segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

JOGARAM NO LIXO A LÍNGUA PORTUGUESA




 

Não imagino a língua castelhana vir a sofrer alterações na vizinha Espanha sob a justificação que poucos poderiam entender que no outro lado do mundo existem povos e nações que falam um castelhano diferente.

Nem percebi que alguma vez o Reino Unido tenha aplicado ajustamento no inglês que se fala em todo o mundo justificando que do outro lado do mar um maior número de pessoas falavam um inglês parecido, mas com modificações provocadas pelo decurso de tempo e novas influências.

O francês continua o mesmo francês, com a evolução natural que mesmo os idiomas sofrem com o tempo no seu espaço natural, não tendo sofrido alterações por negociações extraordinárias com os países que fizeram parte da francofonia.

Fernando Pessoa declarou que a sua pátria era a língua portuguesa, não esta nova língua que nos impingiram por decreto e para harmonizar a língua mãe com aquela que é falada nos países de língua oficial portuguesa.

Em cada espaço geográfico é natural e salutar que nos idiomas se venham a notar alterações, evoluções. Tal decorre naturalmente de serem vivas as línguas e se ajustarem a novas realidades, normalmente decorrentes das influências externas e do tempo e espaço.

O natural seria manter o português de Portugal como idioma mãe entre os países que falam este mesmo idioma. E observar com naturalidade que em cada um dos espaços onde se fala português as alterações na escrita e fonética são fenómenos que apenas confirmam a vida, as experiências e as influências que o tempo fazem sentir.

Alterar o idioma mãe para harmonizar os demais? Onde está hoje o português tal qual se fala? No Brasil? Em cabo Verde? Em Portugal? Em Timor? Qual o real, o verdadeiro, o que todos seguem? O que vale um acordo em tais matérias? Quantas vezes teremos de rever os acordos e ir alterando a nossa língua? E algum dia haverá algum tipo de uniformidade no modo como se escreve o português em cada um dos cantos do mundo? E isso interessará realmente, uniformizar, regulamentar, estabelecer preceitos? 

Quando um país altera a sua língua deve e pode fazê-lo face a alterações que se observam e decorrem de atualizações face a novas influências. Justificar essas alterações nos outros países parece-me, parafraseando Pessoa, assassinar a língua, e entende-se bem, corroer essa ideia de pátria.

O acordo ortográfico foi um atropelo de dimensões absurdas à Língua Portuguesa, aos portugueses e a todos aqueles que a utilizando criativamente e com genialidade a propagaram por todas as partidas do mundo.

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