Recordo nostalgicamente uma poesia que nem mesmo recordo quando decorei, e nunca mais esqueci. Talvez porque aquele conjunto de palavras que eu só com o tempo consegui interiorizar completamente conquistaram um lugar em mim, para sempre, como se mensagem sublime fosse, ditada por um deus de um qualquer ponto do universo.
A maturidade não chegou para absorver a mensagem intensa, profunda que tem essa poesia de que - ingratamente e sem explicação, esqueci o autor - e nunca saiu do meu ser. Foi preciso primeiro mergulhar em mim mesmo, penetrar nas entranhas do corpo e da alma, e perceber cada recanto, cada nó, cada ferida, cada calosidade, cada sombra, ou a luz frágil, cada vibração, cada intenso fogo.
Depois de aprender a gostar daquilo que exatamente sou, e de tudo aquilo que a vida, com as suas circunstâncias, moldou em mim, fui capaz de perceber a potência do amor e do perdão, da espiritualidade, do ser que somos e que do divino somos dádiva e representação, e, como alguns afirmam, que não só sou feito do pó das estrelas, como acredito que a minha estrela lá no alto, cada dia brilha mais.
E, cada vez estou mais forte, mais poderoso, mais inquieto num mundo revolto em que desgraçadamente o homem se encontra e para o qual não tem respostas, e, aparentemente, nem dúvidas. Percebo hoje tanta coisa que nunca me teria sido acessível se não tenho passado por tantos momentos únicos, inexplicáveis, inimagináveis e que pareciam muitas vezes possuídos por crueldades, tiranias, vicissitudes completamente demolidoras.
Hoje sirvo de modelo à citação de Nietzsche de que aquilo que não nos mata nos faz mais fortes.
Hoje, comecei a perceber um pouco do mundo e da vida, e do homem. Por isso amo o homem. Mesmo percebendo que é o protagonista maior da sua própria tragédia. E amo Deus, que não vem resolver os nossos problemas mas nos deu as soluções para não dilacerarmos as nossas vidas e destruindo a terra que nos foi dada para sermos, nela, felizes.
De mais ninguém
Senão de ti preciso,
Do teu sereno olhar
Do teu sorriso
Da tua mão
Pousada no meu ombro
Ouvir-te murmurar
Espera e confia
E sentir
Converter-se
Em melodia
O que que era antes
Confusão e assombro.
Foi esta poesia que desde os tempo s de escola nunca esqueci. Hoje senti a mão pousada no meu ombro. E sinto com uma divina alegria essa bênção que só pode ter vindo de Deus. Espero e confio. E tudo vai converter-se numa mágica e sublime harmonia que fará inequivocamente afastar-me da confusão e separar-me de assombramentos.
Hoje, dei um pulo gigantesco no meu crescimento interior. Sou mais livre. Mais consciente da minha pequenez. Mas vejo distintamente a grandiosidade que existe em cada homem. Há obras que se não explicam. Existem. Quem as fez não escreveu manuais ou deu cursos. Simplesmente está. Ele e a sua obra. Quando percebermos a pujante força que existe em cada homem - infelizmente inexplorada, esquecida, desprezada - o mundo mudará, e tudo será como deve ser. Tudo.
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