...O PLANETA ESTÁ COMPLETAMENTE DE PERNAS PARA O AR
...O MUNDO PARECE TER ENLOUQUECIDO DE VEZ
...O HOMEM ANDA PERDIDO SEM SABER O QUE PROCURA
Estou profundamente triste. Triste comigo que nunca fui capaz de ajudar na mais pequena coisa tendo em vista a construção consciente de um mundo melhor, onde a vida do homem fosse mais digna e mais feliz. Apenas posso reivindicar em meu favor que sempre estive inconformado, que muitas vezes assumi o desacordo, que encontrei problemas quando procurava saídas que possivelmente só eu estava a ver. Que encontrei inimizades e conflitos que nunca quis provocar, mas acudi à minha consciência que me obrigava a tomar posições, a defender causas, a chamar a atenção para o rumo que a vida do homem, desprovido de valores, o iria levar.
Logicamente se fosse um sábio ou um filósofo consagrado, poderia ter escrito tratados, livros e mais livros dizendo que o mundo caminhava para o único lugar para onde podia ir. E argumentaria com a minha reputação, os meus conhecimentos, e um sem número de teorias explicando tudo. Mas sou apenas uma mente inquieta, que reflecte, que pensa, que observa, e que naturalmente pouco sabe. Mas por amor, por um amor imenso que me deve o homem, o ser que continuo a defender como o eleito e único da terra, e pelo respeito que me merece, dentro das minhas poucas possibilidades, tentei dizer que o homem não andava bem, que a vida perdia sentido, que o mundo andava enrolado num sem fim de problemas que se agudizam cada dia mais, e que por fim, vivíamos numa casa imensa, que daria para todos, mas que por interesses mesquinhos fomos destruindo.
Hoje li que meio mundo anda em pânico porque o recém eleito presidente dos Estados Unidos vai construir um muro junto da fronteira do México e diz que quem vai pagar são os mexicanos, que vai colocar no topo do poder judicial do poderoso país um ferrenho inimigo do aborto, e vai mandar prender ou expulsar do país milhões de imigrantes ilegais. E este poderoso homem também já disse que a América anda cansada de pagar a segurança dos outros, não vai faltar muito tempo para cobrar as suas forças nos estados aliados como se tratasse de um vulgar gasoduto, ou de venda de bens.
Isto lá no outro lado do Atlântico. O que temos cá também chega bem para que o nosso sono possa não ser dos mais tranquilos. A União Europeia que nasceu de um sonho maravilhoso de fazer uma Europa de paz, de harmonia e de prosperidade tem um elenco inacreditável de comandos de duvidosa democraticidade. Em bom rigor ninguém, e muito menos os que sabem, podem assegurar quem manda em quem. Eleitos pelos europeus apenas conhecemos os deputados do Parlamento Europeu que tragicamente deve ser dos poucos parlamentos do mundo onde não se legisla. Em verdade, não sei bem se tem valia que justifique pagar salários que funcionam como reformas douradas para políticos acabados, perturbadores e que convêm colocar bem longe. A senhora Merkel, não sendo especialista em direito europeu, nunca percebi que tivesse qualquer cargo nem por eleição, ou por nomeação, fora da Alemanha. Mas anda por aí, desculpem a expressão "cagando sentenças" onde lhe dá na real gana. E a mesma Europa que deveria ser das nações, já se descobriu que é mais de umas que de outras. A Europa desmascarou-se com a crise. Os grandes deitaram as garras de fora e apertam os pequenos até à sua destruição. Não me parece que fosse este o espírito que homens prestigiados como Jean Monet, Jacques Delors e outros, entendiam como de solidariedade entre nações. A Inglaterra deu um golpe viral no sonho europeu batendo com a porta e indo à sua vida. Veremos se mais rápido do que é crível outros países se não vão em debandada. Ao povo grego já foi tirado quase tudo, se a morte fosse um direito falaríamos de um território desocupado e de silêncios. Sem dignidade nem honra não faz sentido viver. E num pessimismo muito negro, mas de um negro realista, pode mesmo imaginar-se um dominó que vai sendo derrubado, peças em desequilíbrio desequili-bradamente derrubam as que se seguem...
