sexta-feira, 18 de novembro de 2016

NÃO É PRECISO SER ESTÚPIDO PARA TER SUCESSO MAS AJUDA MUITO








Não se pode associar excelência a um povo que depois de amordaçado por mais de cinquenta anos, inculto, medroso, tímido, apático e indolente procura ainda descobrir se por obra e graça do Espírito Santo, lhe ficou nas mãos alguma qualidade que possa agitar ao vento contestando aqueles, que sempre existem, só dizem mal, e às vezes verdades, que consideram o povo português um povo em evolução, que tendo já em sua posse a generalidade dos defeitos, necessita coragem para se completar com as qualidades que lhe faz falta ter (Almada Negreiros).

A um povo assim, pedir uma vida pautada por valores e ideais que possam conduzir a uma vida que faça sentido e proporcione às pessoas a felicidade e as condições para realizar uma sã convivência que seja garantia de uma vida boa, é como pretender guardar o ordenado líquido nuns bolsos forrados de plástico. É uma fantasia, sem pés nem cabeça. O português é pequenito, pouco dotado de beleza e com uma inteligência com muito potencial quando se descobrir o modo de irrigar esses cérebros cheios de serradura. António Lobo Antunes declara que gosta desta terra mesmo assim tal qual ela é, apesar da abundância da pequenez, da fealdade e da estupidez que aí vagueia.

Mais amigo da nossa realidade - é o que sempre sucede - tem que ser a razão apontada por um forasteiro de inteligência e saber inquestionável, falo-vos de Gustave Flaubert, famoso escritor, que considera ser a estupidez uma condição fundamental, a juntar a outras, que possibilita o acesso à felicidade.

Deste modo podemos verificar o quanto somos felizes, tanto como pequenos, feios e estúpidos. A estupidez é garantida por Lobo Antunes, e como Flaubert a considera condição primeira para ser feliz, e sendo obrigados tecnicamente na observação das ciências humanas que a estupidez não é qualidade mas se submeterá facilmente no rol extensíssimo dos defeitos dos portugueses, e os possuímos garantidamente, segundo Almada negreiros, não precisamos de uma única qualidade para ser feliz.

Nesta análise que ultrapassa uma perspectiva filosófica e provavelmente assenta em terrenos mais modernos da sociologia ou mesmo da psiquiatria, facilmente compreendemos como o povo vive tranquilo e feliz, e suporta todas e mais algumas ofensas, todas as mentiras que lhe fazem, todas as promessas que ficam por cumprir, e até acha engraçada e inteligentes os que fazem da corrupção alguma coisa que se veja, que divertem com apostas de café se o ministro ou o secretário tem ou não tem o curso que todos dizem ter, aplaudem a perspicácia daqueles que estando no governo conseguem - e não é para todos - desenrascar a vida dos filhos, da mulher, da sobrinha, do filho da porteira e até da amante, e não se preocupam com as crises, isso são invenções para dar valor e pagamento aos economistas que como todos sabemos para a mesma doença têm um milhão e meio de tratamentos diferentes. 

Neste pequeno apanhado das características do povo português se percebe como a vida é boa, e sempre é melhor viver tranquilo o dia a dia, que matar a cabeça a tentar decorar o nome dos ministros, dos deputados e outros que vivem à conta dos outros, tendo a política se tornado o desenvolvimento natural para uma profissão já extinta de vendedores de banha da cobra. E proliferam pelo país fora os pequenos ditadores, que não ligam às leis, que não cumprem as normas, que fazem uns favores à rapaziada lá do partido, aos amigos e a uns importantes que ainda podem ser precisos no futuro. E até se entende a necessidade de se deitar a mão a tanto idiota profundo que de outro jeito não arranjaria emprego em lado algum do país. Pelo menos nessas coisas que parecem ser do estado e não são, e outros afiançam que são, fecha-se os olhos e melhor que uma misericórdia se deita a mão a tanta desgraça. Deus olhe por essas pessoas, podem não ter competências ou méritos, mas fazem acções boas e ajudam muita gente. E muitas vezes como de cima para baixo nada se sabe, nada se exige, e o trabalho até à reforma leva-se com uma perna atrás das costas. E de facto vive-se bem, só é preciso não andar por aí feito revolucionário a levantar dúvidas e questões. Toda a gente sabe que o mundo é assim o que querem uns maricas saídos das universidades, se metendo nestas coisas, há que esperar, hoje de um, amanhã de outro, o porco engorda mas o povo é louco por toucinho.

E assim vivem os descendentes dos tais que os romanos diziam há cerca de 2000 anos, "este povo que não se governa nem se deixa governar", e em boa verdade se há algo que fazem exemplarmente é desgovernarem-se, isto tudo anda ao sabor do vento, são governos naturais, serenos, que vivem e deixam viver, onde tudo é tão pequenino que nem vale a pena levantar problemas. Gente pequena e estúpida resolve o que faz falta. E lá isso de ser feio s´trás vantagens, imaginem este belo portugal com um clima assim, e homens esbeltos e mulheres lindas como Eva, não dava para estancionar cá dentro, os internacionais de todas as partes do mundo vinham até cá espreitar a sua sorte, afinal nada como uma mulher estúpida e um homem burro, pequenos  e esbeltos para garantirem um mundo absolutamente novo.

Que grande povo é o nosso, e que bem que temos sido desgovernados. Tudo é harmonia. Tudo é fado.

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