quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ainda temos futuro? Que lhes parece?...

FMI arrasa futuro da economia nacional

Nem bancarrota nem ameaça ao euro dizem especialistas ouvidos pelo JN

ALEXANDRA FIGUEIRA E LUCÍLIA TIAGO


Mais desemprego e economia anémica. É esta a nova previsão do FMI para Portugal, numa altura em que os juros da dívida estão sob forte pressão. Economistas alertam para a enorme gravidade da situação do país mas afastam, para já, a possibilidade de bancarrota.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) está mais pessimista sobre a evolução da economia portuguesa do que estava há apenas três meses. Nas novas previsões, ontem divulgadas, considera que Portugal não crescerá além dos 0,3% em 2010 (menos 0,1 pontos percentuais) e de 0,7% no próximo ano - valores bastante mais modestos do que os estimados pelo Governo. No desemprego, as notícias não são melhores, apontando-se para uma subida (ver texto na página seguinte). A actualização das previsões coincidiu no tempo com uma forte pressão do mercado sobre a dívida pública, com os juros a registarem ontem a quarta subida seguida.

Os "fortes desequilíbrios orçamentais" são o motivo apontado para esta recuperação anémica da economia, pelo que fica o aviso do FMI de que a prioridade passa por "assumir compromissos credíveis relativamente à sustentabilidade da dívida" e pela necessidade de "inverter rapidamente" o "elevado défice". Esta advertência dirige-se não só a Portugal, mas também à Grécia, Espanha e Irlanda e a sua concretização permitirá acalmar os mercados financeiros.

Especialistas avisam

Daniel Bessa, João Duque e Nuno Sousa Pereira avisam: a situação económica e financeira do país é muito má e exige medidas concertadas entre os maiores partidos. Mas afastam um cenário de bancarrota alvitrado por vozes mais pessimistas, que têm comparado Portugal à Grécia. "Pelo menos para já", ressalva Sousa Pereira, director da Escola de Gestão do Porto (EGP), uma vez que o país tem "problemas estruturais graves, mas não está numa situação tão má quanto a grega".

O seu antecessor e actual presidente da Cotec, Daniel Bessa, não dá credibilidade às vozes mais alarmistas: "Ninguém, com um mínimo de responsabilidade, que eu saiba, falou em bancarrota", uma hipótese "expressamente excluída por medidas ainda recentemente aprovadas pela União Europeia", afirmou, referindo-se ao Programa para a Estabilidade e Crescimento (PEC).

Em termos hipotéticos, sublinha o presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), João Duque, há sempre o risco de entrar em incumprimento, mas a probabilidade de tal acontecer é remota. O mesmo se passa quanto à saída da moeda única, entende.

Daniel Bessa recusa ser Portugal uma ameaça à moeda única: "nem a Grécia nem Portugal têm dimensão suficiente para porem em causa a estabilidade da Zona Euro". Aliás, "se há país que pode ser uma ameaça é Espanha", concorda Sousa Pereira, que nem compreende como seria possível simplesmente deixar o Euro.

Em todo o caso, Bessa espera que "em momento algum" os responsáveis da Zona Euro, como o Banco Central Europeu, "cheguem ao ponto de porem o Euro em causa [devido à] ajuda que se disponham a prestar a um Estado-membro, seja ele qual for", disse.

Anestesia aristocrata

O presidente da Cotec olha em volta e vê só "raras e honrosas" excepções, pessoas dispostas a "alertar os portugueses para a gravidade da situação económica e financeira do país". As pessoas não estão, por isso, "convencidas nem da gravidade da situação nem da dureza das medidas que a mesma impõe". Ao invés, diz Sousa Pereira, a regra é a "anestesia da generalidade dos actores sociais".

Estando Portugal pressionado pelos mercados, o que fazer para sair dos holofotes? "Dar um sinal de coesão", diz João Duque que, por isso mesmo, critica a "postura de aristocrata arruinado" do Governo face à necessidade de se entender com a Oposição para aprovar as medidas do PEC. "O Governo devia aceitar esta disponibilidade do PSD para mudar o PEC".

Sobre se Passos Coelho e Sócrates têm condições para se entenderem, Sousa Pereira não tem dúvidas: "Não vão ter alternativa".


in Jornal de Noticias de 22 de Abril de 2010
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1550162

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