E por cá? Há muito que retemos na memória grandes nomes que parecem não voltar mais, Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira, D. João II, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, Marquês de Pombal... Por volta de 1800 um jornal inglês dizia "Portugal é como a Turquia é impossível introduzir-lhe civilização". Nada mais certo, ainda continuamos mais perto dos mais afastados da modernidade do que, como tanta vezes prometido, apanhamos o pelotão da frente. Continuamos pequenos em tudo. E na vida pública tudo é um regabofe de tal ordem que andamos intermináveis épocas para saber se o ilustre doutor tem ou não curso, se o engenheiro sabe ou não do ofício mas foi colocado como chefe de um Gabinete de Obras e Construções, se o político escapa ou não da cadeia, se a justiça vê todos os cidadãos como iguais, se a administração pública responde às leis e serve os cidadãos ou vive na impunidade e na opressão, nas mãos de gente incapaz e ignorante. Os bons afastam-se, os mais capazes são postos de lado, o mérito é uma miragem desejável mas que se não pode observar devido a interesses superiores, e o povo faz muito tempo mandou tudo isto às malvas - só não vê quem não quer - e meia dúzia de foliões e seus apaniguados andam à deriva com o país. Só o estado calamitoso a que chegou deveria envergonhar os que nos desgovernaram. Mas são inimputáveis, podem estragar à vontade, apenas têm por seguro, um ou dois governos depois são agraciados com condecorações e muita pompa, sorrisos e circunstância. Como são inimputáveis os que os lá colocaram. Esses só vão pagando e rindo, distraídos numa marcha penosa e insensata que compromete o futuro dos nossos filhos e netos. Alguns salvam-se, são os do regime, os amigos, os compadres, outros barafustam a andam apregoando pelo país, de lés a lés, uma corrupção que enriqueceu muitos, mas que todos querem manter. Os cães ladram mas a caravana passa. O povo coitado continua enganado, e alguns ainda votam, de vez em quando faz uns manguitos, conta umas anedotas, ri de umas desgraças entre a gente bem, e tudo marcha.
Acho que estamos todos a pisar a linha vermelha. E para o lado de lá está o abismo. Sempre que a anarquia toma as nações e os povos, e caem por terra valores, condições dignas de viver, e prolifera a tirania e a opressão (que pode não ser por meios violentos), quando se perde o norte, a razão, aparece o caos, aparecem nos horizontes os quatro cavaleiros do Apocalipse, e
os deuses estão abandonando o seu lugar, inacessível aos mortais, sedentos de sangue. Alguns já se preparam para navegar das suas olímpicas praias em demanda de bebida, sequiosos, transtornados, loucos de beber até mais não.
Tenho pena. Sou mais um que se junta às imensas legiões que se lançam no inevitável e justo castigo. Não lutei o suficiente, não fui persuasivo, cansei, não consegui resistir, não tive forças, e não consegui que me levassem a sério. Talvez por isso ainda possa um dia ser perdoado. Ainda tentei. Ainda sofri na carne e na alma a ousadia de falar. Mas duvido muito, acho que poucos se salvarão. Mais do que um "pensador inquieto" muitos me catalogaram de palhaço e se divertiram à minha custa com um ânimo tão aceso que parecia que se divertiam hilariantes esmagando ovos, e mais ovos, na minha cara grotesca e borrada. E com todas essas raivas e ódios, e petulâncias que punham nos lançamentos, acabaram tudo fazendo para destruir um rosto e fustigar um coração. Não me levaram de vencida, mas não ganhei a guerra. Como eles sou a cópia da pequenez e do fracasso. Não me amordaçaram mas ninguém me quis ouvir. No entanto é muito difícil tapar o sol com a peneira, e calar a razão. Decididamente cairemos juntos.
Sem comentários:
Enviar um comentário