quarta-feira, 26 de abril de 2023

A CONFIANÇA NO MUNDO

 


Só um homem absolutamente confiante divaga em sábia publicação - que bondosamente acreditamos ser de facto obra sua - sobre a confiança no mundo. O pretenso autor é José Sócrates ex-primeiro ministro português. O prefácio do confiante livro foi escrito por Lula da Silva que já foi presidente de república, e depois de mais de uma série de peripécias volta a presidir os destinos do povo brasileiro e o caminho desse gigante da natureza que é o Brasil.

Em comum, entre os dois homens que compartilham com os mais simples mortais essa ideia maravilhosa da confiança no mundo, está terem tido, depois das suas experiências governativas, problemas com as justiças dos seus países, terem estado no cárcere por algum tempo e, posteriormente, um, Lula da Silva foi ilibado das acusações por nulidades formais, e o outro, José Sócrates, na sua peugada, se vai libertando também das acusações, por prescrições paulatinas das acusações de falsificação. Outras, naturalmente se lhe irão seguindo.

Começo a acreditar que essa parceria interessantíssima com semelhanças curiosas não vai acabar por aqui. Na decadência que se assiste na justiça, na crise em que mergulha a nossa democracia, admito mesmo que José Sócrates vai ressuscitar e regressará à vida política como uma vítima que o direito português, por fim, veio retirar de tamanhas infâmias. E voltará aclamado e vitorioso, e seguirá o exemplo do seu amigo Lula, se candidatando à presidência da república portuguesa.

Só o tempo e a história nos dirão em bom rigor se culpados ou vítimas de danos e crimes de que foram acusados. Mas ficarão na memória de muitos, sem qualquer dúvida por muito tempo. A história não deixará de relatar que, em verdade, acabaram por ser bafejados pela estrelinha da sorte que os libertou de uma cega atuação da justiça. Esta, de mão dada com um direito que se afigurou, em boa verdade, bem torto, foi incapaz de revelar a verdade, a inocência ou a culpa, a necessária reparação ou o aplicável castigo. 

Em Portugal já outros escaparam a esse veredicto que a justiça verdadeira, ou o estado de direito, não podem deixar escapar. Bem ou mal, truques ou habilidades, privilégios de apenas uns muito poucos? Sem julgamento, sem o crivo da lei, continuam serenamente e confiantes a viver, como justos. A confiança no mundo deveria ser para todos e por boas práticas, morais e éticas, e não apenas para uns eleitos sem ética e sem moral. Enfim, doentes e em pesado declínio, estas democracias mostram claramente que uns cidadãos são mais iguais que outros. Que a uns a força do direito se aplica cegamente, enquanto a outros, o direito serve para proteger da justiça.

Quem quiser ter privilégios destes e os não consegue cá, só pode seguir este meu conselho, emigre. Ou, querendo por cá ficar, seja audaz, aprenda rápido, seja esperto, mesmo que não tenha escrúpulos e cresça, suba, trepe. Chegando lá no alto, a justiça não vê, e o direito torna-se torto.

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