Regras para o povo e excepções para as elites
O combate ao vírus não tem sido democrático: não trata todos por igual e distingue povo e elites. A Covid-19 também veio lembrar que Portugal é muito menos livre, justo e democrático do que pensa ser.
Alexandre Homem Cristo
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"O que falta dizer é que, no seu conjunto, essas situações desenham um retrato de Portugal que em nada nos lisonjeia: um país onde as regras só existem para o povo e as excepções se aplicam sistematicamente às elites. O uso de máscara é obrigatório para trabalhadores nas empresas, mas dispensável para deputados. As aglomerações são proibidas aos cidadãos mas incentivadas nos contextos políticos. Os mais populares festivais de Verão são forçados ao cancelamento, mas os festivais de Verão partidários mantêm-se. Os eventos culturais de elite realizam-se em salas com plateias compostas, os eventos culturais e desportivos de maior interesse popular não podem ter público.
Ao contrário do que se tem debatido, não importa determinar se o vírus é ou não democrático, se atinge mais os ricos ou se vitima mais os pobres. Importa, sim, sublinhar que o combate ao vírus não tem sido democrático, porque não trata todos por igual. Este é um facto objectivo: as distinções que separam pobres e ricos, povo e elites, vêm das próprias autoridades, que determinam as regras e, logo a seguir, desenham as excepções à medida da força dos grupos de influência. Eis um país onde o estatuto social e o acesso ao poder ainda definem liberdades e garantias. Depois de expor as desigualdades sociais, económicas e educativas da população, a Covid-19 também veio lembrar que Portugal é muito menos livre, justo e democrático do que pensa ser."
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