domingo, 24 de abril de 2016

A CEGUEIRA MAIS NEGRA


Causou um certo furor uma pergunta que apareceu num exame de Economia Política;
Um cientista pegou numa pulga e disse-lhe salta, e a pulga saltou,
De seguida o cientista arrancou as patas à pulga e ordenou, salta,
A pulga não saltou.

CONCLUSÃO A PULGA SEM PATAS NÃO OUVE




De seguida, a pergunta terminava pedindo ao examinado que à luz dos seus conhecimentos de Economia comentasse a conclusão e a experiência efectuada pelo cientista.

Toda a gente sabe - gosto de coisas claras - que não sou nem intelectual nem erudito, apenas exercito a faculdade dada por Deus de pensar.

Creio que nunca encontrei à luz dos meus poucos conhecimentos de Economia - que ainda duvido seja ciência - resposta para o facto saltar ou não, consoante ouve ou não ouve por falta de patas, ou com patas, as ordens do cientista. Acho mesmo essa pergunta algo estrambulhada, meio doida, se sentido duvidoso. Mas as novas áreas do saber possuem de facto coisas imaginativas que lhes servem de modo de catapultar no meio das ciências.

Mas confesso que levei dias a pensar na pulga - cheguei mesmo a sentir comichão um pouco por todo o corpo - e como o raio do animal sem patas não ouvia. Isso parece-me brincadeira carnavalesca. Mas o certo é que a pergunta foi feita, circulou por toda a Faculdade, dada a sua peculiaridade excêntrica, e julgo mesmo que ninguém conseguiu acertar na resposta.




Há dias veio à minha cabeça de novo esse paradoxo, essa história, e analisando pulgas, patas e cientista, os meus pensamentos, que é a única actividade que exercito com perícia e sem cessar, o pensar, determinaram para mim próprio que tudo não passa de uma incorrecção meio chanfrada com o intuito de pregar partida nos estudantes. E concluí deste modo, primeiro tenho dúvidas que a pulga tenha saltado a mando do homem da ciência mesmo com todas as patas, as pulgas não são animais conhecidos por obedecerem facilmente a ordens dos humanos. Depois achei que o facto da pulga já não ter patas em nada se afigura relação com o facto de ouvir ou deixar de ter esse sentido, pelo que é completamente desprovido de senso tirar conclusões de coisas absurdas que nem apresentam qualquer tipo de relacionamento. Por fim, apercebi-me que o cientista, deve ter confundido a pulga com outro animal, baralhou-se totalmente misturando no pobre animal reacções insólitas sobre este saltar ou não saltar, por ouvir ou não o seu comando, com ou sem patas. 

Penso, logo exausto, que o cientista devia ser efectivamente economista, ou não percebia absolutamente de nada. Nem era homem do saber, era simplesmente um tolo pretensioso fazendo experiências disparatadas que não cabem na cabeça de gente normal.




E por falar em gente normal, e na minha exaustão de tanto pensar no raio da pulga e seus derivados, depois de ter gastos umas centenas de horas esgrimindo argumentos, criando e desfazendo teorias, tive que aceitar humildemente que não consigo evoluir - mantenho-me exactamente igual aos economistas que aconselham os governos, que ainda continuam a passar receituário do tempo dos romanos, impostos para cima do povo, apenas variando no termo, que com efeito vale um Diploma Académico, austeridade - e, não evoluindo, mesmo continuando a pensar, refugiei-me numa teoria paralela. 

Tem quase tanto impacto como a mão invisível de Adam Smith para a Economia, que defino por Teoria Luminosa em Fundo Negro. O nome parece-me bem. Pelo menos dá um certo ar astrofísico, com mistura de astrologia, matemática, e muito mais áreas do conhecimento a que tive de recorrer para pensar bem, isto é, com consciência, que quer dizer, com fundamentação ou consistência.

Fui fazer as minhas experiências em humanos, tenho receio de animais irracionais, e detesto pulgas. Passaram pelo crivo de minhas singelas experiências quase dez mil pessoas, para ser preciso, a ciência assim o exige, 9.873 pessoas. A todas pedi que lessem um pequeno rol de regras de bom viver em sociedade. Coisas simples; respeito pelo outro, pela liberdade, pela dignidade, pelas leis, pelos mais fracos... Tudo coisas fáceis, que todo o ser humano deveria seguir como um estandarte. Todas leram as 17 pequenas frases que compunham o meu teste experimental, pelo menos 100 vezes. depois ordenei que fossem a sua vida e me trouxessem um relatório sobre o respeito ou falhas às regras do estudo. E a todas, para facilitar o tempo de estudo e de leituras, entreguei um candeeiro que fornecia uma belíssima luz, brilhante e que não cansa a vista.

Quando fui confrontado com as respostas recebidas, em que cerca de 7 % declararam não sabe/não responde, 3% nada disse, analisei as 90% de respostas, concluindo com pesar que nenhuma das cobaias humanas tinha conseguido cumprir à risca, isto é, sem falhas, o que as regras impunham respeitar.

Terrível ofício este de pensar tudo. Perante estes dados que considero de humilhantes e ultrajantes para os animais que cria racionais, e depois de um milhar ou mais de intensa e profunda meditação cheguei à conclusão que o ser humano não aceita a luz. Lamentavelmente, tendo tido o cuidado de lhes facultar a melhor luz existente no mercado, as pessoas não puderam assimilar o conteúdo da mensagem. 



A conclusão da Teoria Luminosa em Fundo Negro é triste mas simples. Mesmo mostrando a luz a um homem para que este possa ler um conteúdo simples sobre o comportamento do quotidiano de forma respeitável e social, este fica pior que um cego, que não vê, fica bem pior, pois parecendo possuir um sentido natural que todos devem ter, logo tudo se torna de um negrume gritante quando frente à luz, apenas tem que visualizar um comportamento ético e moral. E confirma a antiga ladainha, o pior cego é o que não quer ver, nem com a melhor luz. Curioso, dá para pensar...

Vou continuar pensando.




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