segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

“Maus chefes provocam ataques de coração”


Deambulando, ao acaso, por alturas de mais um Carnaval – um entre tantos que povoam a nossa já quase ridicularizada e hilariante existência – quando, descobri perdido entre os emails antigos do meu vasto e desordenado correio (infelizmente nem sempre tenho tempo para abrir e destruir atentamente tudo o que me chega), um por abrir, vindo de gente simpática e amiga, com a indicação do seguinte assunto: “Fwd : FW: A Ciência confirma…”

Percebi de imediato porque passaram tantos dias sem abrir o infeliz correio. Confesso que já acredito muito pouco quer na ciência, quer nas verdades absolutas, do mesmo modo que me causa sempre alguma irritação assaz terrífica, em zona íntima, qualquer alusão a gente esclarecida e miraculosa que nunca tem dúvidas e que nunca se engana.

Eu, embora diga sempre baixinho – nunca se sabe quem está ao nosso lado nestes tempos de uma democraticidade popularucha, onde um distraído Zé descalço pode ser afinal um competente doutor, ou um qualquer aparente troca-tintas ser ministro, ou mesmo, onde um pobre de Cristo sem história pode, afinal, tratar-se de um gestor competente e com um ordenado milionário de uma qualquer empresa pública – engano-me, erro, sussurro, e tento mesmo justificar tais defeitos com uma natureza que cada vez parece mais minha que dos demais, sou humano, homem, imperfeito, cometo erros, meto água e digo asneiras.

Bem, deixemo-nos de lamúrias e passemos aos tais importantes, finalmente, da mensagem do meu correio por abrir. Mensagem aberta… um vazio. Tudo branco, hoje já não existe nem coração para um simples “Olá, tudo bem? A família?...”. Nada. Só um anexo, que de imediato abri.

Deparo em seguida com uma imagem de um Editorial (editorial@destak.pt) com a fotografia de Isabel Stilwell. E em letras grandes, anunciava-se a natureza da notícia, “Maus chefes provocam ataques de coração”.


Dada a importância inequívoca da notícia, os cuidados que as pessoas devem ter com a saúde, e muito em especial com o coração que mata que se farta no nosso país, transcrevo o artigo, fantástico e esclarecido daquela Directora do Jornal Destak, aqui mesmo em baixo:

"Faz muito bem em ir ao ginásio, seguir uma dieta regrada, em evitar tabaco, álcool e por aí adiante. O seu coração agradece. Mas se quer mesmo garantir a sua sobrevivência, e apesar da dificuldade em encontrar novos empregos, fuja a sete pés dos chefes incompetentes, irascíveis e injustos, porque o efeito desta gente sobre a sua saúde pode revelar-se mortal. Pelo menos é o que diz o estudo de uma equipa sueca que acompanhou mais de 3 mil trabalhadores homens, com idades entre os 18 e os 70 anos.

A primeira tarefa pedida às cobaias foi a de que avaliassem a competência e o carácter de quem geria o seu trabalho. Depois, durante uma década, a sua saúde foi sendo avaliada, registando-se neste período 74 casos de empregados vítimas de problemas cardíacos graves, nalguns casos até fatais. Do estudo à lupa de todo este trabalho, foi possível perceber que existe, de facto, uma relação directa entre a doença e os maus chefes.

Era esse o factor de risco que todos tinham em comum, e que assumia mais peso do que factores de risco como o tabaco, ou a falta de exercício. Perceberam também que os efeitos secundários dos chefes maus era independente do tipo de trabalho desempenhado, da classe social a que pertenciam, das habilitações que possuíam e inclusivamente do dinheiro que tinham na sua conta bancária.

Descobriram, ainda, que o efeito que um incompetende a mandar provoca é cumulativo, ou seja, se trabalhar para um idiota aumenta em 25% a probabilidade de um enfarte, essa probabilidade crescia para 64% se o trabalhador se mantivesse naquela situação por mais de quatro anos.

A explicação é relativamente simples: quando alguém se sente desvalorizado, sem apoio, injustiçado e traído, entra em stress agudo que leva à hipertensão e a outros distúrbios que deterioram a saúde do trabalhador. Daí a importância do apelo que estes especialistas fazem de que as estruturas estejam atentas e «abatam» rapidamente os chefes que não merecem sê-lo."

Confesso que fiquei aterrado com a notícia. Baralhado. Confuso. Sem palavras. Tentei reflectir mas senti-me bloqueado. Percebi porque morre tanta gente do coração. E porque afinal, com o aval da ciência, parece ser de todo verdade que os chefes matam, ralam, esfrangalham, destroçam, arruínam, castigam, espezinham, desrespeitam, escorraçam tudo o que mexe. Desde o pequenito ao maior, só escapa o que querendo o lugar do chefe, adula, beija, abraça, enaltece, engrandece, e bufa tudo o que se passa no serviço ao seu superior.

Percebi, ou pelo menos parece-me, que já entendo, porque a pouco e pouco foram sendo substituídos os velhos e anquilosados chefes de carreira, que embora conhecendo, pela experiencia, a natureza humana e a complexidade dos serviços, por ágeis e simpáticos rapazinhos, talvez pouco experientes mas com inquestionável fulgor, uma capacidade nova de liderar, e, sobretudo, zelosos seguidores da vontade colectiva que mais não é que cuidar do coração de todos como cuidam do país. Com zelo, com dedicação, com respeito, com competência.

Com as novas metodologias, pode-se, em boa verdade, não ter muito melhor comparativamente com os resultados de outros tempos, mas que existe mais um cultivar de harmoniosas relações laborais, que é cada vez mais importante seleccionar a pessoa certa, escolher melhor, com mais critério e cuidado, entre conhecidos, entre amigos, ou entre recomendados, lá isso ninguém nega.

E para quem não compreendia as nomeações tantas vezes incompreendidas, para este ou aquele lugar da administração, as promoções nesta ou naquela carreira, o estar aqui e não ali, é determinante assinalar-se que isso deve-se, antes de mais, a uma política em defesa do coração. Das gentes.

Viva o país…

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