domingo, 18 de setembro de 2022

UMA PRESIDÊNCIA SEM FUTURO, IMEDIATISTA E AO SABOR DAS SONDAGENS

 

Sei que pode parecer ousadia ou mesmo um rasgo nítido de loucura expressar o quanto o desempenho no cargo para o qual os portugueses o elegeram, de Sua Excelência o Senhor Professor Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República de Portuguesa, me tem desiludido. E muito.

Parece um pequeno monarca, numa república que rejeitou através de uma revolução a monarquia há mais de cem anos. A sua felicidade é irradiar alegria, sorrisos entre o povo, entre as gentes, sejam nacionais ou estrangeiros, seja em Portugal ou onde o recebem e o tratam bem, ou mesmo mal (Brasil de Bolsonaro). Beijos e abraços, apertos de mãos, selfies, entrevistas, espectáculo, eis o nosso presidente na ribalta, rodeado de luzes e feliz.

Presidente de um país que há mais de 20 anos corre para a cauda dos países europeus em riqueza e qualidade de vida aos seus residentes e naturais, vemo-lo assiduamente do lado do primeiro-ministro, dos ministros, como garante de estabilidade, consentimento das políticas adoptadas e apoio inequívoco de um status quo que não leva Portugal para lado nenhum. 

Honestamente, confesso que esperava mais de alguém reconhecido por possuir uma cultura muito acima da média e uma inteligência que todos lhe reconhecem. Um homem com passado mas, em abono da verdade, sem feitos excepcionais. Foi um líder do PPD pouco relevante. Foi um candidato derrotado à presidência da Câmara de Lisboa. Não me recordo que tenha desempenhado qualquer alto cargo com brilhantismo.

Mas foi sempre popular. Muitíssimo popular entre os estudantes. Era pecado mortal faltar às aulas sempre animadas e repletas. Corrigia os pontos dos alunos das aulas práticas e permitia a nota de 15 aos alunos do primeiro ano sem necessidade de qualquer exame de melhoria. Convidava os seus jovens alunos para o jantar convívio pelo Natal.

Tornou-se conhecido e popular depois de anos na direção do semanário Expresso, como político e anos a fio como comentador na televisão. Era visita assídua nos lares dos portugueses.

Tão popular assim fácil foi a sua chegada à presidência, tendo mesmo, durante a campanha para a presidência, assumido um papel de alguma condescendência com os seus rivais, mostrando-se cordato, simpático e muito tolerante nos debates.

Não se lhe conhece uma ideia para Portugal. O que defende para a educação, para a justiça, para a economia, para a saúde, para o desenvolvimento económico e social. Gere o dia a dia. 

Garante a estabilidade que é exatamente assegurar o que temos. Mesmo se isso é muito pouco e os portugueses merecessem e precisassem de muito mais. 

Parece um anjo da guarda do primeiro-ministro de quem reza, foi professor. Parece ter trocado a família política onde sempre esteve colocado por popularidade e boas sondagens nos media. Os seus actos parecem guiados por populismos momentâneos, pelos momentos, pelas situações que vão ocorrendo, pelo imediatismo.

Mesmo o ser presidente de todos os portugueses, atento a todas as tragédias, fraterno, humano, leal, imagino que sejam tocadas, algumas vezes pela presença dos media, pelos canais de televisão, pelo que é ou não notícia. O mesmo sucede, naturalmente, com a serenidade que se mostra de um presidente que anda só por todo o lado, faz compras no supermercado, vai ao café, anda nas ruas e vai tomar uma banhoca nas praias. Os seguranças - criteriosamente escolhidos, pagos pelo erário público e obrigados a disciplina férrea - ficam de folga, enquanto, curiosamente, os profissionais de televisão estão lá.








Retiro do Observador, Macroscópio, partes do trecho de

José Manuel Fernandes


(...) porque depois de tantos anos e tantos solavancos este doce viver português assemelha-se cada vez mais à história da rã que, deliciada com a água que vai aquecendo ao lume, se deixa morrer cozida.


A equiparação que Marcelo Rebelo de Sousa fez em Angola entre as discussões em Portugal, em 2015, por causa da legitimidade política de uma maioria, e o debate em Angola sobre a legitimidade democrática de uma eleição, não é apenas um passo em falso, mais um: é uma comparação que coloca um regime democrático como o nosso no mesmo patamar do regime iliberal de Luanda. Na minha perspectiva não é uma frase que apenas nos envergonhe, porque Marcelo afinal é o nosso Presidente – é uma frase que nos amesquinha e apouca.

Começo a pensar que Marcelo na Presidência não é apenas uma inutilidade, aqui e além um embaraço – com o passar dos meses e o acumular do desnorte começa a ser um problema.

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