sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Frio para todos! Viva o inverno do nosso desgoverno

Congelamento salarial

Governo decreta aumentos zero no sector empresarial do Estado


O Ministério das Finanças acaba de anunciar a decisão de que os salários dos gestores e funcionários das empresas que compõem o sector empresarial do estado (SEE) não poderão sofrer aumentos em 2010, à semelhança do que foi decretado para a Função pública

Segundo aquele órgão de comunicação o gabinete do Ministro Teixeira dos Santos já fez seguir uma carta para as empresas que compõem o SEE, onde determina que "no âmbito das negociações salariais em curso ou a ser iniciadas com incidência no ano em curso, os Conselhos de Administração das empresas públicas deverão respeitar as orientações já adoptadas para as actualizações salariais na Administração Central", acrescentando ainda que "deverão igualmente abster-se de negociar cláusulas de efeito pecuniário com implicações em anos subsequentes".
"Esta orientação deverá prevalecer sobre decisões que possam ter sido já adoptadas pelas empresas, mas ainda não executadas", lê-se referida carta.

in Jornal Público de 2010/02/25

Cai neve, branquinha, suavemente vamos sendo tolhidos por essa frescura que repentinamente se transforma em agreste invernia. Diziam-nos que tudo seguia bem. Que tinhamos gente a decidir, a governar, a resolver os problemas do país. A crise, era voz corrente, estava vencida, vergara-se perante a sabedoria nacional, as decisões acertadas, o rumo mantido. Faltava apenas seguir, passo certo, para a frente, lado a lado com a evolução da ciência e da técnica, junto da modernidade, abraçado às benditas novas oportunidades e ao plano tecnológico.

Alguns pensaram mesmo que não faltaria muito e estariamos a dar cartas ao resto do mundo. Nas novas energias, nas novas obras, nos planos quiméricos que nos transformaríam, é bom dizê-lo, num novo e incrível Dubai, mas aqui, mesmo à beira dos nossos irmãos europeus, no velho cantinho luso.

Foi-se a crise, esperava-se o sol, não aquele de inverno que promete e não chaga a dar calor, mas um solinho pujante, altaneiro, explosivo, distribuíndo lufadas de delicioso calor e muita luz. Ele apareceu, foi prometido, apregoado, chegou mesmo, dizem, a dar votos - ele ainda há gente que acredita em tudo - e, depois, às cambalhotas de gozo, voltou não se sabe bem para onde, e ninguém tem ideia de quando pode voltar.

E apareceram as rotineiras medidas milagrosas conhecidas ainda antes de haver economistas, que já originaram um pouco por todo o mundo, desde tímidos protestos ás mais assanhadas revoluções, o tirar, o dar menos, o fazer pagar mais, e está bem de ver, a quem menos pode. É sempre assim. Mesmo agora, que os economistas são mais que muitos e a economia atrevida, até parece uma ciência. Mesmo assim, à antiga, não se conhecendo novas maleitas para enfermidades tão velhas quanto o homem.

E a arte é começar pelos bodes expiatórios. Podem ser os padres, ou os maricas, ou os playboys, ou os que nada fazem nem deixam fazer. Encontra-se um culpado e casca-se grosso na besta. Escaparam aqueles, ficaram os funcionários públicos. Já se sabe a desgraça da nação passa por eles, corte-se, corte-se em tudo, pensões, direitos, salários. Acabe-se rápido com a praga. O povo, coitado, a fazer as contas à vida, aplaude, enquanto se malha no funcionalismo folgam as costas.

Depois, caramba, até parece que ainda há mais culpados para a desgraça a que se chegou que os funcionários, estende-se a medida aos trabalhadores das empresas públicas. Que protestam. Sopram de raiva. Alguns lembram meio envergonhados como riram dos funcionários públicos à dias atrás, e agradeceram à providencia o serem das requeintadas e especiais empresas do estado. Agora, desunidos, estão no mesmo barco. Uns deixaram de rir, outros de chorar. Ele há cada coisa na vida.

Em seguida... bem naturalmente que em seguida chegará aos demais. Que esfregaram as mãos quando espoliaram os funcionários, e riram quando as medidas de amolar tocaram nos colegas das empresas do estado. Rapidamente, - o povo mesmo que pareça, nem sempre é burro - toda a gente perceberá que essa comédia da crise que passou, mais não foi um embuste, ou a arte trapalhona, de com um morreu o rei, viva o rei, se lançar, como se nova coisa se tratara, mais uma crise, a juntar a tanatas outras que este ditoso povo tem que suportar.

Entretanto, uns figurões que se dizem legitimados pelo voto a representar todo este povo, continuarão a prometer paraísos, a apregoar obras novas, a garantir futuros de ilusão e opulencia. E, recorrendo aos tais procedimentos a que já os antigos recorriam quando se sentiam falidos e se mostravam incapazes de fazer seja o que for de acertado, mas em nome das novas ciencias, das novas regras, dos novos procedimentos, voltarão a atacar, como salteadores de pinhal à beira do caminho, o que ainda tem algo de seu.

Tantos novos saberes inaproveitados, quando existem, dizem, tantas técnicas e tanta gente competente por aí. Que mundo. E não haver prisões para meter dentro tanta vilanagem. Que país. Que gente.

Pedro Alcobia da Cruz


Sem comentários:

Enviar um comentário