segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

JÁ ME SINTO CANSADO DE BATER EM MORTOS...


ESPERE! TEM DE ESPERAR!
Seria um magnífico título para um livro de aventuras em que os malabarismos entre o que deve ser e o que nunca se devia fazer provocariam tonturas nos leitores, que subitamente se imaginavam num mundo de gente absolutamente desprovida de senso, de pessoas, ou de aparências de gente com poder para baralhar, destruir, obstaculizar, amesquinhar a vida, no fundo, de uns milhões de tontinhos que mais não andam cá a fazer que ver passar os comboios. Este processo não seria mais tresloucado do que se fosse um jogo do faz de conta numa sessão de entretenimento de doentes mentais, em algum tempo livres de quem os deva cuidar. Portugal é uma república de gente completamente absurda, que não se imagina, ninguém de senso mediano possui uma imaginação tão fértil que possa sequer ter uma ideia da montanha russa do meu processo, desgovernado, do maior para o mais pequeno, de um lado para o outro, jogado para o lado, caindo em incumprimentos por outro, e se vai passando o tempo, que sempre se traduz numa justiça que por tardia deixa de o ser para se transformar cumulativamente em mais uma injustiça.
Na Europa pensar-nos-iam num mundo inimaginável e se vou contar todas estas tramitações para a direita e depois para a esquerda, para o ar e para o subsolo e tudo ficando na mesma, de uma administração pública, e de entidades públicas, de titulares de órgãos públicos, e até de soberania, em completo desnorte, num caos exactamente igual ao primeiro deus que se conheceu e representava um abismo, escuro, viscoso, profundo, sem fim, percebiam de imediato que ainda não foi possível introduzir civilização por estas bandas, e a razão única aceitável é quando um estrangeiro do alto da sua sabedoria diz em tom coloquial que Portugal fica na África.
Desse modo, poderia exactamente pensar-se num aproximação da verdade, mas criaria um conflito diplomático de proporções desconhecidas de nações africanas que se sentiriam profundamente achincalhadas.
A Senhora Presidente das Juntas Médicas de Avaliação de Incapacidade, deixando por momentos o tresloucado acto que ela e os seus comparsas me fizeram, foi de uma visão impressionante. Como um ser ao mesmo tempo tão acima da mediania e do seu tempo se deixou enrolar num caso de clara pouca sorte por desleixo e falta de cuidado, e mostra, aqui, na cidade de Portalegre, no país e na Europa e atrever-me-ia mesmo a acreditar ser assunto galáctico discutido no universo, a dimensão absolutamente impregnada de genialidade, quando perante mim, e num modo até austero, disse uma das verdades mais sábias do cosmos; espere! tem de esperar!
E tenho de admitir, mesmo que não guarde rancores nem ódios a Sua Excelência, que sou mesmo obrigado, a bem do rigor, da verdade, do que é, que tudo se resume efectivamente a uma espera interminável, como se estivéssemos num jogo, sem fim, até que numa das equipas caísse o seu último elemento.
ESPERE! TEM DE ESPERAR!
Nem Napoleão Bonaparte ousava ser tão certeiro, e não esperou e perdeu a batalha de Waterloo. Ninguém parecia feita para esperar, não imaginamos Aníbal ao atravessar os Alpes com a sua tropa com elefantes mandar todos, homens e bestas, esperar, esperar, e lá perdeu as Guerras Púnicas. Nem a Invencível Armada esperou, quando devia ter esperado, e antes de se defrontar com a armada da Inglaterra já estava praticamente vencida e desesperada.
O mundo é o que é, um cataclismo em crise, porque não se soube esperar. Correu-se atrás de coisas de gente tipo feiticeira que descobriu uma coisa fenomenal que resolveria todos os problemas da humanidade, chamada globalização, que anos depois se percebeu que não deu quaisquer frutos e os objectivos iluminados que apontava, o aproximar dos povos mais ricos com os mais pobres, e equilibrar a vida na terra, foi tudo um fiasco de gigantescas proporções.
Mas o mundo nunca seria assim se o homem soubesse esperar. Se soubesse extrair do desenvolvimento da técnica e da ciência vantagens para a vida do homem. Com tanta sabedoria, tecnologia, inovações, inteligências deste e do outro mundo, os homens não estão mais ricos, a vida não é melhor, o homem não necessita trabalhar menos cada dia e ter uma menor vida como trabalhador. E o sonho de uma vida melhor, do homem que depois do trabalho vai ter tranquilidade, qualidade de vida, ocupações de lazer e cultura, e um fim mais nobre, percebe que em vez de ter beneficiado de tantas ferramentas que tudo prometiam, tornou-se seu escravo.
Não há dúvida que o Princípio da Incerteza é o único que podemos tomar como verdade, poucas coisas são realmente como parecem ser, e a dúvida e as questões que estão por detrás da filosofia, mantêm a sua actualidade. E na dúvida, a prudência aconselha antes de uma percentagem sólida de confirmações científicas, a esperar, a ter que esperar, antes do mundo, do homem, da terra e da vida encontrarem um penoso fim.
Muitos anos vão passar, se Deus quiser, e eu nunca vou esquecer a palavras mágicas e cheias de sabedoria que ouvi naquele dia. Sua Excelência foi simplesmente prodigiosa.
ESPERE! TEM DE ESPERAR!


  • Uma simples carta chegou do Chefe de Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde




  MORTE QUE ANDAS TÃO CEGA,  

  E MORRE TANTA GENTE BOA...  










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