era um imperativo - é dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, cuidar dos doentes.
Parece-me a mim que nunca se falou tanto em solidariedade e cada vez mais vivemos num mundo onde à miséria dos que nada têm e são abandonados à sua sorte, se junta uma sociedade individualista, interesseira, desumana e cruel.
O homem caminha há muitos séculos para a irracionalidade. Enquanto se vai destruindo a terra vão se destruindo pessoas.
Pode ser que eu tenha vindo parar a este mundo completamente enganado. Mas sei que o divino existe em tudo o que existe e é. Existe em nós. Só temos de procurar no nosso interior a luz. E dar as mãos a quem precisa. Isso é amor.
Uma sociedade sem amor, sem solidariedade, sem alma, é uma monte de seres desprovidos de luz, é a vergonha colectiva, é a falência dos valores sociais e morais.
Tudo vai acabar, se nada se fizer em contrário por vermos o homem envergonhado da pequenez e do que é. É pena.
Hoje, como muitas vezes fiz, abandono a minha luta e luto por outros. Sinto-me bem. Sinto que faço o que devo fazer. Estou só. Sou diferente. Sou louco e sou poeta. Tudo bem, mas olho cada dia no espelho e sorrio. Morrerrei tranquilo e não tenho problemas de consciência. Mais não posso.
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